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Ribamar assumiu
Quem diria… O Ribamar assumiu, saiu do armário. A notícia foi um choque. Amigos, colegas de trabalho, a família, ainda estão perplexos, de queixo caído, sem acreditar na história de Ribamar. Seus filhos estão transtornados. Martinha, ex-esposa, hoje inimiga número um, às gargalhadas, espalha a nova, tem boiola novo no pedaço, ela completa: “Eu bem desconfiava!”
Nenhum amigo suspeitou, o maranhense é qualhira. Feito São Tomé, só acreditei ao encontra-me com o próprio Ribamar acompanhado de um amigo no Bar do Pelado. Eu saboreava uma arabaiana ao molho de camarão, ele sentou-se à mesa contou-me fatos detalhados de sua vida, como assumiu a sua sexualidade sem remorso. Não parou de falar, nem para respirar.
“No final dos anos 70 saí do Maranhão, minha terra, vim trabalhar em Maceió no Banco do Brasil. Gostei, por aqui fiquei, constitui família, considero-me alagoano. Só agora, depois dos 50 anos, assumi minha sexualidade, sou homossexual meu irmão, aliás, bissexual, ainda gosto de mulher. Passei a vida me reprimindo, quando eu bebia tinha vontade de tocar nos amigos, entretanto, me segurava, tinha medo da desmoralização, do escândalo. Eu já desconfiava de minha sexualidade desde menino quando brinquei de troca-troca em São Luiz com os amigos.
Para não me torturar em dúvidas, namorei com Martinha, aquela linda morena da praia de Pajuçara, cobiçada por muitos, entretanto ela me queria. Não tivemos muito tempo de namoro, nos casamos, nasceram dois filhos. Mesmo assim, em vez em quando minha homossexualidade aflorava. Tive problemas, brigas homéricas com Martinha, inconsciente, era minha vontade sexual reprimida.
Depois de 20 anos de casados, muitas brigas, muito desentendimento, nos separamos. Martinha hoje me detesta, me destrata onde estiver, está com a língua solta tentando me destruir..
Há três anos frequento uma psicóloga de rara competência, ela puxou tudo de mim, depois de algum tempo de tratamento, a doutora me preparou para eu assumir minha sexualidade, hoje digo sem remorso, sem importar para o que pensem, sou bicha, bicha mesmo, adoro dar.”
Nem deixou eu comentar aquela revelação, reiniciou seu relato:
“Digo uma coisa, estou agora na linha de frente na luta contra a homofobia, tornei-me batalhador da causa das minorias sexuais tão discriminadas. O único problema é a aceitação de meus dois filhos, sei que é difícil, mas um dia me tornarei um homem feliz quando eles me aceitarem como sou. Tem mais, vou me casar (passou o braço por cima do amigo), eu e Dirceu estamos noivos, marcamos nossa união para março, você está convidado…”
Ribamar não parou de falar, eu só escutando, conversa de xiita engajado na luta dos homossexuais. No final tirei uma conclusão, jamais Ribamar retornará à categoria dos machos, cabeça feita, a psicóloga transformou o maranhense.
Ele aproveitou a ocasião, explicou a questão da melhor forma científica, segundo sua psicóloga.
“A pessoa não se transforma durante a vida, a homossexualidade vem do berço, alguns com mais teor, assumem cedo, outros só assumem quando se dá o que os alemães chamam de “Trema”, o período de incerteza por quem passa uma pessoa que venha desenvolver uma paranóia ou um estado indefinido de identidade sexual, como acontece com adolescentes que irão se definir posteriormente a essa incerteza em homossexuais assumidos ou bissexuais ou heterossexuais.
Amigo, você entendeu? Então se o senhor tem vontade de abraçar um amigo com mais força ou de beijá-lo, tem vontade de segurar ou outro gesto qualquer, não se acanhe, hoje em dia é normal, o terceiro sexo já está em segundo lugar, vá a um médico, peça ajuda, depois do TREMA, faça como Ribamar, o homem que só pensa em dar. Talvez o senhor até arranje um bom casamento como o maranhense.
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