A inauguração do açude e as lágrimas de crocodilo
Depois de seis longos anos e mais de 13 milhões de reais, o prefeito-imperador finalmente entregou ao povo a tão aguardada revitalização do açude do Goiti. Emocionado, ao som de uma banda de pífanos que parecia vir de tempos imemoriais, ele chorou. Sim, chorou. A plateia, composta por aliados políticos, servidores e alguns transeuntes desavisados, assistiu perplexa a cena do líder, entre soluços, entregando o feito grandioso.
Mas, se a emoção do prefeito era genuína ou não, quem poderia dizer? Fato é que, em meio às lágrimas, algo mais atraía olhares naquela tarde de sol escaldante: os crocodilos, répteis imponentes e habituados às águas poluídas do Goiti. Afinal, o açude, ao longo de todos esses anos de espera, parece ter se tornado o habitat perfeito para esses bichos, que nadavam tranquilamente enquanto a cerimônia seguia.
Ora, mas o choro do prefeito não poderia ser comparado ao das criaturas que ali habitam? Lágrimas de crocodilo, todos sabem, têm seu valor questionável. Naquele momento, enquanto o líder enxugava o rosto com seu lenço de linho, a obra, que deveria ter resolvido o problema de poluição, seguia inacabada em seu propósito, assim como as promessas de tantas gestões passadas.
Os crocodilos, que se multiplicaram ao longo do tempo, olhavam a cena de longe, talvez surpresos com a ousadia humana de acreditar que um simples evento com discursos inflamados resolveria anos de abandono e sujeira. Afinal, o açude do Goiti continuava lá, infestado de poluição e répteis.
Entre lágrimas e aplausos, a população, que esperava ver a água finalmente limpa e o cheiro amenizado, ficou com a imagem do prefeito-imperador chorando. Chorando como os crocodilos que, dia após dia, continuam reinando nas águas turvas do Goiti, indiferentes às promessas e lágrimas dos humanos que se dizem seus governantes.
E assim se encerra mais um capítulo da história do Goiti: um lago, uma obra cara, um prefeito emocionado e, claro, seus crocodilos, sempre vigilantes.