A balada de um covarde fardado
Empertigado em um uniforme engomado em demasia, o tenente-coronel Mauro Cid parecia, postado como testemunha na CPMI do 8/1, ainda menor que seus intransponíveis 1,60m. Parecia um menino amedrontado, mas era só um oficial das Forças Armadas reduzido ao papel de um covarde metido em fardas
A decisão por meter-se em traje verde-oliva, a triste e cafona indumentária do Exército brasileiro, não foi dele, mas do comando da força terrestre, numa última tentativa de dar alguma dignidade ao pequeno Cid, preso há 70 dias, antes de enterrar-lhe a carreira.
A tudo que lhe perguntaram, Cid calou-se, ancorado em um habeas corpus do STF, conferindo-lhe o direito de permanecer calado, segundo o próprio disse, dezenas de vezes, com base em recomendação dos advogados, embora seja preciso ser mais que idiota para acreditar, nesse caso, em razões técnicas.
Está mais do que claro que Mauro Cid, primeiro de turma, filho de general e mais íntimo colaborador de Jair Bolsonaro, está resignado a perder tudo – carreira, dignidade e a liberdade – para proteger o ex-chefe e garantir o mínimo de salvaguarda para a mulher e as filhas.
Recados não faltaram. Das 73 pessoas que o visitaram no Batalhão de Polícia do Exército de Brasília (BPEB), onde está preso preventivamente, 41 eram militares. Também esteve lá Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria de Comunicação da presidência da República, ainda hoje assessor pessoal de Jair Bolsonaro.
Mauro Cid está afogado em inquéritos que vão desde a falsificação de carteiras de vacinação e contrabando das joias sauditas até participação na tentativa de golpe, em 8 de janeiro – sempre ligado, umbilicalmente, a Bolsonaro.
Mas parece ter percebido muito bem que uma coisa é delatar um chefe qualquer – a outra é entregar Al Capone à Justiça.