Dom Fernando Iório: o Bispo da simplicidade e sabedoria em Palmeira
Nas andanças pela vida, muitas vezes nos deparamos com histórias que merecem ser contadas, momentos que, como pérolas escondidas, aguardam para serem descobertas e compartilhadas.
A trajetória de Dom Fernando Iório Rodrigues, cuja vida foi um instrumento rico de fé, serviço e amor é uma delas.
Dom Fernando, um homem que dedicou sete décadas de sua vida ao sacerdócio marcada por estradas de asfalto e de terra, sob o sol escaldante ou em noites serenas, iluminadas apenas pela lua em nossa Alagoas. Dom Fernando não foi apenas um padre, foi um peregrino na terra, um viajante guiado por uma fé inabalável.
O caminho de Dom Fernando foi pontilhado não apenas por momentos de desafio, mas também de grande alegria e triunfo. Ele sabia que não bastava apenas caminhar, mas entender o propósito de cada passo, saber que cada jornada começa com uma direção clara e um coração aberto.
Mas o que mais me toca na história de Dom Fernando são as pessoas que fizeram parte de sua jornada. Não eram apenas nomes, eram histórias, eram vidas que se entrelaçaram com a dele. Tantas pessoas, no decorrer de sua trajetória foram como estrelas em seu céu, iluminando seu caminho e enriquecendo sua missão.
Dom Fernando sabia que a verdadeira força de um líder espiritual não está apenas em sua capacidade de pregar ou de conduzir rituais sagrados, mas na habilidade de tocar corações, de ser um amigo, um conselheiro, um companheiro de jornada.
A primeira vez que ouvi falar de Dom Fernando Iório Rodrigues foi durante meus anos de estudante no Ginásio Sagrada Família, agora conhecido como Colégio Diocesano Sagrada Família. Era 1986, e eu, na época, presidente do Centro Cívico da escola e um jovem comunista num colégio padres e freiras, havia editado com meu amigo Helio Lima, três números do jornal "O Malho". O jornalzinho de estudante foi empastelado pelo Padre Odilon, diretor do colégio sob a alegação de ter uma editoria de vanguarda, vista por muitos como subversiva. Mas como poderia eu ser subversivo, um jovem que temia a Deus e acreditava (e ainda acredita) que o comunismo está intrinsecamente ligado à comunhão, igualdade e solidariedade?
Após o episódio com o jornal, fui levado à sede da diocese para um encontro que eu esperava ser repreensivo e beirava à expulsão do colégio, com Dom Fernando. Ao contrário do que temia, fui recebido com palavras de incentivo aos estudos e um sorriso cativante. Foi esse encontro que marcou o início de meu respeito por esse homem que conquistou minha cidade com sua simplicidade, inteligência e erudição.
E em meio a tantas histórias, uma se destaca: a capacidade de Dom Fernando de ver o sorriso de Cristo no rosto de cada pessoa que ele encontrava. Ele queria que sua presença fosse uma fonte de alegria, não de tristeza. E assim foi. Ele se dedicou a tornar a vida das pessoas um pouco mais iluminada, um pouco mais esperançosa.
Hoje, ao lembrarmos de Dom Fernando, somos convidados a refletir sobre o poder da fé, da comunidade e do amor ao próximo. Sua vida foi um testemunho de que, mesmo nas adversidades, é possível encontrar força, é possível ser um farol de esperança.
Dom Fernando Iório Rodrigues, o bispo de Palmeira dos Índios, uma figura emblemática, cuja jornada no sacerdócio culminou em um legado profundo e marcante nesta diocese alagoana.
Aqui em Palmeira dos Índios, uma cidade que carrega em seu seio histórias e tradições, Dom Fernando chegou não apenas como um líder religioso, mas como um misto de esperança e fé. Ele caminhou pelas ruas trazendo consigo uma visão de uma Igreja mais próxima do povo, mais integrada na vida da comunidade.
