Frei Damião de Bozzano

05/11/2024 00h12
Frei Damião de Bozzano
FREI DAMIÃO - Foto: PMPI

Se Frei Damião estivesse entre nós hoje, ele completaria 126 anos. Um número impressionante, como se quisesse nos lembrar que sua presença, mesmo física e distante, nunca deixou de se fazer sentir por estas terras do sertão nordestino. De Canafístula de Frei Damião, em Palmeira dos Índios, ergue-se uma estátua de 20 metros de altura, o monumento que imortaliza a imagem do taumaturgo, como se quisesse assegurar que sua figura não se desvaneça no vento quente das caatingas.

Em cada centímetro desse concreto gigante, há mais do que uma homenagem. Há um respiro de fé e memória, como se o velho frade capuchinho ainda caminhasse pelas estradas empoeiradas, pisando a terra seca do sertão, ouvindo os lamentos e as esperanças dos sertanejos. Sua voz, rouca e lenta, ecoa nos corações dos devotos como um lembrete do consolo que ele oferecia às almas aflitas, da paz que ele levava para onde quer que suas sandálias pisassem.

A paisagem de Palmeira dos Índios foi testemunha das missões de Frei Damião, onde ele não se limitava a abençoar os que vinham aos seus pés. Ele ouvia, ele acolhia. Tinha para cada um um olhar profundo, para cada dor uma oração sussurrada. Não havia pressa em suas palavras, como se entendesse que a fé precisava de espaço para brotar e florescer. E assim ele percorreu o Nordeste, passando por vilas e cidades, deixando um rastro de esperança que, mesmo diante da mais dura seca, não se extinguia.

Quem sobe o morro de Canafístula para ver a estátua de Frei Damião não vê apenas um pedaço de concreto. Vê uma história. A história de um homem que dedicou sua vida aos pobres e abandonados, aos aflitos e doentes. Aquele monumento de 20 metros é uma tentativa de expressar a grandiosidade da missão desse frade, mas sua verdadeira altura está no impacto invisível, nas conversas silenciosas de almas em prece. Frei Damião era um porto seguro, uma figura de que os sertanejos podiam se aproximar, açoitando com suas palavras doces a dor de um cotidiano árido.

Hoje, ao olharmos para aquele símbolo que toca o céu, somos lembrados de sua simplicidade e de sua grandeza. O sertão que um dia o acolheu, agora o eterniza de uma forma que transcende o tempo e as épocas. A terra ressequida e o vento quente parecem se dobrar perante a sua imagem, reverenciando aquele que transformou desolação em esperança, aridez em promessa de vida.

As romarias continuam, mesmo com ele ausente. Os passos que sobem o morro, as preces sussurradas diante da estátua, as mãos que tocam o pedestal como que em busca de um toque milagroso... São todos ecos da presença daquele que não tinha ouro ou prata, mas trazia algo mais valioso: o cuidado.

Olhando para Canafístula e para a grande imagem de Frei Damião, podemos dizer que ele não partiu, não de verdade. Sua voz ainda se mistura ao vento, suas bênçãos ainda repousam sobre o povo. Não há ausência para quem se fez parte do coração do sertão. Não há distância para um taumaturgo que se fez eternidade, e que agora, aos 126 anos, nos olha do alto, abençoando os caminhos empoeirados e as almas esperançosas daqueles que continuam subindo o morro em sua direção, como quem busca refúgio na sombra de sua imensidão.