O teatro das nuvens

04/09/2025 02h02
O teatro das nuvens

Em Alagoas — e talvez em nenhum outro lugar isso seja tão explícito — a política parece sempre encenada no céu. Basta erguer os olhos para perceber que não são partidos, ideologias ou programas que definem as alianças, mas sim o vento. E vento, como se sabe, sopra para onde convém.


Hoje um deputado jura de pés juntos que nunca dividirá palanque com fulano; amanhã, lá está ele, sorridente, abraçado ao mesmo fulano, trocando elogios como velhos camaradas. Ontem um outro político dizia que jamais cederia ao grupo adversário; no dia seguinte, já se acomoda ao lado, rindo de piadas que até pouco tempo o ofendiam. Não se trata de reconciliação, mas de pura meteorologia: nuvens que se juntam porque a atmosfera assim exige, não porque tenham afinidade entre si.


O eleitor, esse eterno espectador, olha para cima e se pergunta: “Mas não era tempestade ontem?” Era sim, mas na política local as trovoadas têm prazo de validade. As chuvas fortes de hoje viram arco-íris amanhã, e o sol escaldante pode desaparecer em minutos, encoberto por um acordo de gabinete. Quem espera firmeza erra de plateia: aqui, o espetáculo é de improviso, e a coerência é só um adereço de cena, descartável entre um ato e outro.


E o mais irônico: todos fingem naturalidade. O político que chamou o outro de “inimigo do povo” garante agora que sempre foram parceiros “pelo bem de Alagoas”. A plateia, meio desconfiada, balança a cabeça, mas sabe que no próximo giro de vento a nuvem muda outra vez. É uma dança de cadeiras nas alturas, onde ninguém cai — apenas troca de lugar.


No fim, a moral da história é simples: em Alagoas, alianças políticas não se firmam no solo, mas no ar rarefeito das conveniências. E se a plateia insiste em buscar solidez, que compre um bom guarda-chuva. Porque no teatro das nuvens, a única certeza é que a próxima mudança já está a caminho.