Carnaval do Passado

01/03/2022 10h10

Carnaval do passado                

Troça em 1953 na Rua do Comércio, com Neco Vital e Natalícia de “Sansão e Dalila”

 

Quem nasceu de 1940 em diante não pode ter uma ideia do que foi o carnaval de outrora, Maceió. Outro dia comentarista da imprensa do Recife afirmava, impávido, que "o corso tinha sido usado larga mente nos carnavais pernambucanos, sendo um fato tipicamente local, ignorado pelas demais cidades nordestinas", isto indicando desconheci mento total da história dos nossos carnavais. Pena que somente agora se esteja formando uma consciência preservativa dos acontecimentos de outras idades, através da fixação do some da imagem. Não existia, no passado, essa preocupação. As fotografias são raras e muitas delas foram simplesmente destruídas, enquanto outras se encontram em poder de particulares que lhes não dão valor. Fazer o corso, uma expressão italiana, na significação de percorrer uma avenida, já foi a expressão alta do nosso carnaval. Era a época dos carros importados cujas capotas de pano se dobravam na traseira, permitindo o desfile de grupos ou famílias inteiras em carros abertos também carros e conjuntos menos luxuosos, exibindo-se em caminhões pintados ou ornamentados de todo jeito. Muitas famílias primavam pela uniformidade dos figurinos: conjuntos de palhaços, tiroleses, roupagens antigas de outros séculos até, ou mesmo fantasias que obedeciam apenas aos ditames de pura imaginação criativa. Como o corso era em geral um espetáculo noturno, ficamos naturalmente sem o testemunho fotográfico da época. Talvez uma ou outra família ainda possua em seus arquivos, fotos isoladas do grupo fantasiado em carro aberto e batidas como recordação, durante o dia, já que fotos a magnésio eram difíceis. O corso começava a declinar após as dez horas, porque então começava a retirada gradual das famílias mais importantes que se recolhiam para enfrentar os grandes bailes em clubes privados, aos quais não se tinha o acesso fácil de agora. A foto de hoje deve remontar à década de 40, infelizmente, não precisamente identificadas pelo doador. O antigo tabuleiro da baiana, com o seu relógio marcando meio-dia e vinte, havia substituído o anterior Relógio Oficial, de pesado perfil. Trata-se de um dia de carnaval em hora de almoço. A ornamentação é pobre, figuras coloridas, algumas flâmulas e prolongando as calçadas singelo fio de galhardetes. Está armado um estrado não muito elevado, com proteção lateral para a orquestra, à noite. Note-se o uso do paletó e chapéu, mesmo em época descontraída. As lojas estão fechadas é hora do almoço. No sobrado à esquerda funcionou em outras épocas mais recuadas o Clube de Regatas Brasil. Imagine-se ali o calor dos bailes de outrora. O movimento de carros é nenhum; apenas um bonde da Companhia Força e Luz Nordeste do Brasil - C.F.L N B. cuja estação ficava na praça Sinimbu, procedente de Jaraguá, Pajuçara ou Ponta da Terra, vai passando pelo outro lado, em direção à praça dos Martírios. O que vemos é um carnaval em expectativa; tudo está pronto para logo mais à noite. Eram os anos da conflagração mundial; e o carnaval começava a declinar.

Do Livro Outras Histórias de Maceió de Braulio Leite Júnior, ano 2004