
O milagre em Palmeira dos Índios

Em Palmeira dos Índios, nesse domingo que passou, não se jogou apenas uma final. Jogou-se o destino. Disputou-se a honra. Brigou-se pela glória. E, como nos melhores romances da tragédia humana, com suor, angústia e lágrimas, o CSE — o glorioso tricolor de Palmeira dos Índios — venceu o tempo, a descrença, e venceu, sobretudo, o Penedense.
Ah… o Penedense! Time bravo, valente, de camisas encharcadas de tradição. Vieram como quem desafia o impossível. E o impossível, meus amigos, nesse domingo, se vestia de branco, vermelho e verde. Mas o impossível — bendito seja — também se ajoelha diante da vontade de um povo.
O jogo, senhores ouvintes, foi uma ópera em 90 minutos. Sem gols, sem alívio, sem piedade. Um empate cruel, um cerco de nervos e músculos. Cada chute errado era um soluço da arquibancada. Cada escanteio desperdiçado era um soco na alma do torcedor tricolor. E o tempo, esse algoz implacável, avançava sem olhar para trás. Mas o destino, repito, é um poeta disfarçado de cronista esportivo. E havia escrito um nome nas estrelas: Jeferson.
Jeferson! Ah, Jeferson! Com “J” de justiça divina!
Esse homem, esse guardião da meta, essa muralha viva, esse santo de chuteiras, não foi apenas goleiro. Foi pai, foi mãe, foi anjo da guarda. Fez defesas que desafiam a física, que desafiam a razão, que desafiam até a ciência! Ele pegou o impossível. Ele voou sem asas. Ele impediu o gol como quem impede uma tragédia.
E veio, então, a roleta russa dos pênaltis. E em cada cobrança havia o fôlego de uma cidade. Palmeira dos Índios parou. As mães rezavam. Os pais suavam. As crianças cerravam os punhos como se entendessem que ali, naquela linha branca de cal, morava o destino de um povo inteiro.
E ele… Jeferson, o herói improvável, o goleiro profeta, o último a cair e o primeiro a levantar, pegou dois pênaltis. Dois! Com a calma de um monge, com a frieza de um cirurgião, com a coragem de um samurai. Ele pegou para que a cidade pudesse gritar. E gritou. Palmeira dos Índios gritou como quem rasga décadas de silêncio.
A última cobrança foi pra fora. O placar: 5 a 4. O título, enfim, nosso. Mas não era apenas uma taça. Era uma redenção. Era um abraço coletivo. Era uma cidade inteira dizendo: “Nós existimos, e vencemos!”
E nesse instante, meus amigos, não havia mais classes sociais, nem partidos, nem política, nem tristezas: havia o CSE campeão. Havia o grito preso há tantos anos. Havia a lágrima do velho torcedor que viu o primeiro jogo num distante 1981. Havia o menino de camisa rasgada que sonha ser goleiro porque agora sabe que Jeferson é possível.
Que esse domingo 30 seja lembrado. Que se escrevam mais crônicas, que se componham mais hinos, que se plantem árvores com o nome do herói. Porque no futebol — e na vida — nem sempre os maiores vencem. Às vezes, os justos vencem. E domingo, o justo venceu.
E viva o CSE de Palmeira dos Índios!