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Jovens Empreendedores reciclam papel e aprendem lições para toda a vida

17/10/2014

IMG_20141007_103311967.Mariana_LimaOlhos focados, semblantes concentrados, posturas adequadas, embora alguns pés ainda não toquem o chão. A reunião é entre os 17 líderes das turmas do 6º ao 9º ano e a direção da Escola Sesi Industrial Abelardo Lopes sobre a organização da II Feira do Jovem Empreendedor. Os alunos são, também, empresários que irão vender seus produtos na feira, fruto das mini empresas montadas por cada turma em 2014 no Programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP), realizado em parceria com o Sebrae em Alagoas.

O objetivo do programa é transmitir uma educação empreendedora aos estudantes do ensino fundamental, de forma lúdica e com as corretas ferramentas pedagógicas para que eles desenvolvam atributos e atitudes necessários para a gerência da própria vida pessoal, profissional e social. Utilizando a estrutura de uma mini empresa com temas pré-estabelecidos, os alunos podem debater desenvolvimento sustentável enquanto são apresentados à estrutura e ao planejamento de um negócio próprio.

“O empreendedor é aquele aluno que deseja ser um médico, advogado, professor, nutricionista e descobre que, com a competitividade do mercado, ele tem que ter um diferencial para se sobressair nessa concorrência acirrada. Para isso, ele vai buscar informações, usar a rede de contatos, planejar-se para uma pós-graduação, mestrado ou doutorado”, explicou Isabel Barcellos, analista da Unidade de Capacitação Empresarial (UCE) do Sebrae em Alagoas e coordenadora do JEPP no estado.

O JEPP é aplicado em todas as turmas do Ensino Fundamental da Escola Sesi desde 2013, ao lado da disciplina Empreendedorismo, que integra a grade curricular normal. Os resultados do incentivo à autonomia e responsabilidade entre os alunos podem ser observados no dia a dia da escola, em casa, ou mesmo no comportamento dos jovens de 11 a 15 anos durante a reunião citada acima.

Sem conversas paralelas ou distração, os 17 líderes de sala escutam informações sobre estrutura, custos de montagem, patrocínios e parcerias, demonstrando familiaridade com os termos. Alguns levaram cadernos e bloquinhos para realizar as anotações, outros usaram pedaços de papel. Dois alunos, pegos de surpresa, anotaram dados importantes na palma da mão, enquanto o líder de uma das turmas do 9º ano pede para levar a planilha de orçamento para apresentar aos colegas de empresa.

O espírito de crianças do grupo, no entanto, escapa ao verem a distribuição das cores das camisas de cada turma na Feira – alguns comemoram as cores mais legais, outros soltam um triste “ah, não”. “Despertamos e cultivamos neles o espírito empreendedor, atentos para manter a criatividade do aluno sempre em exercício. É uma preparação para o mercado de trabalho, mas sem perder a ludicidade”, comentou Zózima Ferreira, supervisora das turmas do 6º ao 9º ano.

Aprendendo valores

Líderes das turmas do 6º ano, Renata Santos, Luma Vitória, Ruth Gabriele e Maycon Douglas explicam como funcionam as empresas de ecopapelaria que suas turmas montaram. No grupo, apenas Renata completou 12 anos, os outros três estão com 11 anos de idade.

“Eu sou novato na escola, e o pessoal foi falando em ‘JEPP isso, JEPP aquilo’, e eu não sabia o que era. Aí o professor começou as aulas, trouxe o tema, deu algumas sugestões de produtos e ajudou a gente a organizar a empresa. Ecopapelaria tem a ver com reciclagem e os produtos que a gente pode fazer com papel e caixas de leite”, contou Maycon.

A aluna Ruth Gabriele fala mais do processo de definição de produtos e materiais. “Durante uma aula, nós fomos para a Sala de Informática para pesquisar produtos feitos com papel, quais eram e como eram feitos. Aí a gente fez experiências em casa, para saber o que dava certo ou não”, ressaltou Ruth. A empresa dela decidiu trabalhar com jogos americanos, porta copos, descanso de panelas e bolsas feitas com caixas de leite.

E a proposta do programa está sendo entendida por cada um deles. “O objetivo da escola é ensinar a gente a reciclar e não poluir. Por exemplo, eu posso usar a caixa de leite que a minha mãe comprou para produzir algo novo”, disse Luma, a menor do grupo e a única que é veterana na escola, pois já participou do Jovens Empreendedores Primeiros Passos. Perguntada se conseguiu arrecadar um bom valor na Feira do ano passado, ela responde com uma confirmação dos objetivos do JEPP.

