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Aldemar Paiva

O primeiro grande passo para as comunicações em massa aconteceu quando, dominadas as ondas artesianas, o homem começou a transmitir mensagens através do rádio, atingindo grandes distâncias, à velocidade do som, em fração de segundos. Eu era menino e me acostumara a acompanhar as tentativas dos adultos, nem sempre bem sucedidas, na busca de sintonizarem estações que lhes trouxessem mensagens do mundo lá fora, através das antenas, estrategicamente plantadas nos pontos mais altos das residências. Transcorria o ano de 1948 e Maceió era uma das poucas capitais brasileiras que ainda não próprios. É de se imaginar, pois, a alegria e a ansiedade com que recebemos, na data da emancipação do Estado, a notícia da inauguração da Rádio Difusora, com prefixo ZY04, euforicamente alcunhada “a caçula das Américas”, que funcionaria em ondas médias.
Foi uma festa que nos fez conhecer e passar a identificar, quase como membros da família, nomes até então estranhos para nós. Foi o caso de Aldemar Paiva, assistente artístico da nova emissora. Ao lado de Mário e Francisco Marroquim, de Josué Júnior e de Lima Filho, ele integrava a primeira diretoria da recém nascida entidade.
Esta, a primeira lembrança que guardo de Aldemar, o grande radialista alagoano que, após servir com talento e dedicação à imprensa falada de nossa terra, foi capturado pelos insistentes apelos de nossos vizinhos pernambucanos e migrou para Recife. Ali, a versatilidade de sua cultura o fez fixar-se e ser tratado como um dos monstros sagrados da radiofonia nordestina.
Contemporâneo dos tempos áureos do rádio pernambucano, atuou nas melhores estações da capital Mauricéa. Arquiteto de sonhos e exímio contador de histórias, participou de inúmeros e variados programas, conquistou ouvintes com sua tonitruante voz e, com a força de seu carisma, sedimentou companheirismo. Mestre na arte de fazer e conservar amigos, jamais se distanciou de suas raízes alagoanas, onde sabe possuir, por méritos próprios, o aplauso e a admiração dos conterrâneos que jamais o esqueceram. Com produção intelectual que não se restringe, apenas, ao sucesso radiofônico, sua pujante inteligência também se revela nos textos que escreve, em prosa e em verso, de forma jocosa ou em abordagem clássica, sempre emprestando um toque de simplicidade à palavra escrita, recriando e reinventando histórias que a tradição popular remete às outras gerações.
O seu livro, Monólogos e Outros Poemas, mereceu da crítica as melhores referências, e de Chico Anísio, o “papa” do humorismo nacional, que o prefaciou, verdadeira consagração, quando aludiu ao “romantismo e à criatividade que transformaram Aldemar Paiva em parceiro de Nelson Ferreira em letras musicadas pelo grande compositor como Pernambuco, Você é Meu, Frevo da Saudade, e Evocações, escrita em homenagem ao poeta Manoel Bandeira”.
O Causo que Eu Conto, publicado em 1997, é uma coletânea de pequenas e interessantes histórias, capazes, por si só, de perpetuar o nome do autor como humorista, e também como memorialista quando surge um Aldemar que, segundo o ex-ministro Abelardo Jurema, “é uma verdadeira antologia humorística do Nordeste, sabendo coisas fabulosas, sobre usos, costumes, tradições regionais e a vida de inúmeros de nossos principais artistas, com quem conviveu durante sua longa e vitoriosa trajetória radiofônica.” Pernambucano de Alagoas, é assim que seu nome deverá ser perpetuado no tempo, para que a posteridade conheça e julgue todos os pendores e fecundidade espiritual desse artista privilegiado.
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