Geral
Tarifaço, isenção do IR: o que movimentou a economia brasileira em 2025?
Ao podcast Jabuticaba sem Caroço, da Sputnik Brasil, especialistas fazem uma retrospectiva dos principais temas que impactaram a economia brasileira em 2025.
O ano de 2025 foi movimentado no que diz respeito ao noticiário de economia brasileiro. Entre os principais temas debatidos estão o escândalo do banco Master, a reforma tributária que aprovou a isenção do Imposto de Renda para pessoas que recebem até R$ 5 mil por mês e o tarifaço dos EUA ao Brasil.
Em entrevista ao podcast Jabuticaba sem Caroço, da Sputnik Brasil, especialistas discutem os impactos dos principais temas envolvendo a economia deste ano.
Isenção do Imposto de Renda
Ricardo Gonçalves, doutor em economia pela Unicamp e analista técnico do centro de gestão e estudos estratégicos, lembra que o Brasil passou por reformas tributárias anteriores, e na década de 1990 promoveu mudanças de alíquotas e regras que "beneficiaram o topo da distribuição de renda do Brasil, ou seja, os mais ricos".
"As alíquotas efetivas para as pessoas mais ricas no Brasil foram reduzidas ao longo da década de 1990. Um marco foi em 1995, onde a gente teve a isenção de lucros e dividendos distribuídos por empresas aos seus acionistas. E isso gerou uma nova forma de distribuição de renda no país, onde essa ferramenta passou a ser utilizada por essa população mais rica para driblar o fisco", afirma o economista.
Ele acrescenta que após essa mudança o topo da cadeia de distribuição, ou seja, a parcela de 0,1% mais rica do país, passou a não contribuir com o Imposto de Renda, o que torna a lei que amplia a isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5.000 por mês, com vigência a partir de 1º de janeiro de 2026, um marco significativo na distribuição para pessoas de baixa e média renda.
"Essa regra que nós estamos vendo agora se implementando no Brasil é a maior reforma de imposto de renda já feita em prol da população, [...] onde a gente percebe uma isenção para pessoas que recebem até R $ 5.000 e um benefício para quem recebe até R $ 7.300 e um aumento de alíquotas efetivas para essa parcela mais rica que vai passar a contribuir com lucros e dividendos distribuídos."
Segundo Gonçalves, a reforma da estrutura tributária equipara o Brasil ao modelo praticado em países ricos e desenvolvidos, apontando "para uma maior justiça tributária". Ele afirma que a proposta do governo foi aprovada porque o Congresso percebeu que não votar a favor dessa mudança seria muito impopular.
"Já é percebido pela população que essa tributação do Imposto de Renda é injusta, como ela é feita hoje. [...] O Brasil, por exemplo, distribui cerca de R$ 1 trilhão de lucros e dividendos por ano. E quase metade disso fica com os 0,1% mais ricos. Isso mostra muito para as pessoas o que implicava aquela estrutura tributária", explica o especialista.
Tarifaço dos EUA
Outro tema que movimentou o noticiário de economia em 2025 foi o tarifaço aplicado ao Brasil pela gestão do presidente dos EUA, Donald Trump. Para a economista Carla Beni, professora de MBA da FGV, inicialmente, a medida foi bem-sucedida sob a ótica do pânico generalizado que causou, especialmente por ter sido seguida da aplicação da Lei Magnistky contra autoridades brasileiras.
Apesar disso, ela aponta que a medida não surtiu impacto além do inicial e o Brasil acabou exportando ainda mais neste ano e observando também o volume de investimento interno e externo crescer além do esperado. Ela aponta como motivo do baixo impacto o empenho do governo feito antes de Trump anunciar o tarifaço.
"Desde que o Lula assumiu, é bom dar uma recordada nisso, assim que ele assumiu, ele fez durante os anos de 2023 e 2024 uma quantidade gigantesca de viagens internacionais para abrir o mercado para o Brasil. E isso fez toda a diferença quando o tarifaço veio", avalia a economista.
Diante disso, afirma Beni, não houve nenhum risco para investidores e o Brasil acabou fechando o ano com a inflação dentro da meta e o Produto Interno Bruto (PIB) com expectativa de crescer em torno de 2,5%.
A analista aponta que o tarifaço acabou tendo o efeito positivo de desvencilhar o Brasil da ideia de que ainda depende totalmente dos EUA.
"Sob essa ótica, foi uma grata surpresa o Brasil descobrir que ele pode trabalhar com outros países. E isso daí deu um resultado muito positivo para a gente."
