Dia Mundial do Trabalho: 7 filmes que abordam as relações de trabalho na sociedade

Por Vanderlei Tenório, redator do Cinema Sétima Arte 01/05/2023 15h03 - Atualizado em 01/05/2023 15h03
Dia Mundial do Trabalho: 7 filmes que abordam as relações de trabalho na sociedade


O 1º de Maio tem uma tradição de luta que representa um marco histórico na batalha dos trabalhadores do mundo inteiro contra a exploração e a opressão perpetradas pelos patrões, seus governos e seu sistema judiciário.

Esta data foi estabelecida durante o Congresso da II Internacional Socialista em Paris, como o Dia Mundial do Trabalho, em memória dos mártires de Chicago (EUA), em homenagem às demandas operárias que foram desenvolvidas nesta cidade em 1886 e por tudo o que esse dia simboliza na luta dos trabalhadores por seus direitos, tornando-se um exemplo para todo o mundo.

Em maio de 1886, milhares de trabalhadores em Chicago foram às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas que enfrentavam e exigir a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. As manifestações incluíram passeatas, piquetes e discursos que tomaram conta da cidade. No entanto, o movimento enfrentou forte repressão: houve prisões, feridos e até mortos em confrontos entre os operários e a polícia.

A repressão imposta durante o conflito operário de Chicago em 1886 foi escalando gradativamente e atingindo níveis extremos. As autoridades decretaram um "Estado de Sítio" e uma proibição de sair às ruas, resultando na prisão de milhares de trabalhadores. As sedes dos sindicatos foram incendiadas e criminosos e gângsters, contratados pelos patrões, invadiram as casas dos trabalhadores, espancando-os e destruindo seus pertences.

Em tal caso, a justiça burguesa e anti-operária tornou-se evidente ao levar a julgamento os líderes do movimento, August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. Foram apresentadas provas e testemunhas falsas, e Parsons, Engel, Fischer, Lingg e Spies foram condenados à morte por enforcamento, enquanto Fieldem e Schwab foram sentenciados a prisão perpétua e Neeb a quinze anos de reclusão.

Reiteramos que, o 1º de maio é uma celebração em honra aos oito líderes do movimento trabalhista dos Estados Unidos que foram executados por enforcamento em Chicago, em 1886. Eles foram detidos e julgados sumariamente por liderar manifestações que começaram precisamente neste dia.

Nesse ínterim, em um artigo publicado no JPN, Filipa Silva destaca que a primeira celebração do 1º de Maio em Portugal realizada após a Revolução dos Cravos foi um marco histórico. A manifestação foi a maior já organizada no país, reunindo mais de meio milhão de pessoas em Lisboa. Para muitos portugueses, o evento foi uma maneira de expressar apoio ao 25 de Abril, que restaurou a democracia no país uma semana antes. Enquanto isso, no Brasil, a data é comemorada desde 1895 e se tornou feriado nacional em setembro de 1925 por meio de um decreto presidencial.

Para mais, afim de celebrar o Dia Mundial do Trabalho, o Cinema Sétima Arte preparou uma seleção especial de filmes que abordam a temática do mundo do trabalho. Essa é uma homenagem sincera aos trabalhadores de todas as áreas e uma oportunidade de refletir sobre a importância das relações de trabalho na sociedade.

Acreditamos que, o trabalho é uma das principais formas de realização pessoal e profissional e que merece ser valorizado e respeitado em todas as suas formas. Nesse sentido, convidamos todos a assistir aos filmes selecionados e se inspirar com as histórias e personagens que retratam a força e a dedicação dos trabalhadores em todo o mundo.



Confira:


“Germinal” (1993), de Claude Berri


A Revolução Industrial, ocorrida no século XVIII na Europa, marcou um período de intensas mudanças políticas, econômicas e sociais na história da humanidade. Esse processo transformou profundamente as estruturas sociais, dando origem a novas formas de organização da produção e do trabalho, como a fábrica, que substituiu a produção artesanal e iniciou um novo estágio do desenvolvimento industrial.

Nesse contexto, o escritor francês Émile Zola, um dos maiores representantes do naturalismo literário, teve sua obra-prima, "O Germinal", publicada em 1885. O livro retrata de forma brilhante as transformações provocadas pela Revolução Industrial na França, especialmente no que se refere às condições de trabalho e às lutas de classe existentes na sociedade capitalista.

