
A sede, a culpa e o silêncio

Palmeira dos Índios atravessa um tempo seco. E não falo apenas da estiagem que castiga o sertão, mas da seca que sai — ou melhor, que não sai — das torneiras. Falta água. Falta dignidade. Falta resposta. Mas, curiosamente, o que transborda agora é a indignação de alguns vereadores que, em passado bem recente, assistiram calados — ou mesmo aplaudiram — a entrega da concessão do serviço de água a uma empresa privada: a famosa Águas do Sertão.
Hoje, esses mesmos parlamentares se dizem indignados. Chamam a empresa de tudo: irresponsável, canalha, desrespeitadora, desonrosa. Esbravejam nos microfones da Câmara e nas redes sociais, como se tivessem sido enganados junto com a população. Mas o povo lembra. E o povo pergunta: onde vocês estavam quando a concessão foi vendida por R$ 100 milhões?
Não custa lembrar: o ex-prefeito de Palmeira dos Índios, entusiasmado com a promessa do montante milionário, entregou a gestão da água — um bem essencial à vida — ao setor privado. O povo não foi ouvido. E parte dos vereadores que agora fazem discursos inflamados não apenas se calaram como também contribuíram para o que hoje se tornou o maior drama da população palmeirense.
As torneiras estão secas, mas a paciência do povo já está transbordando. O que deveria ser solução virou tormento. E os R$ 100 milhões prometidos — que justificaram, segundo os próprios gestores, a "venda" da concessão — viraram fumaça no calor do esquecimento administrativo.
A pergunta é inevitável: onde foi parar esse dinheiro?
Foram aplicados na saúde? Na educação? No saneamento? Melhoraram as condições de vida do povo? Algum palmeirense viu, de fato, esse recurso sendo investido no seu bairro, na sua rua, no seu dia a dia?
Enquanto isso, caminhões-pipa viram rotina. Crianças tomam banho de balde. Famílias inteiras se organizam para coletar água de onde for possível. E as contas chegam, sempre pontualmente, cobrando por um serviço que não é prestado.
A crise hídrica em Palmeira dos Índios não é apenas um problema técnico ou climático. É também, e sobretudo, um problema de responsabilidade política. Os que hoje apontam o dedo precisam lembrar que também estavam lá quando tudo começou.
E o povo? O povo está cansado de carregar baldes. Agora, quer carregar justiça.