Julia é Julio, Julio é Julia: E o que o povo tem a ver com isso?
Em tempos de eleição, o palco político se transforma em um verdadeiro espetáculo. Há quem brilhe com luz própria, quem tropece nos holofotes e, claro, quem simplesmente se esquive da ribalta. A candidata do MDB, por exemplo, parece ter optado pelo último caminho. Fugiu da imprensa palmeirense como quem foge de uma tempestade — sem sequer olhar para trás. Ora, só compareceu a uma única entrevista, cuidadosamente orquestrada, dizem as más línguas, com o auxílio de um ponto eletrônico. O que seria isso, senão uma afronta ao jornalismo local, que há anos serve de voz para os anseios da população?
Afinal, o que teme Julia? Ou será que devemos chamá-la de Julio? Porque, veja bem, ela se diz ele, ele se diz ela, e vice-versa. Uma verdadeira salada de identidades. Mas a questão, meus amigos, não é o nome, mas sim o silêncio. E nesse silêncio, os questionamentos se acumulam como poeira em gaveta de armário antigo.
Vamos começar com os R$ 100 milhões da CASAL. Júlia, ou Julio — tanto faz —, se essa quantia saiu das contas, para onde foi? Sumiu nas tubulações enferrujadas da gestão pública? Evaporou junto à água que deveria jorrar nas torneiras dos palmeirenses? E o pior, ninguém fala sobre isso. Nem Júlia. Nem Julio. Nem ninguém.
E os R$ 7 milhões da sobra do COVID-19? A pandemia deixou suas cicatrizes, todos sabemos. Mas esse montante, que deveria ter aliviado a dor e o sofrimento da nossa população, foi parar onde? Será que Júlia, que se diz Julio, tem uma resposta? Ou quem sabe, nesse arrumadinho de identidade, a verba também se perdeu?
Ainda tem mais. Foi solicitado autorização da Câmara para pedir ao Banco do Brasil um empréstimo de R$ 30 milhões ao município. E qual foi o retorno? A saúde, que deveria estar funcionando a pleno vapor, enfrenta um caos monumental. Faltam médicos, faltam remédios, sobra desespero nos corredores da unidade de atendimento, a UPA. Onde foi parar essa fortuna? Se Júlia é Julio e Julio é Júlia, quem deveria nos dar explicações?
A educação? Um capítulo à parte. Quase 70% das crianças no município ainda são analfabetas funcionais. Em pleno século XXI, enquanto o mundo avança, nossas crianças tropeçam nas letras e nas palavras. De quem é a responsabilidade? Será que, nesse jogo de nomes e identidades, de Julio é Julia e vice-versa a educação também ficou sem dono?
E a obra do açude do Goití, essa novela de longa data. Seis anos, R$ 13 milhões gastos, e o lago segue tão poluído quanto antes. O projeto original foi modificado, promessas foram esquecidas, mas o dinheiro, ah, esse sumiu. Júlia, ou Julio, ou ambos, alguém vai nos explicar o que houve? Ou vamos continuar nos afogando no lamaçal da falta de respostas?
E os R$ 19 milhões de multa pela Receita Federal? Se ninguém paga a dívida, quem é que vai pagar a conta no final? Porque, sejamos sinceros, a conta sempre acaba chegando. Para o povo, claro. Nunca para quem deveria, de fato, responder por esses desmandos.
E o terreno, esse terreno de R$ 1 milhão comprado da família do vice para construir o parque aquatico? As terras pertenciam aos indígenas, mas quem se importa com isso, não é mesmo? Afinal, neste teatro eleitoral, os valores mudam conforme o interesse, e a ética, se é que um dia existiu, é apenas mais um personagem secundário.
Palmeira dos Índios está afundada em escândalos, mazelas e problemas que se multiplicam como praga. E enquanto isso, a candidata do MDB a tia arregona, foge das perguntas. Fugir não é solução, Julia. Ou Julio. Seja quem for. A população merece respostas. Não queremos mais discursos prontos, ensaiados, ouvidos através de pontos eletrônicos. Queremos a verdade.
Se você, Júlia, que se diz Julio, ou Julio, que se diz Júlia, não tiver a coragem de encarar a imprensa e, principalmente, o povo, então talvez você não mereça mesmo a confiança de quem coloca suas esperanças em jogo a cada eleição. Porque no fim das contas, não importa o nome, o título ou o cargo. Importa o que você faz, o que você responde, e, sobretudo, o que você constrói.