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A questão não é só salário
Estamos todos em busca da excelência. É um objetivo comum. Quando reparamos nas peripécias das correções das provas do Enem, por exemplo, ficamos um pouco assustados. Estaríamos chegando próximos ao estágio em que o escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez (prêmio Nobel de Literatura) pediu para aposentar a gramática? Segundo ele, “é o terror dos seres humanos desde o berço.” Não é exatamente a nossa opinião, mas devemos ter maiores cuidados com as avaliações em curso.
Resolver a questão do magistério entre nós não é tão simples como parece. Parte da opinião pública está convencida de que tudo se resume em pagar melhor aos professores, mas quem dera que fosse só isso. Os mestres reclamam muito das chamadas condições de trabalho – e com toda razão.
Sobretudo nas escolas públicas, há um desleixo fenomenal. É difícil caracterizar de quem é a culpa. Posso lhes dar um exemplo: quando assumi a Secretaria de Estado de Educação e Cultura do Rio de Janeiro, em 1979, visitei a cidade de Campos dos Goitacazes (RJ). Havia uma greve ilegal, mas justa. Estive na Escola Estadual Antonio Sarlo, uma das maiores da região, e fiquei horrorizado com as condições de insalubridade do estabelecimento de ensino. Banheiros fétidos, paredes rachadas, pintura completamente envelhecida. Determinei que ali fosse feia uma ampla reforma. A escola transformou-se num belo modelo de educação rural.
Em outra ocasião, de volta da Região dos Lagos, li no jornal O Fluminense, que a E.E. Leopoldo Froes estava em petição de miséria. Pedi ao motorista que desviasse o caminho e fomos parar em Pendotiba (Niterói – RJ), para conhecer a escola. Que decepção! Uma sujeira imensa, escadas quebradas, lousas partidas, carteiras semidestruídas. Mandei chamar a diretora. Não estava. Tinha ido resolver problemas particulares, o que, aliás, fazia sempre. Pedi que fosse substituída. Depois de seis meses de reforma, a escola ficou um brinco. Mas a comunidade não se integrou ao projeto. Passou-se um tempo e tudo foi novamente destruído, sobretudo nos fins de semana, quando o espaço era aberto aos vizinhos, para a prática desportiva. Aprendi a lição de que se deve trabalhar sempre intimamente com a comunidade circundante.
Agora, em Búzios, balneário fluminense, que ficou famoso internacionalmente por causa da temporada lá vivida por Brigitte Bardot, estive na bem sucedida I Feira Literária. Ao falar para professores e alunos, um dia depois de Maurício de Sousa, tive o prazer de participar de um proveitoso debate, em que ocorreu um fato interessante. Contei sobre a surpresa da visita feita há tempos a uma escola do interior, em lugar bem pobre. Ao chegar, na comitiva oficial, fui à sala da diretora, mulher simples, que tinha a sala limpa e uma flor vermelha na janela. Felicitei-a e a resposta veio pronta: “Não sei trabalhar em ambiente diferente. Aprendi a gostar de flores com a minha mãe.” Uma professora de Búzios, ao ouvir a história, alteou a voz e disse: “Faço isso sempre. Os alunos gostam.”
Vejam, pois, que as condições da escola podem também depender do capricho da direção, que dá o melhor exemplo. É um recado importante.
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