
O selo e o retrato

Há dias em que a notícia não é apenas registro: é espelho. Duas histórias diferentes, mas que se cruzam no fio invisível da confiança, desembarcaram juntas no noticiário alagoano. De um lado, a Tribuna do Sertão recebe um selo inédito de compromisso com o público, concedido pelo Projor, e se torna o primeiro portal de notícias de Alagoas a ostentar essa marca de credibilidade. Do outro, a pesquisa Ibrape revela um mapa político curioso: 19 prefeitos do estado são aprovados pela maioria da população, com índices que beiram a unanimidade, e apenas uma gestora desponta como exceção.
De certa forma, ambas as notícias falam da mesma coisa: a relação entre instituições — sejam elas uma redação de jornal ou uma prefeitura — e a confiança que o público deposita nelas. Porque confiança não se compra em balcão de feira nem se conquista com pirotecnia; confiança é lenta, custa suor, custa vigilância, custa coerência.
O selo conquistado pela Tribuna do Sertão não é mero carimbo burocrático. É uma espécie de senha de acesso ao futuro: a garantia de que, no meio de tantas vozes, há quem se comprometa a falar claro, a expor os critérios, a mostrar como apura e publica a notícia. Transparência é a palavra-chave, mas também é um desafio permanente. Afinal, um jornalismo que se esconde atrás da pressa ou da conveniência é um jornalismo condenado à irrelevância.
Quando a Tribuna recebe esse reconhecimento, não celebra apenas uma conquista institucional; celebra um pacto com o leitor, o ouvinte, o cidadão que, em Palmeira dos Índios ou em qualquer canto de Alagoas, precisa de uma bússola para não se perder na avalanche de informações que o mundo despeja todos os dias.
É curioso perceber como esse selo dialoga com os números da pesquisa do Ibrape. Porque o que se mede ali também é confiança. Prefeitos como Júnior Menezes, em União dos Palmares, ou Bebeto Barreiros, em Girau do Ponciano, parecem ter conseguido estabelecer uma relação de aprovação que, em alguns casos, ultrapassa os 80%. É o eleitor dizendo: “Acredito, por ora, que você está no rumo certo.” É um voto de confiança, ainda que temporário e sujeito às intempéries do cotidiano.
Mas há nuances. Em Pilar, por exemplo, a prefeita Fátima Rezende amarga reprovação majoritária, e isso acende o alerta: a confiança pode ser construída, mas também pode ser rompida. Em Palmeira dos Índios, a prefeita Luísa Julia Duarte aparece com 55% de aprovação — maioria, é verdade, mas com um contraponto claro de resistência. Esse dado revela que governar é sempre caminhar sobre corda bamba: não basta ter a maioria; é preciso cultivar a escuta, dialogar com os descontentes, trabalhar para diminuir as distâncias entre promessas e realizações.
O selo da Tribuna e a pesquisa do Ibrape convergem, portanto, numa lição simples, embora difícil de praticar: instituições só sobrevivem quando cultivam vínculos de confiança. Não há selo que resista à mentira, não há índice de aprovação que suporte a indiferença. Jornalismo e política, cada um à sua maneira, lidam com a mesma matéria-prima: a credibilidade.
No caso da Tribuna, a conquista vem coroar uma trajetória de quase três décadas de resistência, feita a muitas mãos, sempre com a firmeza de quem sabe que informar é também proteger a cidadania. No caso dos prefeitos, os números são um retrato provisório, um instante congelado que pode mudar ao sabor das próximas chuvas ou das próximas secas, das próximas obras inauguradas ou das promessas que não sairão do papel.
Entre o selo e a pesquisa, fica um recado que deveria se ouvir pelas salas de redação e pelos gabinetes de prefeitura: confiança não é troféu para enfeitar prateleira, é dever para ser honrado todos os dias. Jornal que se omite perde leitores; gestor que se esconde perde votos. E, quando ambos falham, o prejuízo não é apenas deles — é da sociedade, que se vê órfã de referências, desorientada no meio da noite.
Hoje, a Tribuna do Sertão tem motivo para celebrar. Mas celebração, no jornalismo, é sempre uma pausa breve antes da próxima reportagem, da próxima denúncia, do próximo editorial. Porque selo nenhum dispensa a vigilância diária. Do mesmo modo, prefeitos que surfam em altos índices de aprovação fariam bem em não confundir aplauso com eternidade: o eleitor, tal qual o leitor, é exigente, impaciente, volúvel.
No fundo, a lição que nos deixam essas duas notícias é que, em Alagoas, como em qualquer lugar do mundo, a credibilidade é a moeda mais rara e, paradoxalmente, a mais necessária. É ela que sustenta jornais, governos, projetos. E quando falta, nada — nem selo, nem pesquisa — dá conta de encobrir o vazio.