O Império do Silêncio
"De quem disso fala, disso cuida", já dizia o velho ditado, e poucas frases são tão certeiras quanto essa, sobretudo no cenário político. Em Imperatinópolis, uma cidade imaginária que poderia ser qualquer uma neste vasto país, a história de um prefeito chama a atenção. Não pelos feitos de sua gestão, mas pela transformação que ele mesmo sofreu ao longo do tempo.
Era um simples trabalhador, conhecido por sua disciplina e vida modesta. Seu salário mal cabia nos bolsos, apenas o suficiente para manter as contas em dia e encher o tanque de seu modesto Uno azul. Mas, como é comum em certos enredos políticos, bastou atravessar a porta da prefeitura para que sua vida tomasse um rumo surpreendentemente próspero.
Ao deixar o cargo, seu patrimônio já não lembrava em nada o modesto soldado raso que um dia fora. Terras em Botucabal, lá no Maranhão, com extensões dignas de um grande fazendeiro, surgiram em seu nome — ou melhor, em nome de laranjas que o representavam. Nas praias mais disputadas, tornou-se figura conhecida nos condomínios de luxo, ostentando como senhor de um castelo. E não parou por aí: terrenos estratégicos em outra região do litoral, prontos para se tornarem novos empreendimentos imobiliários; uma lancha de tirar o fôlego, jet skis de última geração, e até um carro de 800 mil reais, que mais parece ter saído de um sonho de ostentação.
E aí vem a pergunta que não quer calar: como se constrói um império desses com o salário de prefeito? Será que o diploma de prefeito inclui, no verso, uma cláusula que lhe dá o direito de apropriar-se do que é público? De tirar do povo, com uma canetada aqui, um desvio ali, para depois viver como um imperador? Ou será que existe uma mágica escondida nas licitações, nos contratos silenciosos, nas obras superfaturadas?
Aos olhos do cidadão comum, parece que o "trabalho árduo" de alguns políticos rende mais do que qualquer esforço legítimo. "De quem disso fala, disso cuida." E o cuidado, nesse caso, é com o próprio bolso. Mas e o povo? Esse fica com as promessas vazias, enquanto assiste de longe ao desfile de lanchas e carros de luxo, sem sequer entender como essa mágica acontece. Afinal, talvez o verdadeiro segredo do sucesso não esteja no esforço honesto, mas na prática silenciosa da velha arte de se locupletar com o que é de todos.
Estamos às vésperas de uma eleição crucial. É o momento de refletirmos sobre o tipo de liderança que queremos para nossas cidades. Precisamos de gestores comprometidos com o bem comum, não de oportunistas que veem no serviço público uma oportunidade de enriquecimento pessoal.
Não podemos mais aceitar que o poder seja usado como ferramenta de ascensão pessoal, enquanto os verdadeiros interesses da população ficam em segundo plano. É hora de escolher com consciência, de exigir transparência, de cobrar honestidade. Que o próximo capítulo dessa história seja escrito de forma diferente, com responsabilidade e ética.
Qualquer semelhança dessa crônica com a realidade é mera coincidência. Mas que sirva de alerta para todos nós. O futuro está em nossas mãos, e a mudança começa com cada um de nós, no poder transformador do voto consciente.