A derrota da esquerda: um alerta antes de 2026
Desde a segunda-feira, 29, os jornais estampavam as manchetes: "A direita vence nas urnas!". O eco das vitórias retumbantes nos resultados municipais não ressoava apenas nos discursos dos vencedores, mas também nas paredes silenciosas das sedes dos partidos de esquerda. A mensagem estava ali, clara e nítida, como um letreiro em neon piscando incessantemente: "É hora de refletir".
A vitória da direita neste pleito não é um ponto fora da curva; é um alerta, e não apenas para os que perderam, mas para todos os que querem compreender os ventos que sopram no país. Quando olhamos para o mapa dos resultados, é como se víssemos um tabuleiro de xadrez sendo reconfigurado diante de nossos olhos, com peças movidas pela força de uma narrativa que, mesmo não sendo nova, soube se renovar. E a pergunta inevitável que fica é: onde erramos?
Há algo que incomoda na aparente desconexão entre a esquerda e o eleitorado, que se tornou ainda mais gritante nestas eleições municipais. Talvez o maior erro seja aquele velho conhecido, o erro do excesso de certeza. Nada é mais perigoso para um político do que acreditar que já sabe de tudo, que as respostas estão todas na ponta da língua, que o povo apenas precisa ser instruído, não ouvido. Ao se afastar das esquinas, dos mercados, das praças, a política se tornou uma torre de marfim, impenetrável, enquanto as necessidades do eleitorado continuaram caminhando sobre o chão áspero da realidade.
O resultado não poderia ser diferente. A direita, com um discurso que, embora muitas vezes simplista, ecoava as preocupações cotidianas das pessoas, ocupou o espaço que estava vazio. E é isso que a esquerda precisa entender com urgência: o jogo político não se faz apenas com belas ideias e teorias, mas com a capacidade de ouvir, de sentir o que pulsa nas comunidades, de se adaptar ao momento. E o momento, ao que parece, exige menos certezas e mais escuta.
A vida no Brasil segue dura, os problemas são reais e os discursos precisam ser igualmente concretos. Quando se fala em educação, não se pode perder a chance de entender que, além do direito ao acesso, existe o drama da merenda que falta, do transporte escolar precário. Quando se fala em saúde pública, não é só sobre a construção de hospitais, mas sobre a falta de médicos e remédios nas pequenas cidades. E, enquanto as demandas diárias forem tratadas apenas como pautas pontuais, a desconexão continuará. As pessoas não querem ouvir apenas sobre o Brasil do futuro; elas querem saber como o Brasil de hoje será um lugar melhor para criar seus filhos e viver com dignidade.
O prefeito que venceu com um discurso de ordem e organização, que falou sobre a segurança das ruas e o retorno às tradições da cidade, soube se comunicar com aqueles que se sentem inseguros, não apenas na sua integridade física, mas em sua própria identidade. A direita entendeu que, para vencer, é preciso ser capaz de traduzir o desejo por pertencer, o medo do caos, e isso foi exatamente o que fez. E agora, à esquerda, resta o desafio de superar suas próprias certezas para se reconectar.
Em política, toda derrota é uma oportunidade de aprendizado. As eleições de 2024 foram um espelho, refletindo as falhas de quem talvez estivesse mais preocupado em repetir velhos discursos do que em construir novos diálogos. Se a esquerda deseja voltar a ter relevância em 2026, precisa reencontrar a humildade de aprender, de se sentar ao lado do povo e perguntar: "Do que você precisa?" e, mais importante ainda, agir para atender às respostas.
Há, sim, vida após a derrota, mas ela exige reação. Para quem perdeu, 2024 não deve ser encarado como o fim, mas como um ponto de partida para uma trajetória de reconstrução e reconexão. Ainda é possível, mas não sem antes descer do palanque das certezas e caminhar na poeira da estrada dos desafios diários. Se 2026 trará uma nova chance, ela dependerá do quanto cada político entender que, na democracia, não há poder sem a confiança de quem dá os votos. E essa confiança, meus amigos, precisa ser cultivada a cada dia, em cada rua, em cada bairro, e não apenas durante uma campanha.