Há 122 anos nascia Alfred Hitchcock
Filho do quitandeiro William e de sua esposa Emma, Alfred Hitchcock (1899 - 1980), foi criado por uma rígida e dura formação católica. O inglês começou a se interessar pelo então novo meio de comunicação, o cinema, em 1915, quando trabalhava na Henley Telegraph & Cable Company. Sendo que já em 1919, aos 20 anos, começou sua carreira no cinema, ao conseguir um emprego de designer de inter-títulos no estúdio da Players-Lasky, em Londres. Lá ele aprendeu a roteirizar, editar e também direção de arte, e em 1922 se tornou assistente de direção. Logo depois, conseguiu emprego num estúdio de Londres depois de concluir o filme Always tell your wife, cujo diretor adoecera durante as filmagens. O segundo filme, Os jardins dos prazeres, marcou o início de sua carreira como cineasta, aos 26 anos de idade.
Como lembra a Deutsche Welle, desde ‘‘The lodger’’ (1926), começou a praticar o gênero que o tornaria mundialmente conhecido, o suspense. O cinema sonorizado abriu-lhe novas possibilidades de magnetizar o público. ‘‘O homem que sabia demais’’ (1934), ‘‘Os 39 degraus’’ (1935) e ‘‘Sabotagem’’ (1936) são clássicos até hoje.
[caption id="attachment_540243" align="aligncenter" width="249"] Hitchcock de perfil[/caption]Ainda segundo informações do Deutsche Welle, Hitchcock transformou os espectadores em cúmplices: eles sabem de onde parte a ameaça ao protagonista, mas não podem impedir que este caia ingenuamente na armadilha. Já famoso pelos trabalhos de juventude, o cineasta recebeu em 1939 um contrato do produtor de ‘‘E o vento levou...’’, David Selznick (1902-1965), para trabalhar em Hollywood. Hitchcock lá estreou em 1940 com Rebeca, a mulher inesquecível. Três anos depois, realizou ‘‘A sombra de uma dúvida’’. Na maquinaria hollywoodiana, viu a possibilidade de pôr em imagens todas as suas fantasias. Os atores e atrizes de Hollywood também o fascinaram: eram capazes de interpretar personagens de carne e osso, sem afetação.
Num tempo em que os diretores de cinema eram apenas empregados de estúdio, Alfred Hitchcock conseguiu a proeza de ser a principal estrela de seus próprios filmes e de trabalhar com ampla autonomia. Isso se deveu tanto a seu senso publicitário aguçado, quanto à sua identificação com o gênero de suspense.
O jornalista Jens Teschke aponta que comercialmente, suas obras eram um sucesso, mas ninguém ousaria chamá-lo de artista do século. Considerado nos EUA apenas um cineasta técnico por muitos anos, teve sua importância reconhecida pela crítica francesa nos anos 50. Em 1954, a revista Cahiers du Cinema dedicou-lhe toda a edição de número 39, concedendo-lhe, pela primeira vez, o status de artista.
Teschke lembra que o período mais frutífero de Hitchcock foram os anos de 1954 a 1963. É dessa época uma série de obras-primas que o fixaram como um dos principais cineastas de todos os tempos: ‘‘Janela indiscreta’’ (1954), ‘‘Um corpo que cai’’ (1956), ‘‘Psicose’’ (1960), ‘‘Os pássaros’’ (1963), entre outros. Décadas após sua morte, em 29 de abril de 1980, essas obras continuam recebendo remakes e influenciando gerações de roteiristas e diretores.
Como destaca Teschke, de formação católica jesuítica, Hitchcock levou para o cinema preocupações trazidas da infância: culpa, pecado, medo, assim como atração e repulsa pela sexualidade. Dizia que a técnica nunca deveria se impor ao enredo, mas, sim, colocá-lo em evidência.
[caption id="attachment_540245" align="aligncenter" width="333"] Reprodução: Plano Crítico[/caption]O estilo hitchcockiano inclui o uso de movimento de câmera para emular o olhar de uma pessoa, tornando os espectadores em voyeurs, e concebendo planos para maximizar a ansiedade e o medo. O crítico de cinema Robin Wood disse que o significado de um filme de Hitchcock "está no método, na progressão de plano a plano. Um filme de Hitchcock é um organismo, com o todo manifestando-se em cada detalhe e cada detalhe estando ligado ao todo".
Apesar de indicado seis vezes ao Oscar, cinco vezes como melhor diretor e uma como melhor produtor, jamais recebeu a cobiçada estatueta, juntando-se a outro gênio cinematográfico também nunca agraciado com o prêmio máximo da Academia, Stanley Kubrick (1928-1999). Suas seis indicações ao Oscar foram pelos filmes ‘‘Rebecca’’ (1940), ‘‘Lifeboat’’ (1944), ‘‘Spellbound’’ (1945), ‘‘Rear Window’’ (1954) e ‘‘Psycho’’ (1960), como diretor; e ‘‘Suspicion’’ (1941), como produtor. É considerado pelo The Screen Directory, uma publicação sobre cinema, como o "maior diretor de todos os tempos".
Teschke recorda que em conversa com o então jovem diretor François Truffaut (1932-1984), Hitchcock observou o seguinte: "o cineasta mais acessível a todos os públicos pela simplicidade e clareza é também o que se supera ao filmar as relações mais íntimas entre os seres". Ademais, ainda hoje, muitos consideram os filmes de Hitchcock imbatíveis, em termos de suspense.
[caption id="attachment_540246" align="aligncenter" width="361"] Hitchcock no estúdio[/caption]Em suma, não há a menor dúvida de que Hitchcock foi um dos pioneiros do cinema moderno. A partir de filmes que, na época, manipulavam toda uma audiência, ele quebrou as barreiras entre terror e suspense, desvendando, ainda, partes obscuras da psique humana. De acordo com o Rotten Tomatoes, o cineasta é “imortal”, pois contribuiu imensamente com o terror e seus subgêneros. “Hitchcock não apenas criou o horror moderno, ele o validou”, consentiram os especialistas.
Com informações da Deutsche Welle.