Só o Amor Constrói
O cotidiano traz um presságio de tempos difíceis. Nas ruas, nos corredores do poder, nas conversas sussurradas e nas manchetes que gritam histeria, o cenário é o mesmo: é cada um por si. Vivemos em tempos onde a disputa deixou de ser uma questão de convicção, de ideias, e virou uma corrida frenética pela sobrevivência do ego. Em tempos de eleição, então, a coisa se agrava. É como se a ganância se tornasse uma espécie de combustível para o motor das promessas vazias, e a estupidez, um requisito para subir nas pesquisas.
O que vemos por aí é um desfile de mesquinharias. Falsos sorrisos, apertos de mão programados, discursos que soam bonitos, mas que não dizem nada de substancial. A mentira virou moeda de troca, e a verdade, bem... a verdade parece ser um artigo de luxo que poucos podem bancar. O povo, cansado, observa. Alguns, descrentes, se retraem, outros, iludidos, abraçam o engano como se fosse esperança. E assim o ciclo se repete, eleição após eleição, com novos rostos, mas com as mesmas velhas práticas.
Neste cenário, quem se atreve a falar de amor? Quem ousa lembrar que, no fundo, o que realmente constrói, o que realmente tem poder de transformar, não é o grito raivoso, nem a manobra astuta, mas o amor? Sim, o amor. Aquele sentimento que parece estar tão fora de moda em tempos de disputas acirradas, mas que, no fundo, é a única coisa que faz sentido.
Amar não é fechar os olhos para as injustiças, tampouco é permitir que o outro passe por cima de nós. Amar é, acima de tudo, um ato de coragem. É ter a ousadia de acreditar que, mesmo em meio ao caos, há espaço para o diálogo, para a empatia, para o entendimento mútuo. É lembrar que o outro, por mais diferente que seja, também sente, também sofre, também sonha.
Mas, em tempos como os nossos, falar de amor é quase um ato subversivo. É desafiar a lógica do “vença a qualquer custo”, do “quem grita mais alto tem razão”. É nadar contra a corrente de um mundo que parece ter se esquecido de que somos, antes de qualquer coisa, seres humanos. E como humanos, precisamos mais do que pão e circo; precisamos de afeto, de cuidado, de uma palavra sincera.
No fim, quando as luzes da eleição se apagarem, quando os cartazes forem retirados e os jingles já não ecoarem nas ruas, o que restará? Restarão as marcas das promessas não cumpridas, das brigas por poder, das desilusões que se renovam. Mas, se olharmos com atenção, talvez possamos ver, em algum canto, uma faísca de algo maior, algo que não pode ser medido em votos ou cargos. Essa faísca é o amor. E é ele que, silenciosamente, constrói pontes onde só havia abismos, que planta flores no terreno estéril da desconfiança.
Então, em tempos de cada um por si, onde a ganância, a estupidez e a enganação parecem prevalecer, lembre-se: só o amor constrói. Ele não promete nada, não grita, não se exibe. Ele simplesmente age, devagar, em silêncio, como quem sabe que a verdadeira transformação não é imediata, mas profunda e duradoura.
E no fim das contas, quando a poeira da competição baixar, será o amor que nos restará. Porque, enquanto a ganância destrói, o amor constrói. E disso, a história há de nos lembrar.