“Eu vi que é preciso comprometimento, responsabilidade, organização das tarefas e trabalho em grupo. A gente fez uma pré-venda para arrecadar dinheiro para produzir para a Feira, e quem deu o nome teve que participar. E o JEPP ajudou duas meninas lá da sala que são brigadas a conversarem e se unir”, lembrou Luma, já se apoiando na mesa, debruçada para frente, conversando com concentração e muito interesse.

A líder Renata passou por um caso parecido em sua primeira experiência com o JEPP. “Eu sou a líder da sala, mas não da empresa. A gente teve um problema na turma porque a líder da empresa achava que, por ela ser a líder, não precisava trabalhar com a gente, só falar. Aí a professora juntou todo mundo, a turma conversou e conseguimos arrumar a situação. Todo mundo trabalha em conjunto, e depois da Feira a divisão do dinheiro vai ser igual para todos, mesmo que na sua escola você venda menos produtos”.

Todos falam que passaram a administrar melhor o dinheiro: as meninas não gastaram a sua mesada no dia seguinte ao que receberam o dinheiro, e Maycon disse que conseguiu guardar o que ganha dos pais e avós para comprar a capa do notebook. “Eu não saio correndo mais para gastar o que recebo com a compra de novas maquiagens, eu já fico mais calma e guardo para ir usando o dinheiro aos poucos”, assumiu Renata.

Feira e oficinas

O foco dos alunos do 6º ano agora está na realização da Feira do Jovem Empreendedor, evento que encerra a programação do JEPP a cada ano. As miniempresas montam suas barracas, vendem os produtos e aproveitam os lucros de seu trabalho.

A edição de 2014 está marcada para 19 de novembro, no Espaço Multieventos do Ginásio do Sesi. A fabricação dos produtos que serão vendidos é feita na própria escola, durante oficinas específicas, com orientação dos professores – a próxima será realizada entre 20 e 24 de outubro.

“Desde as primeiras oficinas, cada aluno assume uma função na empresa e, na semana de prática, eles adotam mesmo a postura empreendedora. Eles agem de acordo com a responsabilidade que possuem e respeitam o espaço do colega de trabalho. Percebemos uma mudança muito grande”, disse a supervisora Zózima Ferreira.

Sobre a semana de oficinas, garotas e garoto defendem que o melhor é trocar ideias com os colegas. “Por mais que a pessoa não seja da sua empresa, você conversa com ela, vê o que ela está fazendo e dá a sua opinião”, falou Renata, que logo é apoiada por Ruth. “As pessoas trocam ideias, pedem opinião mesmo. Fica todo mundo preocupado com a empresa, em trazer os papéis e fazer tudo direitinho”, concluiu a aluna.

Ecopapelaria

Entre os materiais preferidos pelas turmas de ecopapelaria estão o papel comum e o papelão. Eles podem não ter percebido ainda, mas já integram uma lucrativa empresa de reciclagem. De acordo com a associação sem fins lucrativos Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), 29,8% do papel que circulou no País em 2012 retornou à produção através da reciclagem. Esse índice corresponde a, aproximadamente, 955 milhões de toneladas.

Historicamente, o papelão tem apresentado taxas de reciclagem altas. Desde o início da década de 90 que os índices variam entre 70% e 80%. No ano de 2012, 73,3% (3.393.000 toneladas) do volume total de papelão consumido no Brasil foi reciclado.

A reciclagem é tradicional no setor papeleiro. As fábricas são abastecidas por uma grande rede de aparistas (empresários que compram resíduos de papel), cooperativas e outros fornecedores de papel pós-consumo, recuperando matérias-primas que serão novamente inseridas no ciclo de consumo. Essa cadeia produtiva gera empregos e renda, movimentando a economia.

Sobre o JEPP

O Programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP) procura despertar o espírito empreendedor e o protagonismo juvenil em crianças e adolescentes por meio de atividades lúdicas no ambiente da aprendizagem, estimulando os estudantes a assumirem riscos calculados, tomarem decisões e terem um olhar observador para que possam identificar, ao seu redor, oportunidades de inovações, mesmo em situações desafiadoras.

Tem como eixos centrais “Comportamentos Empreendedores” e “Planos de Negócios”, e como eixos transversais “Cultura da Inovação”, “Cultura da Cooperação”, “Ecossustentabilidade”, “Ética” e “Cidadania”.

É um programa do Sebrae Nacional que surgiu em 2001, no Sebrae em São Paulo. Hoje, é aplicado nas escolas públicas municipais, rurais, particulares e industriais para alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental, em todos os estados da federação e no Distrito Federal. As temáticas trabalhadas por série são padronizadas para todo o programa, com aplicação adaptada à realidade de cada escola.

Em Alagoas, o projeto está em três escolas municipais e em quatro particulares de Maceió: a escola do SESI, duas escolas nos municípios de Craíbas e Mar Vermelho e duas escolas rurais em Palmeira dos Índios, uma delas situada em uma comunidade quilombola.

 Fonte: Assessoria