Dom Fernando era um homem de palavras ponderadas e ações significativas. Ele compreendia que ser bispo não era apenas ocupar um posto de autoridade, mas ser um pastor no sentido mais verdadeiro da palavra. Ele pastoreava sua diocese não apenas com instruções e orientações, mas com um exemplo vivo de compaixão, dedicação e amor incondicional.
Sob sua liderança, a Diocese de Palmeira dos Índios floresceu. Ele era um construtor de pontes, buscando unir os diferentes segmentos da sociedade, promovendo a paz e o entendimento entre as pessoas, independentemente de suas crenças ou origens. Dom Fernando acreditava que a Igreja tinha um papel crucial não apenas no âmbito espiritual, mas também no social, atuando como um agente de mudança e transformação.
Ele era conhecido por sua proximidade com os fiéis. Não era raro vê-lo pelas ruas da cidade, conversando com as pessoas, ouvindo suas histórias, compartilhando suas alegrias e suas dores. Para ele, cada pessoa era um reflexo da face de Deus, e tratá-las com dignidade e respeito era uma forma de servir ao próprio Criador.
Dom Fernando também era um homem de visão. Ele compreendia os desafios do mundo moderno e buscava formas de manter a Igreja relevante e atuante. Seja na educação, sua principal bandeira, na assistência social ou na defesa dos direitos humanos, ele estava sempre à frente, guiando sua diocese com sabedoria e discernimento.
E, talvez o mais importante, Dom Fernando era um homem de fé profunda. Sua vida era um testemunho do poder da fé e da confiança em Deus. Ele enfrentou desafios e adversidades, mas sua crença nunca vacilou.
Anos mais tarde, já como advogado e jornalista, tive a oportunidade de reencontrar Dom Fernando enquanto editava, com meu pai, a Tribuna do Sertão. E mais uma vez, um jornal cruzava nossos caminhos. Dom Fernando que também era jornalista, era não apenas um leitor assíduo, mas também um articulista da Tribuna do Sertão. Sempre que uma nova edição ia paras ruas, ele era um dos primeiros a recebê-la, devido à proximidade da Diocese com o jornal, e também para ouvir suas observações.
Sua presença era uma constante também na sede do jornal. Juntos, participamos da fundação da Academia Palmeirense de Letras, da qual ele foi presidente. Lembro-me das reuniões da Academia, ainda sem sua sede, realizadas na casa de Dom Fernando, na sede da Diocese, e do quanto era enriquecedor estar naquele ambiente, cercado por mentes inteligentes.
Um dos momentos mais emblemáticos que guardo na memória é a Missa do Galo, celebrada por Dom Fernando. A cerimônia acontecia em frente à igreja, atraindo uma multidão de fiéis que se aglomeravam nas ruas e na praça defronte à Catedral. Sua homilia era sempre um momento de reflexão profunda, e ao final, sua voz de barítono entoando "Noite Feliz" era um verdadeiro presente de Natal.
Dom Fernando Iório Rodrigues, com sua voz, seu sorriso cativante e suas palavras sábias, deixou uma marca indelével na vida da comunidade de Palmeira dos Índios. Ele foi um líder que viveu a verdadeira essência do evangelho, unindo fé, cultura e humanidade.
A história de Dom Fernando Iório Rodrigues como bispo de Palmeira dos Índios é uma crônica de amor, serviço e dedicação. Ele deixou sua marca na diocese e nos corações daqueles que tiveram a sorte de conhecê-lo. Sua memória permanece viva, um lembrete de que a verdadeira liderança é medida não pelo poder ou pela autoridade, mas pelo serviço e pelo amor ao próximo.
E assim, meus amigos, a história de Dom Fernando Iório Rodrigues permanece conosco, não apenas como uma memória, mas como um convite para vivermos nossas vidas com o mesmo compromisso e amor que ele demonstrou ao longo de sua notável jornada.
Esta crônica é um tributo a um homem que viveu não para si, mas para os outros, e cuja vida continua a inspirar e abençoar muitos.