Existe vida após a eleição?
Existe uma fase curiosa que poucos refletem profundamente, mas que se apresenta inevitável e densa depois de cada eleição. Quando os cartazes são arrancados dos postes, as urnas se silenciam e as bandeiras são dobradas, surge a questão: o que fazer quando a sua aposta não ganha? Como se comportar quando o resultado anunciado não traz aquela euforia, mas uma silenciosa inquietação? É como se uma ressaca coletiva tomasse conta, afetando aqueles que se sentiram parte de um movimento que, no fim, não teve o desfecho desejado.
Para os que estavam do lado derrotado, o momento posterior à eleição é delicado. Um misto de frustração e cansaço se faz presente. Aquele tempo dedicado à campanha, os encontros acalorados, as promessas feitas e as esperanças cultivadas, tudo isso parece se dissolver em uma espécie de vacância emocional. E então, o dilema se apresenta: é hora de seguir fiscalizando ou simplesmente aceitar o resultado e deixar a vida seguir seu curso?
Há um romantismo perigoso na ideia de que uma vez encerrada a contagem dos votos, é como se tudo devesse voltar ao estado anterior, como se o tempo pudesse rebobinar para antes do momento em que decidimos levantar nossas vozes em apoio a um lado, em defesa de uma proposta. A veracidade é que a democracia é um ciclo contínuo, e não uma sequência de picos e quedas. Ela vive em nossa rotina, em nossas ruas, em nosso senso de comunidade.
A responsabilidade não desaparece simplesmente porque o candidato preferido não está mais na disputa. O papel de um cidadão vai além da marcação de um número na urna eletrônica. A fiscalização, a demanda por cumprimento das promessas feitas e o zelo pelos recursos públicos são partes de um contrato moral que cada eleitor – vencedor ou derrotado – assume ao participar da eleição. Aquele que se importa realmente com o bem da cidade, do estado, do país, entende que a sua função não é apenas a de torcedor, mas de cuidador.
Os que perdem as eleições, porém, precisam enfrentar um desafio a mais: é necessário olhar para o resultado sem o filtro da raiva ou da amargura, e sem cair na tentação do derrotismo. Fiscalizar o vencedor não significa torcer pelo fracasso; não é colocar pedras no caminho, mas ter um olhar crítico que ajude a pavimentar a estrada. Muitas vezes, essa é a postura que realmente dá sentido à democracia: manter um olhar atento e, quando necessário, ser uma voz dissonante, não por vingança ou ressentimento, mas pelo desejo sincero de ver as promessas concretizadas, independente de quem as execute.
E, ao mesmo tempo, existe a vida que segue, a vida particular, a vida comum. Para além das bandeiras ideológicas, estão os nossos trabalhos, nossas famílias, as pequenas alegrias do cotidiano. Não é errado deixar a política descansar, devolver a ela o espaço que às vezes toma por inteiro. A intensidade do momento eleitoral cobra um preço alto. A paixão, a angústia, o constante debater podem ser extenuantes. Então, permitir-se uma pausa não é desistir, mas reconhecer que, em certos momentos, a melhor fiscalização é manter-se são, é entender que não precisamos estar em luta todos os dias para sermos verdadeiros cidadãos.
No fundo, existe vida após a eleição porque a vida sempre existiu para além dela. A cidade é a mesma, as pessoas continuam as mesmas, os problemas permanecem – e também as possibilidades de solução. A democracia é viva, respira em cada um de nós, independente de termos vencido ou perdido. E para aqueles que não alcançaram a vitória, há um certo heroísmo silencioso em continuar, em vigiar e cobrar, ao mesmo tempo em que se permite viver e celebrar as pequenas coisas que vão muito além da política.
A vida pós-eleição é um equilíbrio delicado entre a fiscalização ativa e o descanso necessário. Entre a vigilância àqueles que agora conduzem os rumos da sociedade e o cuidado com o próprio bem-estar. Porque, no fim das contas, a maior responsabilidade de quem perde uma eleição é seguir acreditando que, um dia, talvez o resultado mude – mas, até lá, a vida continua a exigir nosso melhor, seja nos pequenos gestos, seja no grande palco da política.