Entre a transparência e o espelho da política

09/01/2025 02h02
Entre a transparência e o espelho da política

Palmeira dos Índios é uma cidade que ontem foi dormir pensativa com a notícia de que seus vereadores, outrora adormecidos e na comodidade do silêncio, despertaram para a ação e a palavra. Não foi um simples "boa noite", mas um coro uníssono de cobranças e pedidos de explicação. O alvo? A prefeita Luisa Duarte e o misterioso IGPS — uma entidade que, como a névoa, pairava sobre os cofres públicos sem que ninguém soubesse ao certo por onde passava ou para onde ia.

A Câmara Municipal, que por anos parecia um cenário bucólico de "deixa como está" ou “esconde que ninguém tá vendo”, transformou-se numa arena onde palavras como "transparência", "investigação" e "responsabilidade" voavam como flechas. "Será uma revolução?", perguntava-se o povo nas esquinas e nos bares. Ou seria, talvez, um jogo político com regras conhecidas apenas pelos seus jogadores?

O IGPS, alvo das mais recentes controvérsias, emergiu no centro do palco. Criado com a promessa de gerir políticas públicas, parecia ter se especializado em uma arte diferente: a de evitar a prestação de contas. Milhões de reais haviam fluído para seus cofres, mas a cidade, sempre ávida por resultados, recebia apenas o eco de um vazio administrativo. O que outrora era ignorado por muitos vereadores, agora virou pauta prioritária. "Curioso", murmurava a voz do povo. Seria um despertar ético ou a coreografia ensaiada de um novo jogo de poder?

Enquanto isso, em outro canto de Alagoas, o espetáculo político seguia em Santana do Ipanema. Ali, o deputado federal Isnaldo Bulhões Jr. parecia fazer da cidade um modelo de favoritismo familiar. Não era qualquer cidade que podia ostentar o título de campeã das emendas parlamentares. Santana, sob o comando da irmã do congressista até o último dia do ano, recebeu generosos R$ 16,5 milhões em quatro anos. Já outras cidades do estado — esquecidas no banquete de recursos — sentiam-se como convidados excluídos de uma festa particular.

Mas o que mais intrigava nessa história era o frescor das relações políticas. Eduardo Bulhões, sobrinho do deputado, assumiu a prefeitura de Santana no primeiro dia do ano. Uma coincidência familiar ou uma continuidade estratégica? A transparência dos dados públicos contrastava com a opacidade das intenções.

De volta a Palmeira dos Índios, a reforma da Escola Professora Marinete Neves, atrasada e irregular, e o não pagamento de emendas impositivas do orçamento de 2024 adicionavam tempero à narrativa. A prefeita Luisa Duarte, agora sob o fogo cruzado, enfrentava uma Câmara que parecia se dividir entre a busca por justiça e a dança pelo poder.

E, claro, havia o povo, sempre atento, mas também cansado de ser espectador de uma peça onde os atos, mesmo sob novos holofotes, pareciam ter roteiros repetidos. Entre as mudanças de postura e as suspeitas de barganhas políticas, a cidade continuava a perguntar: onde acaba o jogo e começa a responsabilidade?

Por fim, ficava o mistério. O que seria de todos os requisitos aprovados naquela sessão extraordinária? Seriam chaves para abrir portas trancadas pela falta de transparência ou apenas peças de um quebra-cabeça político que nunca será concluído? A resposta, talvez, estivesse nos gestos futuros dos que agora falam, mas também no olhar atento de quem escuta — o povo. Porque, em política, como no teatro, a plateia é que decide se o espetáculo vale o ingresso.

E você, ouvinte, o que acha?