As chagas da alma
A humanidade carrega em si feridas que não cicatrizam. São chagas profundas, abertas pelo egoísmo, pela inveja, pela ambição desmedida e pelo egocentrismo que cega. São marcas que, de tão antigas, parecem fazer parte da essência humana. O que é curioso – e trágico – é que todos sabemos o final dessa história. Sabemos que, desse mundo, nada se leva. E, ainda assim, insistimos em colecionar sentimentos que só pesam, em cultivar rancores que só corroem, em disputar espaços que, no fim, são ilusórios.
O que há no coração humano que o faz tão teimoso em suas mesquinharias? O que nos leva a acreditar que ter mais, conquistar mais ou ser mais importante nos fará melhores ou mais felizes? Parece que esquecemos, dia após dia, que a vida é finita, que o tempo passa rápido, e que o ódio e a inveja são bagagens pesadas demais para quem já tem tão pouco tempo para viver.
A inveja, por exemplo, é um sentimento curioso. Quem a sente, sofre por desejar algo que não tem. E quem é alvo dela, muitas vezes, sequer percebe. É um veneno que só envenena quem o carrega. A ambição, por sua vez, é um poço sem fundo: por mais que se conquiste, nunca é suficiente. Sempre haverá algo mais a almejar, algo mais a acumular. E, enquanto perseguimos essas sombras, perdemos o que realmente importa: as pessoas ao nosso redor, os momentos que não se repetem, a chance de construir algo que vá além de nós mesmos.
O egocentrismo talvez seja o mais triste dos vícios humanos. É ele que nos isola, que nos faz acreditar que o mundo gira ao nosso redor e que os outros existem apenas para nos servir ou admirar. É ele que nos faz esquecer que somos parte de algo maior, que nossas vidas estão entrelaçadas, que o que fazemos – ou deixamos de fazer – afeta não apenas a nós, mas a todos ao nosso redor.
E, no entanto, a humanidade segue assim: mesquinha, individual, pequena. Vivemos como se fôssemos imortais, como se houvesse tempo infinito para corrigir nossos erros, para pedir desculpas, para perdoar. Carregamos ódios e mágoas como troféus, esquecendo que eles só nos tornam mais pesados, mais cansados. E quando chega o fim – porque ele sempre chega –, olhamos para trás e percebemos o quão pouco levamos. Ou, pior: percebemos que o que levamos é vazio.
Se nada disso nos acompanha, por que nos prendemos tanto? Por que nos deixamos consumir por sentimentos que não constroem nada, que não nos fazem melhores, que não trazem paz? A vida poderia ser tão mais leve se aprendêssemos a soltar, a dividir, a olhar para o outro com empatia, a perdoar mais rápido e a amar sem medo. Mas, talvez, o maior aprendizado seja entender que não somos eternos e que, justamente por isso, cada momento importa.
A lição está diante de nós, simples e clara: desse mundo não se leva nada, mas se pode deixar muito. Podemos deixar um legado de bondade, de generosidade, de afeto. Podemos fazer com que a vida de quem nos rodeia seja mais fácil, mais feliz. Podemos aprender a viver com menos ódio, menos inveja, menos ambição. Porque, no final, o que vale mesmo é aquilo que compartilhamos, aquilo que damos de nós, aquilo que fica no coração dos outros. E isso, sim, é eterno.