Vígilia pela memória de Graciliano
Há mais ou menos seis anos, iniciei uma jornada que transcendeu a minha própria compreensão do que significa ser jornalista. A Casa de Graciliano Ramos, um santuário da literatura brasileira, permanecia silenciosa, fechada ao mundo, embora suas paredes sussurrassem histórias que clamavam por ser contadas. A reforma, uma promessa de revitalização, transformou-se em um marasmo de atrasos e gastos exorbitantes, passando de uma estimativa inicial de R$500 mil para um desembolso final de R$1,6 milhão e com duração de 7 anos e 4 meses. Esse aumento e atraso não apenas desafiou a lógica, mas também provocou em mim uma inquietude profunda.
Decidi então, munido de minha caneta, assumir o papel de guardião da memória de Graciliano, utilizando a "Tribuna do Sertão" como minha arena. Cada artigo que escrevi não era apenas uma peça jornalística; era um ato de resistência contra o esquecimento e a negligência. Meu objetivo era claro: despertar a consciência coletiva e exigir a reabertura da casa que uma vez ecoou os passos e pensamentos de um dos maiores escritores de nosso país.
À medida que as publicações se sucediam, uma corrente de apoio começou a formar-se. A comunidade, inicialmente alheia ao prolongado fechamento, passou a questionar e a exigir respostas. O poder das palavras revelou-se na capacidade de mobilizar, de unir vozes em um coro por justiça e transparência. Mas, acima de tudo, mostrou que a imprensa mantém viva sua chama de vigilante da sociedade, capaz de iluminar as sombras da gestão pública.
Agora, às vésperas da reabertura da Casa de Graciliano Ramos, marcada para domingo, 7 de abril, sinto um misto de ansiedade e esperança. Este momento não simboliza apenas a vitória de uma batalha pessoal; representa um triunfo da comunidade, uma afirmação do papel indelével da imprensa em defender o patrimônio cultural e histórico da nossa sociedade.
Embora a casa ainda permaneça fechada, cada dia que passa me aproxima mais do sonho de ver suas portas se abrirem novamente. Imagino os visitantes cruzando o limiar, cada passo um eco no tempo, cada olhar uma ponte para a vida e obra de Graciliano. Essa reabertura é mais do que um evento; é a materialização da persistência, da responsabilidade coletiva e, sobretudo, do poder transformador da palavra escrita.
Refletindo sobre essa caminhada, reconheço que meu papel como jornalista vai além de relatar fatos; é ser um ator ativo na história da nossa comunidade, um defensor incansável da verdade. À medida que domingo se aproxima, preparo-me não apenas para testemunhar a reabertura da Casa de Graciliano Ramos, mas também para celebrar a força da imprensa como pilar da democracia e guardiã da nossa rica herança cultural. Este momento será, sem dúvida, um ponto alto na minha atividade jornalística, mas, mais importante, será um testemunho do legado eterno de Graciliano Ramos e do papel vital que todos desempenhamos na preservação da nossa história.