A história se passa nas minas de carvão francesas, onde os trabalhadores enfrentam uma realidade desumana, com longas jornadas de trabalho, salários baixos e condições precárias de vida. O protagonista, Étienne Lantier, é um jovem mineiro que se revolta contra a exploração e a miséria a que está submetido, liderando uma greve dos trabalhadores.

A obra de Zola retrata, de forma realista e detalhada, o processo de instalação do capitalismo nas cidades, o ritmo acelerado da produção e a exploração dos trabalhadores pelos patrões. Além disso, aborda as transformações sociais que ocorreram na época, como o surgimento da classe operária e a luta pela conquista de direitos trabalhistas.

A adaptação cinematográfica de "O Germinal", dirigida pelo cineasta francês Claude Berri em 1993, retrata de forma visceral e impactante as condições de trabalho nas minas de carvão, a luta dos trabalhadores e as consequências da exploração desenfreada na sociedade. O filme é uma denúncia contundente da brutalidade do capitalismo e um alerta sobre a importância da luta pela justiça social e pelos direitos trabalhistas.





“Eles não usam black-tie” (1981), de Leon Hirszman


O filme "Eles não usam black-tie", realizado por Leon Hirszman em 1981, é uma adaptação da peça teatral homônima de Gianfrancesco Guarnieri. A obra retrata a vida dos operários durante a greve dos metalúrgicos de São Paulo em 1979, período que marcou o fim da ditadura militar brasileira.

Ao longo do filme, é possível perceber a importância do novo protagonismo operário na luta contra o regime autoritário, evidenciando que a mobilização dos trabalhadores foi fundamental para a derrota da ditadura. Além disso, o longa-metragem apresenta como a luta se desenrolava de maneira diferente em cada localidade, evidenciando as particularidades e os desafios enfrentados pelos trabalhadores em suas respectivas realidades.

A dificuldade de organização é um tema central abordado no filme, que retrata os embates não só entre os trabalhadores e os patrões ou sindicalistas e a ditadura, mas também entre os próprios trabalhadores e sindicalistas que divergiam por questões políticas e estruturais.

Dessa forma, "Eles não usam black-tie" apresenta uma reflexão sobre a importância da união e da solidariedade entre os trabalhadores na luta por melhores condições de trabalho e pela conquista de direitos.





"Pão e Rosas" (2000), de Ken Loach


"Pão e Rosas" apresenta a história de um grupo sindical de trabalhadores terceirizados do setor de limpeza nos Estados Unidos, que luta contra a precarização extrema do trabalho. A trama é uma representação fiel de uma mobilização real ocorrida em Los Angeles, no ano de 1990, e retrata a desintegração do tecido social em um contexto semelhante ao proposto pela reforma trabalhista no Brasil.

Sob a realização de Ken Loach, renomado diretor de "Eu, Daniel Blake", o filme apresenta uma discussão aprofundada sobre os direitos trabalhistas e sindicais, bem como a questão da imigração nos Estados Unidos, em particular a dos mexicanos e caribenhos.

De maneira clara e precisa, a obra evidencia os traços distintivos de um trabalho de alta precariedade, que incluem assédio moral por parte do supervisor da equipe, invisibilidade dos trabalhadores terceirizados, disparidades salariais gritantes resultantes da falta de proteção coletiva, dificuldades de representação sindical, esforços por parte do empregador em semear conflitos entre os trabalhadores, práticas machistas, demissões em massa, tentativas do contratante em eximir-se da responsabilidade pelo trabalho precário e repressão policial de manifestações.





“O Corte” (2005), de Costa-Gavras


"O Corte" é um filme que mergulha profundamente nas consequências da competição implacável que é imposta aos trabalhadores na sociedade contemporânea. Através da história de um assassino em série, Costa-Gavras apresenta uma visão crítica e perturbadora da forma como a luta pela sobrevivência no mercado de trabalho pode afetar a vida das pessoas de maneiras inimagináveis.

O personagem principal, Bruno, é retratado como alguém que se vê obrigado a competir de forma cada vez mais acirrada para garantir a própria sobrevivência financeira. Sua busca desesperada por um emprego o leva a perseguir e sabotar outros candidatos desempregados, numa espécie de luta pela sobrevivência do mais forte. O fato de Bruno ser retratado como um assassino em série acrescenta uma camada ainda mais sombria à trama, e torna a crítica social ainda mais potente.

