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Ismar de Goes Monteiro
O Brasil rejubilava-se com novo Regime de Governo e Afonso Pena iniciava a sua gestão como Presidente da República, inaugurando uma administração marcada por tensas relações entre o Poder Executivo e o Congresso. Eram dados os primeiros passos no sentido do estabelecimento de uma política de valorização do comércio cafeeiro, ameaçado pela superprodução e pela queda de preços no mercado internacional.
Foi naquele ano, 1906, e nesse cenário, nos albores da jovem República, que Ismar de Goes Monteiro veio ao mundo, em Alagoas, no seio de uma família numerosa. Filho do médico Pedro Aurélio Monteiro dos Santos e de Dona Constança Cavalcanti de Goes Monteiro, descendia de proprietários de engenhos, cujos métodos coloniais de produção de açúcar estavam aos poucos sendo substituídos pelas técnicas modernas das Usinas que, durante muitas décadas, haveriam de dominar a economia nordestina.
Era um, entre nove irmãos, alguns dos quais, como ele, predestinados a ter atuação destacada na vida política de Alagoas e do País: Pedro Aurélio, o mais velho, líder militar da Revolução de Trinta que instaurou o Estado Novo, duas vezes Ministro da Guerra, Senador por Alagoas no período de 1947 a 1951 e Ministro do Superior Tribunal Militar; Cícero, que tomou parte ativa na Revolução de Trinta e morreu em combate contra os revoltosos paulistas, em 1932; Manoel César, Senador por Alagoas, de 1935 a 1937; Edgar, nomeado Interventor de Alagoas, em 1945 e Silvestre Péricles, também Senador e Governador de Alagoas, entre 1947 e 1951.
Essa é a estirpe dos Goes Monteiro que muito deve de sua têmpera à fortaleza de caráter e à obstinação de Constança Cavalcanti, verdadeira matriarca nordestina que, com pulso firme e ânimo inquebrantável, soube moldar a personalidade dos filhos, após a morte prematura do chefe da família, aos quarenta anos de idade.
É verdade que a luta pelo poder e as dissensões políticas dividiram, em muitas oportunidades, os irmãos Goes Monteiro. O temperamento arrebatado e combativo, característico da família, levou os desentendimentos a proporções trágicas em que houve mortes e derramamento de sangue. O tempo, no entanto, acalmou as paixões e dissipou os ódios, deixando intangível o prestígio e a influência singular que os Goes Monteiro exerceram na História de Alagoas e do Brasil, ao longo de quase três décadas.
Muito cedo, Ismar de Goes Monteiro optou pela carreira das Armas. Cursou a Escola Militar de Realengo e, em 7 de janeiro de 1927, foi declarado aspirante-a-oficial. Em 1941, já havia ascendido ao posto de Major, e é nessa altura de sua carreira que, impelido pela predestinação que envolveu toda a sua família no torvelinho dos acontecimentos da época, ingressou na vida política, como Interventor de Alagoas, no período de 1941 a 1945.
Jovem e impetuoso, sua gestão à frente do Governo do Estado foi marcada pelo combate sistemático ao banditismo, que ainda grassava pelos sertões alagoanos, e pelas judiciosas medidas administrativas que muito contribuíram para reorganizar as finanças estaduais e dar maior eficiência aos serviços públicos.
Nessa época, com o término da Segunda Guerra Mundial e a derrota do nazi-fascismo, o Brasil começou a receber os bafejos dos ventos de redemocratização e da liberdade que culminaram com a deposição de Getúlio Vargas, em 29 de outubro de 1945.
Naquela ocasião surgiram os primeiros grandes partidos políticos nacionais, entre os quais o Partido Social Democrático, a que logo se filiou o então Tenente-Coronel Ismar, candidatando-se a uma vaga no Senado Federal, nas eleições convocadas para formação da Assembléia Nacional Constituinte que haveria de promulgar, em 16 de setembro de 1946, a quarta Constituição republicana.
A gestão de Ismar de Goes Monteiro, à frente do Governo de Alagoas havia, em verdade, merecido a aprovação popular, inequivocamente expressa na sua eleição para o Senado Federal, em 2 de dezembro de 1945, com uma margem expressiva de votos, sob a legenda do PSD, onde teve destacada e brilhante atuação, como Senador e como Constituinte.
No Exército, galgou todos os degraus da hierarquia militar, até o posto de General, sempre com promoções por merecimento, sendo agraciado com diversas comendas militares entre as quais se destacam a Medalha da Guerra e a Medalha da Ordem do Rio Branco, que lhe foram conferidas em razão dos relevantes serviços prestados ao Exército e ao País.
Com a consciência tranqüila pelo cumprimento de seus deveres de cidadania, faleceu no Rio de Janeiro, após profícua e longa existência, cercado do carinho e do respeito de seus familiares e amigos.
Rendemos nossa homenagem ao Senador Ismar de Goes Monteiro, misto de estadista e de militar, como reconhecimento por tudo que ele fez por Alagoas e pelo Brasil.
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