Finanças

PF pode dispensar acareação após ouvir diretor do BC, dono do Master e ex-presidente do BRB

Daniel Vorcaro, Paulo Henrique Costa e Ailton de Aquino Santos prestarão depoimento nesta terça-feira

Agência O Globo - 29/12/2025
PF pode dispensar acareação após ouvir diretor do BC, dono do Master e ex-presidente do BRB
- Foto: Reprodução / Agência Brasil

A Polícia Federal (PF) ouvirá nesta terça-feira o dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, o ex-presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, e o diretor de Fiscalização do Banco Central (BC), Ailton de Aquino Santos. Após os depoimentos, caberá à delegada responsável decidir se será necessária a realização de uma acareação entre os três.

Inicialmente, a acareação havia sido determinada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que conduz as investigações sobre possíveis fraudes envolvendo o Banco Master.

A medida foi determinada de ofício, ou seja, sem solicitação das partes ou dos órgãos de investigação.

Nesta segunda-feira, contudo, o STF informou que a decisão sobre a pertinência do confronto de versões ficará a cargo da PF.

Os depoimentos contarão com a presença de um juiz auxiliar do gabinete de Toffoli e poderão ser realizados por videoconferência.

Na semana passada, o ministro chegou a ser acionado para cancelar a acareação.

No sábado, Toffoli destacou que Ailton de Aquino Santos permanece no cargo de diretor do Banco Central. Apesar disso, ressaltou que a investigação "tange a atuação da autoridade reguladora nacional".

Os depoimentos ocorrem porque Vorcaro tentou vender o Banco Master ao BRB, estatal do governo do Distrito Federal (DF), em uma operação vetada pelo BC em setembro. Dois meses depois, Vorcaro foi preso e o Banco Central decretou a liquidação do Master, em meio a suspeitas de operações fraudulentas que somam cerca de R$ 12 bilhões.

A investigação teve início na Justiça Federal de Brasília, mas foi encaminhada ao STF por decisão de Toffoli, após a PF encontrar um documento que mencionava uma negociação imobiliária de Vorcaro com um deputado federal.

Resistência interna à liquidação

A liquidação do Master foi aprovada por unanimidade pela diretoria colegiada do BC, incluindo o voto do presidente Gabriel Galípolo, que, em princípio, não precisaria se manifestar, já que os outros oito diretores eram favoráveis.

Apesar disso, Ailton Aquino, da área de fiscalização, foi o que mais resistiu à decisão. Internamente, Aquino era visto como um aliado do Master tanto no BC quanto no sistema financeiro.

Registros do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) indicam que houve 38 comunicados oficiais sobre riscos de liquidez, inconsistências no balanço do Master e outros problemas que demandavam uma ação mais firme do órgão regulador.

Quase todos os alertas eram direcionados à área de Aquino, muitos deles em reuniões presenciais. Duas fontes que participaram desses encontros relataram que o diretor tendia a minimizar os problemas, que se agravaram com o tempo.

A discussão sobre medidas mais drásticas, como intervenção ou liquidação do Master, só ganhou força a partir de março de 2025, quando o BRB anunciou a compra de 58% do banco de Daniel Vorcaro, mantendo-o no comando da instituição. Na prática, tratava-se de um socorro, pois a venda não garantiria o controle ao BRB.

Durante a análise dessa operação, a diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução identificou fraudes em contratos de crédito consignado, que respaldaram o repasse de R$ 12,2 bilhões do BRB ao Master antes mesmo da fusão entre os bancos.

A partir desse ponto, houve um racha interno: enquanto a área de Renato Gomes propunha intervenção no Master, Aquino buscava alternativas para manter o banco em funcionamento. Assim, o integrante do BC mais familiarizado com as fraudes e seu mecanismo não é Aquino, mas sim Gomes, cujo mandato já se encerrou.