Nesta quarta-feira (25), o diretor de cinema Tim Burton completa 63 anos de idade. Ao longo de sua carreira, Burton provou ser uma das grandes referências em Hollywood e concebeu diversas obras que marcaram gerações. Como recorda Rafael Sales, do Leia Já, o cineasta possui grande influência do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1809 – 1849), célebre por produzir diversos contos de horror, um tom presente na técnica dos filmes de Burton, que conquistaram fãs por todo o mundo.

Além disso, de acordo com o crítico de cinema Efrem Pedroza, Tim Burton também é influenciado pelo Expressionismo Alemão. “Ele consegue transformar as próprias ‘esquisitices’ em forma e arte. A estética cinematográfica dele apresenta uma assinatura única e somente os notáveis cineastas conseguem esse feito”, explica Pedroza.

Existem elementos que podem ser considerados características próprias e únicas do diretor. Segundo o crítico de cinema, muitos dos personagens de Tim Burton apresentam semblante tristonho e melancólico. Além dos cenários, figurinos e maquiagem levam uma dose acentuada de decadência e excentricidade. Assim, sua linguagem gótica e sombria faz parte da estética usada para ambientar diferentes gêneros de filmes. “Essa é a ‘marca’ de Tim Burton. Excêntrico e versátil. Por este motivo ele é um diretor muito intrigante e importante”, reconhece.

Sobre Burton:

Tim Burton sempre buscou fugir da realidade durante sua infância. Lia frequentemente livros de Edgar Allan Poe (1809 – 1849) e assistia a filmes de terror de baixo orçamento. Outra maneira de escapar para um mundo de fantasia utilizada pelo futuro cineasta era a filmografia de Vicent Price (1911 - 1993), que influenciaria em sua carreira. Após se formar no ensino médio, foi estudar no Instituto de Artes da Califórnia. Em seu segundo ano, Tim entrou no programa de novos animadores da Disney. Três anos depois, foi chamado para trabalhar como animador aprendiz no desenho O Cão e a Raposa (1981).

Burton não estava satisfeito com o trabalho como animador e o estúdio reconheceu que o seu talento não estava sendo totalmente aproveitado. Então passou a ser responsável pela concepção dos personagens dos filmes. Não sendo bem recebido, começou a trabalhar em seus próprios projetos. Se dedicou também à poemas e à obras de artes plásticas. Durante esses anos iniciais trabalhou também na televisão e realizou vários curtas-metragens - inclusive Frankenweenie (1984), que seria transformado em longa quase três décadas depois. Estes primeiros filmes chamaram a atenção do escritor de horror Stephen King, que o recomendou para Bonni Lee, executivo da Warner Bros.

Seu primeiro contato com o estúdio resultou em As Grandes Aventuras de Pee-wee, em 1985. Três anos depois, o cineasta recebeu o projeto de Os Fantasmas se Divertem, e viu que era exatamente de acordo com a sua visão. O sucesso desses títulos o levaram para Batman, em 1989. Após vieram muitos sucessos, principalmente com a parceria com o ator Johnny Depp, que até o momento já se repetiu em 8 filmes. Outros parceiros habituais são o compositor Danny Elfman, a figurinista Collen Atwood, o roteirista John August e os atores Jeffrey Jones, Winona Ryder, Jack Nicholson, Michelle Pfeiffer, Michael Gough, Danny DeVito, Albert Finney e Deep Roy.

Costuma empregar em seus filmes suas companheiras, como Lisa Marie (com quem fez quatro filmes) e Helena Bonham Carter (presente em sete longas). Tim Burton é considera um dos grandes autores do cinema contemporâneo em Hollywood. Apesar de praticamente todos os seus filmes como cineasta terem recebido, até hoje, ao menos uma indicação ao Oscar - os quatro únicos que não receberam esse reconhecimento foram As Grandes Aventuras de Pee-wee, Marte Ataca!, Planeta de Macacos e Sombras da Noite - ele próprio só foi indicado duas vezes, e nunca como realizador (só pelas suas animações). No entanto, já foi premiado no National Board of Review e no Festival de Veneza, além de ter sido indicado ao Globo de Ouro, ao Bafta e ao Festival de Cannes, entre outros.

Dentre as obras mais memoráveis que o diretor possui em seu currículo, Pedroza cita que alguns deles podem ser considerados essenciais para todo amante da 7° arte, como “Edward Mãos de Tesoura” (1990). “Certamente o melhor filme de Tim Burton. Tudo conspira contra o grande amor dos personagens de Johnny Depp e Winona Ryder até o momento em que Kim [Ryder] precisa se sacrificar por Edward [Depp] em um último ato de amor. Uma obra-prima inesquecível".

Burton passeia por diversos gêneros e chegou a trazer uma obra focada em ficção científica e comédia, como “Marte Ataca!” (1996). "Com humor ácido, ao mesmo tempo em que brinca, expõe a política diminuta dos EUA com um presidente para lá de covarde [Jack Nicholson]. Pop! Fabuloso!”. Já em outras ocasiões, o diretor mesclou comédia e elementos sobrenaturais, como em “Os Fantasmas se Divertem” (1988). “É a prova do poder de Burton em realizar obras com a estética dos filmes B e ainda assim garantir um ótimo humor [macabro] que funciona muito bem como entretenimento”.

Além de comédia e romance, Burton já chegou a se aventurar em filmes de super heróis, como “Batman” (1989), protagonizado por Michael Keaton. “A união de personalidades tão exageradas como Burton, Jack Nicholson e Prince [compondo a trilha sonora original] rendeu ao filme o título de maior bilheteria do ano. Se hoje temos uma explosão de filmes com super-heróis, coloque nessa conta um de seus precursores do gênero com o toque de genialidade do diretor”, finaliza Pedroza.

“Dentre seus maiores sucessos de bilheteria no cinema, estão Edward Mãos de Tesoura, A Fantástica Fábrica de Chocolate, Sweeney Todd e A Noiva Cadáver. Ao olharmos a carreira de Burton num modo geral, sua alternância entre animações e live-actions é bem clara e atrativa”, lembra Barbara Demerov, do Adoro Cinema.

Como lembra Demerov, seus últimos três filmes possuem gêneros mistos, mas que se conectam bastante quando pensamos na arte visual. Isso se deve graças a como as histórias são narradas, aos personagens complexos e ao visual que se contrasta entre cores intensas e cenários que sem que uma explicação seja necessária. Um drama pessoal e humano (Grandes Olhos), uma fantasia excêntrica (O Lar das Crianças Peculiares) e uma refilmagem em live-action da Disney (Dumbo) evidenciam o talento múltiplo deste diretor que sempre se manteve próximo à sua essência.