Psicanálise no Centro de Atenção Psicossocial

21/04/2022 19h07
Enquanto estava concluindo o curso de Psicanálise no IBPC - Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, descobri a possibilidade de atuar no serviço público de saúde mental, até então imaginava que só era possível exercer a ocupação de forma privada. Qualquer pessoa que estuda psicanálise ou tem a oportunidade de fazer análise pessoal, sabe que é um campo com grande poder de transformação pessoal e social, o primeiro lugar que me veio à mente foi o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, e que mesmo o estágio não sendo uma demanda da instituição na qual eu estava estudando, poderia buscar esse caminho por conta própria. O CAPS é um serviço que acolhe pessoas com transtornos severos e graves, as unidades atendem os usuários de acordo com suas respectivas patologias. O CAPS AD, por exemplo, acolhe pacientes com histórico de abuso de substâncias como álcool e outras drogas. Atuar nesse serviço é uma experiência enriquecedora tanto do ponto de vista individual quanto do coletivo, acompanhar a evolução dos pacientes com os outros profissionais deixa evidente que mudanças significativas só acontecem quando todos estão juntos no mesmo propósito. O desejo pela inserção da psicanálise no SUS – Sistema Único de Saúde só cresceu, assisti inúmeros pacientes, principalmente mulheres e não pude deixar de fazer uma leitura crítica a respeito dos diversos diagnósticos, sobretudo os de esquizofrenia e depressão. As queixas de muitos pacientes do CAPS não são nada fora do comum, não ter determinado diagnóstico, não nos faz tão diferentes dos considerados “loucos” por grande parte da sociedade, pelo contrário, como já era de se esperar vi muito mais afinidades. Para a decepção de quem imagina estar num pedestal de ”normalidade”, tem uma notícia: ninguém está imune ao adoecimento psíquico e a essa altura diante do caos que está estabelecido em nosso corpo social, julgar-se superior a quem desencadeia um transtorno de ordem psicológica é absurdo. Isso é que de fato, deveria ser considerado como loucura. Atualmente há vários debates relevantes acontecendo entre os profissionais da saúde mental, esse movimento é muito importante porque até pouco tempo questionar a autoridade dos médicos era algo inadmissível, como se diz popularmente, era “Deus no céu e os médicos na terra”. Longe de mim desmerecer tão nobre profissão, mas a pandemia deixou evidente que nem todo profissional é nobre, alguns servem a interesses escusos ou estagnaram no tempo e não se atualizam. Para um diagnóstico de transtorno mental ser feito, é preciso levar em consideração o tripé biopsicossocial de cada indivíduo, será que todos os profissionais fazem isso? Ou estão apenas com preguiça de investigar a fundo e hipermedicalizando os pacientes? Talvez se eu for de casa em casa em minha vizinhança e perguntar como cada pessoa tem se sentido encontre muitas semelhanças entre suas queixas e a maioria das perturbações que ouvia de pacientes depressivos, bipolares, borders e psicóticos. Da mesma forma que não podemos negar que fatores biológicos influenciam no desencadeamento de distúrbios psicológicos, entendemos cada vez mais que o campo sociocultural também tem envolvimento direto com o adoecimento da psique. Quem está mais enfermo? O sujeito ou a estrutura?