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Nova mestra do Patrimônio Vivo mantém tradição há 20 anos

21/08/2014
Nova mestra do Patrimônio Vivo mantém tradição há 20 anos
Mestra Bertu, além de ensinar a dança e as músicas tradicionais do folguedo natalino, também confecciona todas as vestes e adereços do grupo (Fotos: Paulo Rios)

Mestra Bertu, além de ensinar a dança e as músicas tradicionais do folguedo natalino, também confecciona todas as vestes e adereços do grupo (Fotos: Paulo Rios)

  Bertulina Nunes Barbosa ou Bertu, como é mais conhecida, é professora e também se dedica à costura. Porém, é a coordenação do Pastoril Mensageiro da Fé a atividade que ela considera como mais importante, a qual ela se dedica há mais de 20 anos no povoado de Riacho Velho, em Marechal Deodoro. Nesta segunda reportagem da Série Mestres do Saber, a Agência Alagoas mostra a história da mais nova mestra do Patrimônio Vivo de Alagoas.
Desde criança, Bertulina se encantou com a dança e a graciosidade do Pastoril, uma das mais representativas manifestações populares de Alagoas. “Quando conheci o Pastoril ainda era menina, mas me encantei completamente. Participei dançando, na época”, relembra. O encantamento da infância não se acabou com o passar dos anos até que Bertu teve, finalmente, a oportunidade de criar um grupo de Pastoril na Escola Municipal Jonas de Oliveira Pinto, onde lecionava.
Natural de Marechal Deodoro, mestra Bertu também morou anos em Maceió e depois se mudou definitivamente para Riacho Velho. Lá, ela levou várias gerações de jovens e crianças da região a brincar o Pastoril, a partir de 1994. “O povo daqui nunca tinha visto um Pastoril, não sabia o que era. Formei o grupo em 94 e o organizei ainda na escola, depois continuei à frente do grupo com as pessoas da comunidade, sempre com entusiasmo”, relatou.
O pastoril Mensageiro da Fé, formado por 19 integrantes, se apresenta em Maceió e Marechal Deodoro, incluindo os povoados Massagueira e Barra Nova. O grupo também realiza apresentações em uma associação situada próximo ao povoado, que reúne alagoanos e estrangeiros.
Além de ensinar a dança e as músicas tradicionais do folguedo natalino, executando jornadas completas – histórias cantadas que fazem referência à religiosidade, louvando o menino Jesus – já conhecidas e outras criadas por ela, a mestra confecciona os trajes dos cordões azul e encarnado, típicos do folguedo.  “Faço com muito gosto. Tenho muito prazer em cuidar de cada detalhe, desde as roupas aos adereços, como o pandeiro com cabo enfeitado de fitas utilizado pelas pastoras”, ressaltou.
O entusiasmo das meninas em participar do cordão da mestra Bertu é grande, e ela se orgulha em dizer que atualmente até a figura do pastor é disputada entre os meninos da localidade. “As meninas me procuram sempre que há vaga no grupo. E antes havia dificuldade de encontrar um menino para ser o pastor, mas hoje eles até disputam a vaga”, disse.
Na última semana, a mestra de Pastoril foi contemplada com o Registro de Patrimônio Vivo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), que também foi dado ao mestre santeiro Claudionor Higino. “Recebi o comunicado e fiquei muito emocionada. Não esperava, foi uma surpresa grande. É maravilhoso ter sido reconhecida desta forma”, destacou. “O Pastoril é tudo para mim, sou realmente apaixonada por isso. Quando vejo a apresentação do Pastoril, tenho uma satisfação imensa”.
Pastoril – O tradicional folguedo alagoano é formado por dois cordões de pastoras, um azul e outro encarnado (vermelho), que se apresentam cantando jornadas soltas. A figura Diana fica no meio e defende os dois cordões. Durante as apresentações, o público compra os votos de seu cordão favorito. Ao final, com a apuração dos votos, a pastora mais votada é coroada rainha. Outras figuras do pastoril são a cigana, a borboleta e o pastor.