Cidades
Área irrigada gera renda para agricultura familiar
No entorno do povoado de Alto dos Coelhos, no quilômetro 54 do Canal do Sertão, município de Inhapi, um oásis a olhos vistos. Uma horta bem cuidada, protegida por estufa e irrigada pelo sistema de gotejamento – com água puxada do próprio canal por gravidade (sem a necessidade de energia) – já está rendendo bons frutos ao agricultor familiar, Cláudio Gonzaga, 36 anos.
Com um solo adequado para receber os kits de irrigação do governo, a pequena propriedade de Gonzaga já colhe hortaliças diferenciadas para a região do semiárido: rúcula, acelga, alface, pimentão, alho poró e morangos. Sim, morangos de verdade, em uma plantação experimental que já toma todo um canteiro.
“Não esperava ter tão cedo uma plantação assim, mas com a irrigação garantida pelas águas do canal pude finalmente plantar o que queria, e acho que agora é só crescer e aumentar minha produção,” comemora Cláudio Gonzaga.
Ele ainda paga parte da estufa que comprou, mas já tem uma caminhonete Pampa, onde transporta sua produção até sua banca em Delmiro Gouveia, onde segundo sua mãe Maria do Carmo, a primeira a tocar a roça da família, tem até fila para comprar. O faturamento de Gonzaga ainda é tímido, cerca de R$ 400 por semana.
“Divido meu lucro com a família, pois ainda me garanto com a profissão de montador de estrutura metálica de torre de transmissão, mas devagarzinho ainda chego lá”, diz o agricultor, apostando que um dia ainda vai deixar sua perigosa profissão para viver do campo.
Para o diretor de irrigação da Secretaria de Estado de Agricultura, Edson Maruta, que acompanha e monitora a qualidade da plantação de Gonzaga, a diversificada horta também traz benefícios para o consumo da própria população. “A qualidade da horta do Cláudio, por ser orgânica, melhora a qualidade nutricional e a saúde da população”.
O tio de Gonzaga, Admilson de Oliveira Silva, tem uma propriedade vizinha e há 20 dias também recebeu seu kit de irrigação e hoje planta mandioca, macaxeira e bata doce, além de criar peixes em um pequeno açude – povoado por 1500 alevinos da espécie fidalgo, para venda e também para sobrevivência da família, mulher e quatro filhos.
“Ave Maria! a chegada do kit foi uma riqueza. Antes era um sofrimento, tudo muito seco, trabalhando só nas trovoadas. Hoje minha horta está uma beleza”, diz alegremente seu Cícero, ao lado do neto Edikleyson, puxando do chão as raízes de uma batata doce reluzente no sol.
Com as inovações e apoio do governo – irrigação e assistência técnica – Cláudio Gonzaga é um dos primeiros a fazer parte das unidades demonstrativas do perímetro irrigado do Canal do Sertão. Serão 120 povoados e mais de 100 mil pessoas que serão beneficiadas pela água do Canal apenas nesta região, de acordo com números da Secretaria de Estado da Agricultura.
A água do Canal do Sertão também provocou mudanças na vida do agricultor Cícero Souza, da comunidade Poços Salgados, zona rural de Olho D’Água do Casado.
Ele foi selecionado pela Seagri para também receber um kit de irrigação e uma unidade demonstrativa de produção de forragens. Hoje, ele produz palma, cana, milho, capim e sorgo para alimentação animal.
O governador Teotonio Vilela visitou, na quarta-feira (11), as três propriedades e ficou surpreendido com o que viu. Na propriedade de Cícero Souza, ele ficou impressionado com o tamanho da cana e do capim, que já estão com sete meses. “Isso é uma grande massa verde que vai virar ração animal e, assim, o criador não precisa vender seu rebanho”, enfatizou o governador.
No caso do seu Cícero, é exatamente isso o que está ocorrendo: ele vendeu boa parte de seu rebanho devido à seca, por falta de alimento e água. Agora, com a irrigação e a água do Canal, ele produz massa verde para os seis animais que lhe restam e ainda vende o excedente, obtendo renda.
“Já fiz um projeto no Banco do Brasil para comprar mais seis vacas de leite. Quero repor meu rebanho”, adianta seu Cícero. Além da criação de gado e produção de forragens, o produtor cria galinha caipira, produz frango e ovos para complementar a renda.
Kits de irrigação
Devido ao sucesso da iniciativa, outros 40 kits de irrigação estão sendo instalados em outras 40 propriedades às margens e ao longo de toda parte já construída do Canal, com recursos garantidos pelo Fundo Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (Fecoep), de R$ 500 mil. Essas propriedades ficam em Pariconha, Delmiro Gouveia, Água Branca, Olho D’Água do Casado e Inhapi;
Para fazer parte do projeto, o agricultor deve morar na propriedade, possuir a Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que comprova que ele é agricultor familiar, estar a uma distância viável do Canal para que se faça a irrigação e, o mais importante, ter um solo propício para ser irrigado.
Outros 700 kits de irrigação estão sendo adquiridos em parceria com a Codevasf/Ministério da Integração Nacional. Esses kits irão atender a outros produtores no entorno do Canal do Sertão, além de produtores do Baixo São Francisco e das regiões da zona da Mata onde há nascentes recuperadas.
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