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Festa íntima na Praia da Sereia

08/03/2014
Festa íntima na Praia da Sereia

O fato se deu no final dos longínquos anos 60. Depois das aulas, minha turma de Faculdade de Engenharia reunia-se na Pizzaria Sorriso, Praça Sinimbu, para uma cerveja e traçar planos noturnos. Ao anoitecer de uma quinta-feira entrei na pizzaria, logo recebi o convite, participar de uma festinha íntima. Algumas jovens foram selecionadas, convidadas, era só levá-las para noitada num bar escondido para banda da Praia da Sereia. Confesso, o convite me abalou, cheguei a pensar em dar um bolo na namorada, havia marcado um cineminha, a última seção do São Luiz. A paixão foi maior, agradeci aos amigos, fui ao cinema onde a namorada me aguardava.
Dia seguinte havia aula às 8:00 da manhã, depois de tomar o generoso café da Dona Zeca, minha mãe, dirigia o carro em direção à Faculdade, ao ligar o rádio, estava sintonizado num programa de ronda policial, o locutor escandaloso esbravejava contando os acontecimentos da noite:
“E atenção para essa notícia da juventude transviada. Um bando de xexelentos, rabugentos, filhinhos de papai, estudantes da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Alagoas, promoveu um bacanal na praia da Sereia acompanhados de raparigas de Maceió, todo mundo nu na praia fazendo anarquia e arruaça. A depravação era tanta que uma moradora da redondeza chamou a Rádio Patrulha. Todos foram recolhidos a 1ª Delegacia de Polícia da Capital”.
Logo percebi que os xexelentos eram meus colegas. Agradeci à namorada por não ter entrado nessa fria. Na Faculdade, um dos colegas soltos, contava a proeza, às gargalhadas.
Os meninos saíram em dois carros e um jipe, com as meninas convidadas para a festinha na praia. Partiram sete homens e oito mulheres para a belíssima Praia da Sereia. No bar, desceram cerveja, cachaça, rabo de galo, tira-gosto de camarão, panã, siri, cioba. Todos a festejar e cantar. A animação prosseguiu, um dos colegas tocava divinamente flauta, deu um show tocando músicas de Chico Buarque e Caetano. A cachaça rolava. Alguns mais apressadinhos davam uma saída para deitar-se na areia da praia com a parceira, amar com os corpos rolando, se lambuzando, se melando de areia da praia, pareciam dois filés à milanesa.
Em certo momento, o tocador de flauta teve a idéia:
“Está tudo muito bom, festa arretada, mas sugiro para animar mais um bocadinho, já que é tarde da noite e não tem vizinho por aqui, seguinte: Vamos brincar de pega! Todo mundo. As meninas saem correndo na frente, depois delas desaparecerem a gente corre atrás pegá-las. Quem conseguir agarrar, leva a menina para o mar, ou para qualquer lugar para fazer o que bem quiser. A ordem é essa”.
A sugestão foi aceita por unanimidade. Logo estavam os 15 festeiros como vieram ao mundo. As mulheres correram praia a fora; dois minutos depois foi a vez dos homens. Na noite de lua se viam vultos correndo e ouviam-se os gritos das jovens se escondendo dos caçadores, apimentando a brincadeira. Já durava meia hora de corre-corre, quando apareceu um carro em marcha lenta com luz alta acesa, focando os alegres jovens que brincavam de pega. Ao focar um dos estudantes pegando uma bonita morena, o colega se virou, e gritou alto:
– Apague essa luz, seu filho …!!!
O carro parou, saltaram três policias com cassetete na mão e revólver nos quartos, era a Rádio Patrulha. Prenderam o casal. O comandante chamou todos naquele instante. O pessoal foi se achegando para o bar, vestindo a roupa. Um dos estudantes apresentou-se como tenente da reserva do Exército. O sargento comandante da patrulha esclareceu: houve uma ligação de um capitão do Exército morador da redondeza, pedindo para acabar a festinha.
Todos foram convidados à comparecer à delegacia em Maceió. Ao chegar, trancaram as mulheres no xilindró. Os estudantes comovidos pediram para liberar as meninas, afinal eram apenas convidadas. Chegaram a um acordo: os homens iam para casa, as mulheres logo depois eles soltavam. Não cumpriram o acordo, elas dormiram na delegacia. Jornalistas se encarregaram de espalhar a notícia do bacanal nas rádios e jornais.
Por favor, não me peçam para dar os nomes dos engenheiros da festinha da praia da Sereia. Hoje são todos autoridades.