Ela acrescenta, no entanto, que alguns setores específicos, que têm no mercado norte-americano sua principal carteira de clientes, como a produção de mel, ainda vão levar algum tempo para encontrar novos mercados, mas destaca que, no cenário geral, o tarifaço norte-americano não suporta muito mais do que o primeiro ano em vigor por conta da inflação que gera dentro dos próprios EUA.
'Esse é um movimento muito importante e essa elevação de preços nos EUA acabou afetando muito o dia a dia do americano, o suco de laranja, o café, a carne, então a popularidade [de Trump] vai começando a ser balançada e as próprias eleições de meio termo também acabaram dificultando a vida do próprio Partido Republicano", observa.
Apesar dos resultados positivos e do aparente distensionamento das relações entre Trump e Lula, a economista afirma que a qualquer hora o jogo pode mudar, uma vez que a mudança de postura "não foi uma questão de camaradagem" de Trump, mas sim de negócios.
"O Brasil vai ter um peso que importar ali na hora para ele, não há uma preocupação do governo americano com o Brasil, o que a gente tem é essa questão aí, digamos assim, geopolítica, que o governo americano quer colocar a 'pata' em cima da América Latina de novo. Acho que a relação dele com o Brasil vai ser sempre ok e simpática, enquanto a economia estiver funcionando. Amanhã também ele pode acordar aí com a cachola virada e inventar mais alguma outra coisa."
Escândalo do banco Master
O escândalo do banco Master colocou em evidência em 2025 a operação Compliance Zero, da Polícia Federal (PF). O economista Sillas de Souza Cesar afirma que o esquema praticado pelo banco não é incomum, mas sim uma versão muito mais ampla do que outros praticados em menor escala.
"No caso específico do banco Master, uma instituição que montava uma carteira teórica, uma simulação de carteira, fazia alguns documentos, dando credibilidade contábil, fiscal a isso e levava isso a fontes, a fazer a captação de recursos para os seus fundos em outras instituições públicas, principalmente, como é o caso do Banco de Brasília, o BRB", explica.
Ele afirma que o Master criava um relatório que apontava que o banco era um bom administrador dos ativos captados, chegando a alcançar um lucro de 140% no Certificado de Depósito Interbancário (CDI). O relatório era usado para atrair outros bancos a comprar ativos do Master.
"Bancos grandes não topavam, porque a auditoria ali não era muito boa, havia algum ruído, mas os bancos públicos sujeitos a ingerências, algumas interferências políticas, topavam. Foi o caso do BRB, que comprou lá alguns ativos sem muita preocupação."
Cesar afirma que essa prática de vender ativos para fundos públicos acontece há muito tempo no Brasil, na maioria das vezes envolvendo fundos de pensão do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), que são fundos criados para funcionários públicos de prefeituras, estados e estatais.
"Vamos supor, uma prefeitura de uma cidade [...] constitui um fundo e seus funcionários públicos começam a guardar dinheiro. Esse fundo começa a fazer captação e fica um fundo de aposentadoria tal qual outros fundos de aposentadoria que têm por aí. Bom, quem administra esse fundo? A lei diz que quem deve administrar esse fundo são os próprios sócios, os próprios associados", explica o economista.
Ele acrescenta que as prefeituras, sobretudo de pequenas cidades, muitas vezes não contam com um corpo técnico para administrar esses fundos, então essa gestão é terceirizada, o que ele aponta já configurar um problema.
"O segundo problema é que esses fundos servem como fomento para essas cidades, para essas instâncias públicas, o que não é ruim a princípio. O problema é que esses fundos, por servirem de fomento para essas pequenas cidades, eles estão sujeitos à ação desses políticos."
Dessa forma, afirma Souza, se constitui ao longo do Brasil, no interior adentro, em todas as cidades, fundos de previdência social nos quais a influência de políticos é muito grande.
"Então, você tem baixa capacidade técnica de gestão, você tem muito dinheiro, porque são funcionários públicos guardando dinheiro todos os meses, por toda a sua carreira, mais aportes institucionais geridos sob influência política muito forte", afirma o economista.
Mais lidas
-
1TECNOLOGIA MILITAR
Revista americana destaca caças russos de 4ª geração com empuxo vetorado
-
2TECNOLOGIA
Avião russo 'Baikal' faz voo inaugural com motor e hélice produzidos no país
-
3VIDA SILVESTRE
Médico-veterinário registra nascimento e primeiros dias de filhotes de tucanuçu
-
4OPERAÇÃO INTERNACIONAL
Guarda Costeira dos EUA enfrenta desafios para apreender terceiro petroleiro ligado à Venezuela
-
5MOBILIDADE
Alagoas adere a novas regras da CNH e elimina exigência de autoescola