O legado de Ivan Barros, meu pai
Hoje, 24 de outubro de 2024, meu pai, Ivan Barros, completa 81 anos. Há uma carga de emoção que transborda de mim ao escrever estas linhas, pois falar de um pai que carrega tanto em sua trajetória é um desafio quase tão grande quanto tentar expressar, em palavras, a gratidão que sinto por ser seu filho.
Ivan Bezerra de Barros é mais do que um nome conhecido em Alagoas. Ele é, para mim, o exemplo vivo de que o tempo, quando bem vivido, pode se transformar em um legado que transcende gerações. Nascido em Palmeira dos Índios, em 1943, filho de Luiz Vieira de Barros e Maria José Bezerra, ele sempre teve em seu horizonte o desejo de conhecer e compreender o mundo. Mas o mais bonito é que, ao mesmo tempo, nunca perdeu de vista suas raízes. Foi aqui, entre o Externato Santa Terezinha e o Colégio Pio XII, que seu espírito inquieto começou a tomar forma. E quando o Rio de Janeiro lhe abriu as portas, ele não hesitou em cruzar esse caminho, de onde saiu formado em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade Brasileira de Ciências Jurídicas, em 1977.
Lembro-me de ouvi-lo contar sobre os anos que passou como promotor de justiça, percorrendo várias cidades alagoanas, sempre com o olhar atento às mazelas e aos dramas humanos. Meu pai nunca foi apenas um jurista — ele foi, e é, um humanista. O cargo que ocupava não era apenas uma função, mas uma missão que ele abraçou com a seriedade de quem compreendia o peso da justiça. Mas o que mais me marca é que ele nunca deixou de lado sua paixão pelas palavras. Seu trabalho como jornalista, redator-chefe do jornal Hoje, repórter da Manchete e fundador da Tribuna do Sertão, só revela o quanto ele enxergava o jornalismo como um caminho para dar voz aos que, muitas vezes, não a tinham.
É nesse ponto que surge o lado que mais me emociona: o Ivan escritor. São 34 obras publicadas, cada uma com o peso de uma vida dedicada ao estudo, à pesquisa e à escrita. Quando leio suas páginas, sinto-me não apenas diante de um escritor, mas de um artesão das palavras. Meu pai construiu, com suas obras, pontes entre o passado e o presente, conectando histórias, vivências e ensinamentos. Livros como Palmeira dos Índios, terra e gente e Graciliano Ramos era assim
falam não só de figuras públicas ou de nossa terra, mas de um pedaço dele, que se entrelaça com a história que ele tanto ama contar.
E é nesse amor pela escrita que ele também se destaca como membro de várias academias de letras, entre elas a Academia Alagoana de Letras e a Academia Brasileira de Imprensa. Mas, para mim, o título mais honroso que ele carrega é o de pai. Porque, para além de todas as conquistas, o que fica é a dedicação com que ele sempre me tratou, o carinho que nutriu por nossa família e o orgulho que sentia ao compartilhar suas histórias comigo e com meus irmãos.
Hoje, olho para o homem que inspirou minha jornada no jornalismo e no direito e só consigo sentir gratidão. Gratidão pelo homem íntegro, pelo jornalista obstinado, pelo advogado incansável e, acima de tudo, pelo pai amoroso que sempre esteve ao nosso lado, mesmo nos momentos mais difíceis.
Ao completar 81 anos, Ivan Barros não apenas celebra uma vida rica em realizações, mas deixa um legado profundo e indelével, tanto para Alagoas quanto para nós, sua família. Suas obras, seus feitos, suas palavras, tudo isso viverá para além dos anos que o tempo lhe concedeu. E é essa a maior vitória de um homem: saber que, mesmo depois de partir, ele continuará presente nos corações e mentes daqueles que tiveram a honra de conviver com ele.
Hoje, pai, ao olhar para sua história, sinto-me pequeno diante de tudo o que você construiu. Mas, ao mesmo tempo, sinto-me gigante por saber que parte dessa história vive em mim. Obrigado por me ensinar tanto, por ser essa referência de sabedoria, ética e força. Parabéns pelos 81 anos. Que muitos outros venham, e que eu continue a ter o privilégio de aprender com você, meu maior mestre.