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Vacina contra esquistossomose pode sair em 4 anos, diz médica brasileira

12/06/2012

A vacina contra esquistossomose desenvolvida e patenteada peloInstituto Oswaldo Cruz (IOC), no Rio de Janeiro, pode chegar ao mercadoem três ou quatro anos "se tudo der certo", segundo a diretora do IOC,a médica infectologista Tania Araújo Jorge.

"É a primeira vacina no mundo contra parasitas. Até hoje, sóexistem doses contra vírus e bactérias. Ainda precisamos passar pormais três fases de testes em humanos. Completamos apenas a primeira",diz.

A esquistossomose é causada por um platelminto, animal invertebrado, conhecido como Schistosoma e atinge 198 milhões de pessoas na África e 2 milhões no Brasil. Sintomas como anemia, febre e diarreia são os mais comuns.

Os testes iniciais contra a doença foram feitos desde maio do anopassado com 20 adultos voluntários que vivem no Rio, área consideradanão endêmica, ou seja, onde não há transmissão ativa do parasita. Cadaindivíduo recebeu três doses.

Essa é uma doença que não interessa a indústria farmacêutica, pois estáconcentrada em países pobres, com higiene e saneamento básicoprecários. Queremos que a vacina tenha validade de pelo menos dez anose seja barata ou de graça, pelo Sistema Único de Saúde", afirma adiretora.

O objetivo dos testes preliminares foi analisar a segurança dessetipo de imunização e verificar a presença de efeitos colaterais comonáusea, febre e dor de cabeça. Foi constatada apenas dor local após aaplicação, já que a injeção é intramuscular.

A segunda fase de testes deve começar entre o fim deste ano e oinício de 2013, com 200 crianças em idade pré-escolar (até 6 anos),destacou Tânia. Será feita em uma área endêmica, no Brasil e nos paísesda África, durante cerca de seis meses. A intenção é testar novamente asegurança da vacina contra a esquistossomose.

"Passada essa etapa, será avaliada a eficácia da dose e ampliada aaplicação para milhares de pessoas. Na fase quatro, a escala será demilhões de voluntários", destaca a médica.

A imunização contra esquistossomose deve ser destinada a criançasaté 6 anos e ser incluída, no futuro, no Calendário Nacional deVacinação do Ministério da Saúde, segundo Tânia.

A diretora do IOC – que pertence à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)– revela que a vacina é produzida com tecnologia brasileira de últimageração, a partir de uma proteína de parasitas do gênero Schistosoma. Essa proteína é transferida para leveduras chamadas Pichia pastoris ou bactérias.

"Assim, a proteína fica mais pura e bem caracterizada, com ummelhor padrão de qualidade. É um processo parecido com o da vacinacontra a hepatite B", ressalta Tânia.

Assim como em outras vacinas, a dose nacional foi produzida apartir de um antígeno – substância que estimula a produção deanticorpos – para preparar o sistema imunológico do ser humano àinfecção pelo parasita. Com isso, evita-se que o parasita se instale noorganismo ou que lhe cause danos.

Cerca de 30 especialistas do IOC estão envolvidos nesse projeto, que tem ainda a parceria de três consultores externos.

Até hoje, o tratamento da esquistossomose – que é transmitido aoshumanos por água contaminada por esse parasita multicelular, que antesdo homem habita caramujos de água doce, do gênero Biomphalaria – éfeito com o uso de medicamentos. Mas, como a pessoa não fica imune,precisa tomar novamente o remédio a cada reinfecção.

Como foi feita a vacina


Para a confecção da vacina, os pesquisadores utilizaram a proteína Sm14, obtida do Schistosoma mansoni.A proteína-base da vacina, isolada no IOC ainda na década de 1990, foiescolhida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos seisantígenos mais promissores no combate à doença.

O projeto, que acaba de finalizar os testes em humanos, obteveresultados que garantem que a vacina seja segura para uso humano ecapaz de produzir proteção para a doença.

O teste em voluntários teve início logo após a aprovação doprotocolo clínico de pesquisa pela Agência Nacional de VigilânciaSanitária (Anvisa) e foi conduzido pela equipe do Instituto de PesquisaEvandro Chagas (Ipec/Fiocruz).

Além da vacina contra esquistossomose, a Fiocruz pesquisa vacinascontra os quatro vírus da dengue e contra os parasitas da leishmaniosee da malária.

"Essa vacina pode abrir caminho para as outras. Ser autossuficientenesse conhecimento não tem preço", destaca a diretora do IOC.