A desfarçatez política nas redes sociais

21/03/2024 14h02
A desfarçatez política nas redes sociais
Redes sociais enfrentam disseminação de notícias falsas - Foto: Reprodução


Na era digital em que navegamos, onde cada clique nos afunda mais em um oceano de postagens e stories, emerge uma nova forma de desfarçatez política. Nesse cenário, as redes sociais, com seus filtros coloridos e efeitos especiais dignos de cinema, transformam-se no palco perfeito para políticos que, como mágicos modernos, usam memes, vídeos curtos e brincadeiras para desviar o olhar da plateia da verdadeira performance que acontece nos bastidores.

Imaginem, caros leitores, um mundo onde a realidade política é tão facilmente distorcida quanto a imagem de um influencer em busca da selfie perfeita. Nesse mundo, os políticos não apenas prometem mundos e fundos; eles literalmente os criam, cena a cena, em suas publicações nas redes sociais. Aqui, um filtro transforma um projeto fracassado em um sucesso retumbante; ali, uma montagem engenhosa faz desaparecer os problemas de infraestrutura que afligem a cidade. Tudo ao alcance de um dedo, com um simples deslizar sobre a tela.

Por trás das câmeras, entretanto, a realidade se desdobra de maneira bem menos glamourosa. As promessas de campanha, uma vez tão vivas no instagram, esmaecem como as cores de um pôster antigo exposto ao sol. A transparência, tão propagada em discursos inflamados, revela-se opaca quando se tenta escavar um pouco mais fundo nos portais da transparência — essas janelas virtuais para o uso dos recursos públicos que, por algum motivo, mais parecem labirintos projetados para confundir do que esclarecer.

Essa maquiagem digital, aplicada com a destreza de um artista, serve para encobrir não apenas as falhas administrativas, mas também os verdadeiros desafios enfrentados pela população. Enquanto vídeos virais e memes divertidos circulam com a rapidez de um clique, as questões prementes da gestão pública, como a alocação eficiente de recursos e a implementação de políticas públicas eficazes, permanecem em segundo plano, ofuscadas pelo brilho artificial das telas.

A desfarçatez dessa prática se revela não na habilidade de utilizar as ferramentas digitais — afinal, a tecnologia em si é neutra —, mas na escolha deliberada de priorizar a imagem sobre a substância, o espetáculo sobre a essência. A política, que deveria ser o terreno fértil para o debate de ideias e soluções para a coletividade, reduz-se a um show de ilusões, onde o que importa não é o que se faz, mas o que se parece fazer.

Neste teatro das redes sociais, onde cada postagem é um ato, cada comentário uma deixa e cada curtida um aplauso, cabe ao cidadão não apenas assistir à peça, mas questionar, investigar e, sobretudo, discernir. O desafio é grande, pois exige que se olhe além do palco, que se questione o roteiro e, principalmente, que se desvende o truque por trás da mágica.

Assim, enquanto os políticos continuam a tecer suas narrativas digitais, entre memes e efeitos especiais, resta a nós, espectadores dessa grande peça, lembrar que a verdadeira política acontece longe das câmeras, nas ruas, nas escolas, nos postos de saúde e nos hospitais e em cada canto onde a vida pública se desenrola em sua plenitude, longe dos filtros e da maquiagem virtual. É lá, nesse espaço real e tangível, que se desenham as verdadeiras histórias que merecem ser contadas e, mais importante, transformadas.