Sou mesmo alagoana?
Sei que sou pois nasci neste espaço geográfico, mas também não sou, porque não sinto. Não pertenço. Eu cresci com uma sensação estranha à respeito do meu lugar de origem, talvez fosse assim em qualquer lugar, acontece que sou daqui. Quando paro pra analisar algumas atividades públicas que realizei nos últimos anos em meu estado, penso que já é mais do que jamais me imaginei fazendo por aqui, ainda assim, me atravessa um estranhamento que não sei definir ao certo. Pode ser que o problema esteja em mim, que deixo transparecer essa sensação, as pessoas percebem e consequentemente ignoram minha presença em alguns cenários, mas talvez o problema esteja nelas, no autocentramento, na incapacidade de abraçar o novo, numa eterna masturbação entre "cunhicidos". Talvez o problema esteja em todos nós.
Escrevo neste blog, ultrapasso uma fronteira intermunicipal através dele, mas não faço ideia de quem me lê, se é que há alguém que me lê em Alagoas. Qualquer texto que não tenha em sua manchete um sobrenome geriátrico - longe de mim ser etarista - importantíssimo, certamente é ignorado.
Tem uma pergunta que me fazem desde criança e sempre me senti desconfortável - mania de interior. "Quem é seu pai?". Dizia o nome de meu pai e logo depois, "ele trabalha em que?", e eu pensando: Onde essa pessoa quer chegar? ela quer que meu pai seja "alguém" a todo custo, porque só assim eu também o serei. Cresci e passei a responder: - meu pai é um homem. E o silêncio pairava. Para algumas pessoa isso é bobagem, e tudo bem, faz parte de suas subjetividades, mas não da minha, uma mente atravessada pela globalização desde muito cedo, uma menina interessada por outros lugares e outras narrativas, e talvez por isso, me afastei demais da cultura de meu berço e hoje, fica difícil me conectar. Mas também não encontro espaço, não sei muito bem o que acontece, porque aparentemente até quem se sente pertencente, não o sente tanto assim.
O que é ser alagoana? Não sei, não tenho atributos necessários para tal, nunca tive e parece que se eu tentar desenvolver, vou retroceder. Há um atraso aqui, no nível de ter que me enfatizar psicanalista e ainda assim ser chamada psicóloga, tem coisas que a cultura local simplesmente não consegue introjetar. Sei reconhecer que meu lugar tem muitas qualidades, mas o que sinto por ele é da ordem do costume e não do amor, acho bonito quem ama seu lugar de origem, mas pro amor acontecer em mim, preciso ser tocada de modo avassalador e pra ser sincera, poucas coisas me arrebatam em Alagoas, além da natureza exuberante, imagino que faltam pessoas arrebatadoras no presente. Deixo claro que estou aberta a sentir e a ser conduzida pra esse apaixonamento. Tomara!
P.S. Não sei como você chegou ao final deste texto com a ausência de palavras como: prefeito, gestão, Dantas, JHC, obras, rombo, fulaninho Acioly entre outras. Agradeço pela leitura, neuroplasticidade cerebral amplia nossos interesses e nada mais atraente que uma mente sem estagnação.