A arte de iludir

11/06/2024 03h03 - Atualizado em 11/06/2024 03h03
A arte de iludir

Na arte de iludir e construir castelos de cartas, poucos são os mestres tão habilidosos quanto os políticos em campanha. É um verdadeiro espetáculo, onde cada palavra é cuidadosamente escolhida para tecer uma narrativa de promessas e esperanças, mesmo que ancoradas em fundamentos frágeis e ilusórios.

É nesse cenário que se insere a declaração nas redes sociais de Julia Duarte, pré-candidata à prefeitura de Palmeira dos Índios, ao afirmar que o prefeito-imperador Julio Cezar é seu professor em administração pública. Um belo conto de fadas político, onde a realidade cruel da cidade parece ser habilmente ocultada sob um véu de supostas conquistas.

Ao proclamar que o sobrinho é seu professor em administração pública, Julia promete pintar um quadro de parceria e comprometimento com o progresso de Palmeira dos Índios. No entanto, por trás dessa aparente harmonia, esconde-se uma realidade sombria, onde as promessas políticas se desfazem como castelos de areia diante da maré da incompetência e até da corrupção.

A cidade, mergulhada em problemas estruturais e sociais, parece flutuar à deriva em um mar de desafios não enfrentados. A dobradinha entre professora e aluno, aluna e professor, encontra-se uma cidade que, longe de avançar, paralisa em suas mazelas. A saúde precária, a educação nas últimas posições em alfabetização, a economia em declínio, o comércio estagnado são apenas alguns dos sinais de um município que luta para se libertar das correntes da inércia.

A ausência de indústrias e a escassez de oportunidades de emprego para os jovens tornam-se o triste testemunho de uma gestão que falha em promover o desenvolvimento econômico e social. Enquanto isso, os louros da suposta gestão eficiente são questionados pela sombra de multas da Receita Federal e pelo mistério que envolve a destinação dos recursos provenientes da venda da concessão de água, são apenas algumas das feridas abertas que sangram na alma de Palmeira dos Índios.

Nesse contexto, ser professor em administração pública pode ter um significado muito diferente daquele evocado pela pré-candidata. Os protagonistas dessa trama política desfilam em meio ao caos, tecendo discursos vazios e alimentando uma ilusão coletiva que não se sustenta diante dos fatos. O sobrinho de Julia, envolvido em escândalos e multas, parece ser a personificação desse cenário de decadência e desconfiança.

Talvez, seja um ensinamento sobre as armadilhas do poder, sobre a responsabilidade perante o povo, ou sobre os perigos de se construir um legado sobre pilares de ilusão e poeiras debaixo do tapete. Em contraponto às palavras de Julia, ecoa a voz da realidade, que clama por honestidade, transparência e compromisso verdadeiro com o bem-estar da comunidade. Ser professor em administração pública não deveria ser apenas uma questão de título, mas sim de exemplo e dedicação ao serviço público.

Que o povo de Palmeira dos Índios esteja atento às entrelinhas desse discurso político, estejam atentos aos discursos sedutores e às promessas vazias e que nas urnas, faça-se justiça à verdadeira essência do serviço público: o bem-estar e o progresso da comunidade, acima de qualquer interesse pessoal ou político, escolhendo representantes comprometidos com a verdade, a ética e o bem comum. Pois é somente assim que uma cidade pode, verdadeiramente, trilhar o caminho do progresso e da dignidade.