Geral

Arthur Ramos

19/04/2012

Os ecos do primeiro conflito de âmbito mundial chegam à pequena e encantadora cidade alagoana do Pilar, localizada às margens da lagoa Manguaba. O garoto, de 11 anos, toma os primeiros contatos com a brutalidade humana organizada e recebe, de seu pai, lições que marcariam profundamente sua sensível personalidade. Aprende que ninguém é superior a ninguém e que cada raça, dentro de suas características, tem a sua grandeza. Nascia,inconscientemente, o antropólogo que escreveria seu nome entre os maiores do país.

Percorreu mundos, atravessou continentes, viveu em grandes metrópoles, mas jamais esqueceu as origens pilarenses, a encantadora viagem de lancha entre Maceió, Marechal Deodoro e Pilar, a beleza da paisagem. Os deliciosos sabores da terrado bagre e do sururu permaneceram muito fortes em suas recordações.

Pioneiro, jamais deixou de registrar e de debater os seus pontos de vista. Nunca escondeu da comunidade científica e da sociedade em geral aquilo que ia descobrindo nas suas pesquisas. As conclusões acerca da psicologia e da psiquiatria tornaram-se públicas.

Introdução à Antropologia Brasileira, livro que, na realidade, é uma codificação do estudo dessa ciência, consagraria qualquer cientista. Segundo alguns críticos, foi o ponto inicial do reexame dos estudos antropológicos no Brasil. Em O Negro Brasileiro, Arthur Ramos cria o clima propício ao exame, sério e sem preconceitos, da contribuição da raça negra à nossa formação, não apenas étnica mas também do ponto de vista cultural mais amplo. É o primeiro passo para o reconhecimento da presença positiva do negro na nossa nacionalidade. Mostra, nesse trabalho, que o tão explorado atraso do negro, no Brasil, não é um problema de raça, mas uma questão econômica.

Apesar de estranhamente ignorado pelo governo brasileiro da época, Arthur Ramos foi convidado para chefiar o Departamento de Ciências Sociais da UNESCO. Para se ter uma idéia de como se houve naquele importante cargo, seu plano de ação foi aprovado por unanimidade, após a sua morte.

A cidade do Pilar, à época da família Ramos, no início do século, contava com a presença de uma elite econômica e intelectual consciente do seu papel social. Integrando-a, Manoel Ramos, pai de Arthur, era um médico que clinicava somente para os pobres e os amigos, embora não fechasse as portas do seu consultório a qualquer pessoa que necessitasse de assistência. Nas horas vagas, a família realizava verdadeiros saraus. Afinal de contas, eram oito irmãos artistas. Nilo, o poeta, incentivava os pendores literários de Arthur, levando-o, inclusive, a colaborar no jornal O Pilar.

O ciclo de vida de Arthur Ramos vai de 7 de julho de 1903 a 31 de outubro de 1949. Faleceu em Paris. Espacialmente, ele se desdobra de Alagoas a Europa, num caminho rico de realizações humanas e científicas. Ele foi, pelos seus estudos, o primeiro no reconhecimento da nossa consciência da contribuição negra à sociedade brasileira.