Apesar de toda a tensão e drama presentes na história, "O Corte" também apresenta momentos de humor bem colocados, que aliviam a tensão e tornam a obra mais acessível ao público.

No final, o filme é um retrato poderoso das consequências desumanas da competição sem limites na sociedade contemporânea.





“Passámos por Cá”(2019), de Ken Loach


"Passámos por Cá", de Ken Loach, retrata a rotina desafiadora de uma família que tenta sobreviver na selva do livre mercado. Com uma mãe cuidadora de doentes, um pai entregador autônomo e dois filhos adolescentes, a família enfrenta a exaustão e a precariedade do mercado de trabalho atual.

O filme aborda o conceito de "uberização do trabalho", que se refere à oferta de serviços de transporte e entrega intermediados por aplicativos de celular e realizados por proprietários privados. No enredo, o pai de família se vê tentado a vender o carro da esposa, que presta serviços de cuidados a idosos e portadores de deficiências, para comprar um veículo maior e fazer entregas.

A "uberização do trabalho" é um fenômeno que se expandiu nos últimos anos, especialmente após a pandemia, e tem afetado diversos setores da economia. Esse modelo de trabalho muitas vezes impõe jornadas exaustivas, falta de direitos trabalhistas e insegurança financeira para os trabalhadores.

O filme de Loach é uma reflexão sobre as consequências dessa realidade para as famílias e indivíduos que tentam sobreviver em meio a essa precariedade.





“7 Prisioneiros” (2021), de Alexandre Moratto


“7 Prisioneiros”, de Alexandre Moratto é um filme impactante que aborda um tema urgente e atual: a escravidão moderna. Infelizmente, essa prática ainda é uma realidade no Brasil, afetando milhares de pessoas que são vítimas de exploração e abuso em condições semelhantes à escravidão. O longa acompanha a história de Mateus, um jovem que sai do interior em busca de uma oportunidade de trabalho em São Paulo, mas acaba sendo vítima desse sistema cruel.

Através da jornada de Mateus, o filme mostra como funcionam os sistemas de exploração e opressão, revelando as profundas feridas da desigualdade social em nosso país. Luca, o responsável pelo ferro-velho onde Mateus é forçado a trabalhar, é um personagem importante na trama e é interpretado de forma brilhante por Rodrigo Santoro.

Luca representa a face mais sombria da exploração humana, um homem que está disposto a tudo para lucrar, mesmo que isso signifique colocar a vida de outras pessoas em risco. Ele é um exemplo vívido de como a ganância e a falta de empatia podem levar a situações extremas de violência e injustiça.

“7 Prisioneiros” é um filme que nos faz refletir sobre o impacto da escravidão moderna em nossas vidas e sobre a importância de lutarmos contra essa prática cruel e desumana. É um alerta para que possamos estar atentos aos sistemas de exploração e opressão presentes em nossa sociedade e para que possamos trabalhar juntos em prol de um futuro mais justo e igualitário.





“Tempos Modernos” (1936), de Charles Chaplin


Situado na década de 30, logo após a crise financeira de 1929, conhecida como "Grande Depressão", o enredo de "Tempos Modernos", magnum opus de Charles Chaplin, gira em torno de um trabalhador comum em busca de sucesso profissional e pessoal em meio a uma sociedade repleta de avanços tecnológicos e conflitos sociais.

Nesse período, o capitalismo sofreu uma significativa recessão que levou ao colapso da bolsa de valores de Nova York, além de outras tensões sociais que resultaram em altos índices de desemprego, fome e pobreza. O filme apresenta a preocupação dos donos dos meios de produção em obter cada vez mais lucro através da exploração dos trabalhadores.

Ao mesmo tempo, ocorreu um significativo avanço tecnológico conhecido como "modernidade". As fábricas desenvolveram sistemas de produção que visavam aumentar a eficiência do trabalho e da produção dos operários. O taylorismo e o fordismo foram algumas das estratégias utilizadas pela classe dominante para atingir esse objetivo.

Nessas abordagens, os trabalhadores eram responsáveis apenas por uma tarefa específica, o que elevava a produtividade e os lucros dos patrões, mas sem compreender todo o processo de construção dos produtos.



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* Com informações do CST PSOL