Alagoas celebra os 100 Anos do escritor Breno Accioly
Alagoas comemora em 2021 o centenário de nascimento de um de seus filhos mais ilustres: o escritor santanense Breno Accioly que, segundo os críticos, é o maior contista brasileiro do século 20. Para celebrar a memória deste mestre da Literatura, a Imprensa Oficial Graciliano Ramos e seus parceiros estão organizando um calendário festivo que prevê o lançamento da obra completa do autor, entre outras iniciativas, como lançamento de filme, exposição biográfica, seminários, palestras e revistas temáticas.
A primeira dessas ações culturais será uma live com a professora Edilma Acioli Bomfim e o professor Márcio Ferreira, transmitida pelo canal da Secretaria de Educação de Santana do Ipanema no You Tube (SEMED Santana), nesta sexta-feira (16/04), às 19h30. O bate-papo virtual, intermediado pelo jornalista Sílvio Melo, é fruto de uma parceria entre a Imprensa Oficial Graciliano Ramos e a Prefeitura de Santana do Ipanema.
Autora do livro Razão Mutilada – Ficção e loucura em Breno Accioly, a crítica e escritora Edilma Acioli é Bomfim é uma das maiores especialistas da obra do escritor. Nesta obra, fruto de sua tese de doutoramento, ela propõe uma análise psicanalítica dos personagens dos contos do livro João Urso – considerada a obra-prima de Breno Accioly. Edilma é imortal da Academia Alagoana de Letras e doutora em Letras pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), onde lecionou durante toda sua carreira acadêmica. Doutor em Literatura Brasileira e professor de Literatura no campus Sertão da Ufal, Márcio Ferreira é coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Literatura Alagoana (NELA), com ênfase em narrativas de autores alagoanos. É um dos maiores especialistas em Literatura Alagoana, estudioso das obras de Breno Accioly e Lêdo Ivo.
“A leitura dos livros de Breno Accioly, dado o seu caráter visionário, é, no mínimo, instigante e perturbadora. Não é uma leitura leve, que se leia num só fôlego; é preciso tempo para adentrar as questões do humano, no questionamento do que afinal é loucura, e para percorrer com seus personagens – seres tresloucados, isolados e carentes – o caminho tumultuado dos seus inconscientes, projetando no mundo circundante, o louco que habita em cada um de nós”, afirma Edilma Acioli Bomfim, mencionando que a live desta sexta-feira pode ser considerada um bom preparativo para mergulhar no universo rico e complexo da obra acciolyana.
O homenageado
Autor de uma obra inovadora, tanto na temática quanto na linguagem, Breno Accioly estreou na Literatura em grande estilo, no ano 1944, aos 23 anos, com a publicação do livro de contos João Urso – livro vencedor dos principais prêmios literários da época: o Afonso Arinos, oferecido pela Academia Brasileira de Letras, e o Graça Aranha, oferecido pela Fundação Graça Aranha. Desde então, suas narrativas sombrias e brutais ganharam grande repercussão nacional, tornando-se aclamadas pela crítica especializada.
Morto precocemente, aos 45 anos, o escritor deixou uma obra consistente, formada por dois romances e quatro livros de contos. Para celebrar o centenário de Breno Accioly, a Imprensa Oficial Graciliano Ramos pretende publicar todos os seus livros até o final deste ano, incluindo dois títulos que até hoje permanecem inéditos: Isabela (contos) e Pedras (romance).
Além da publicação da obra completa do autor, a Imprensa Oficial Graciliano Ramos realizará diversas ações comemorativas com o apoio de grandes parceiros: como a Secretaria de Estado da Educação, Secretaria de Estado da Cultura, Prefeitura de Santana do Ipanema, Academia Alagoana de Letras, Núcleo Zero Comunicação e a Editora da Universidade Estadual de Alagoas (Eduneal).
O primeiro lançamento editorial será o livro Isabela que reúne cerca de vinte narrativas soturnas, repletas de personagens perturbados e perturbadores, envolvidos em fábulas sombrias que giram em torno de questões insanas, doloridas e até perversas, ardilosamente marcadas por uma linguagem intimidante, bruta, sem abrandamento nas emoções. Em seguida, serão trazidas ao público leitor novas edições dos livros de contos João Urso, Cogumelos, Maria Pudim e Os Cata-ventos, e dos romances Dunas e o inédito Pedras.
Resgate de memória
Morto em março de 1966, sem deixar filhos, a obra de Breno Accioly atravessou certo período de esquecimento por parte do grande público, permanecendo mais cultuada na memória dos críticos e pesquisadores. Só mais recentemente, quando o seu sobrinho Rommel Accioly obteve os direitos autorais de sua obra, é que novas edições do escritor voltaram a ser publicadas timidamente pelas editoras brasileiras. O grande salto será dado este ano com o lançamento da obra completa de Breno Accioly em edições caprichadas que estão sendo preparadas pela editora da Imprensa Oficial Graciliano Ramos e a Eduneal, além do lançamento de uma animação baseada no conto João Urso, com direção assinada pelos animadores Weber Sales e Ulysses Ribas, do Núcleo Zero de Comunicação, que será levada às telas no final do ano.
“Breno Accioly foi um dos três autores mais vendidos do país, ao lado de Jorge Amado e Érico Veríssimo. Inúmeros críticos de sua época rasgaram elogios à grandiosidade de sua obra, muitos chegaram a dizer que Breno Accioly era o maior contista brasileiro do século 20”, relembra Romeu Accioly. “Mesmo assim, a defesa de sua memória sempre enfrentou grandes desafios. Um dos principais fatores foi a própria personalidade intempestiva do Breno que, em alguns momentos, optou pelo isolamento social. Por outro lado, há também as próprias peculiaridades do mercado editorial brasileiro que encontra enormes dificuldades em lucrar com a arte literária. A maioria dos leitores do país consome apenas livros religiosos e de autoajuda”, reflete, mencionando que, com a programação comemorativa que está sendo planejada para 2021, espera que os leitores voltem a admirar e desfrutar da obra de Breno Accioly.
Além da publicação dos livros do autor, em 2021, a Imprensa Oficial Graciliano Ramos também irá publicar a segunda edição do livro Razão Mutilada – Ficção e loucura em Breno Accioly, ensaio literário publicado por Edilma Acioli Bomfim, em 2003.