Entrega da Comenda Zumbi dos Palmares (Foto: Secom Maceió)

A sessão da Câmara Municipal de Maceió desta segunda-feira (23) foi marcada pela comemoração do mês da Consciência Negra. A casa entregou comendas e homenagens a pessoas e entidades que se destacam por defender e prestar serviços relevantes na área de valorização e cultura étnico-racial.

O secretário municipal de Comunicação Social (Secom), Clayton Santos e o presidente da Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac), Vinícius Palmeira, foram homenageados. Eles receberam a Comenda Zumbi dos Palmares (instituída por meio da Resolução nº 492, de 9 de agosto de 1988).

Para Clayton Santos, embora Alagoas carregue a história do movimento negro e de Zumbi dos Palmares, ainda há muito o que superar o momento é de reafirmação, luta e orgulho da cultura negra. “Essa comenda é um convite à reflexão. Ela presta uma homenagem à trajetória pessoal, mas também à trajetória enquanto gestor na Prefeitura. Isso nos deixa muito honrados e alegres, mas não podemos deixar de pensar que momentos como este nos levam a refletir sobre essa batalha contra o racismo e a discriminação racial”.

“Essa batalha tem que ser de todos. Os movimentos que militam em defesa desta causa têm um papel importantíssimo, mas toda a sociedade, independente de militância, pode e deve ser um defensor desta causa e isso acontece nas ações do cotidiano. O combate ao preconceito racial deve ser uma bandeira de todo o cidadão, independente de cor, raça, credo, posição social ou escolaridade”, enfatizou Clayton.

Para Vinícius Palmeira, ser agraciado e ver o trabalho reconhecido é motivo de satisfação, mas também de consternação, visto que a população negra ainda sofre resquícios do período de escravidão no País.“Agradecemos a menção e a honra, mas a luta continua. Ainda temos muito a fazer”, disse o agora comendador. “O racismo ainda faz parte na nossa vida em diversos ambientes. Temos que ir de encontro a esse pensamento. A cultura negra está entranhada em nossa cultura. Nós somos negros. Nós somos o Brasil de todas as cores, credos e raças”, afirmou.

Cras Sônia Sampaio recebe paleA Fmac desenvolve um trabalho voltado à cultura de matriz africana e o segmento afro tem assento no Conselho Municipal de Políticas Culturais. Durante o mês de novembro, o órgão promove a celebração da cultura negra com o Saurê Palmares. A jornalista Luíla de Paula e Lima foi homenageada com a entrega da Comenda Dandara.

As comendas Dandara e Zumbi dos Palmares foram propostas pela vereadora Tereza Nelma, que comentou o momento e justificou suas indicações. “Desde 2013, estamos acompanhando a valorização e abertura para o 20 de novembro de pessoas comprometidas com a questão do movimento negro, como Saurê Palmares e Quebra de Xangô”, disse Tereza.

Já a vereadora Fátima Santiago propôs a Comenda Zumbi dos Palmares para a Banda Afro Mandela, a Comenda Dandara para o grupo Afoxé Oju Omim Omorewá e o título de cidadão honorário para Eduardo Passos. “Hoje é um dia de festa para esse segmento afro que tanto precisa ainda de visibilidade e de conquistas. Já temos leis e ação afirmativas, mas queremos ações efetivas que venham diminuir esse preconceito que nada tem a ver com a modernidade. Queremos viver numa irmandade, com fraternidade, com união, respeito e respeito à diversidade”.

Homenageados

Licenciado em dança pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e com uma vida inteiramente dedicada à cultura afro, o professor Eduardo Passos recebeu o título de cidadão honorário de Maceió. Ele falou da satisfação de se tornar maceioense de forma oficial. “Fico muito feliz por ser reconhecido pelo meu trabalho. Sou mineiro, mas tenho 30 anos de Maceió. Eu me tornei o pioneiro da dança afro no Estado, sou professor de dança no Centro de Belas Artes de Alagoas e ensino dança afro e expressão corporal desde 1986”.

Filomena Félix, que também é servidora municipal pela Fmac, é atuante no movimento negro desde muito jovem e há 30 anos está à frente da Banda Afro Mandela. Ela já recebeu a mesma comenda há quatro anos e hoje voltou para receber a homenagem em nome do grupo, que foi o primeiro grupo afro a atuar em Alagoas. Ela fez um alerta contra o alto índice de violência que vitima jovens negros e destacou o resgate dos grupos culturais como forma de mudar essa realidade.

“Estamos tentando fazer o resgate e um trabalho com que os jovens se identifiquem e venham para junto da gente. Precisamos do apoio do poder público e da comunidade em que vivemos”, disse Filomena. Para ela, a entrega dessas honrarias é uma forma de valorizar o trabalho que vem sendo desenvolvido pelos homenageados e mostrar que essas ações merecem reconhecimento, devem ser compartilhadas e a população deve se apropriar disso para que o elo com a cultura não se perca.