Como o príncipe Philip foi retratado em ‘The Crown’
Falecido nesta sexta-feira (9), aos 99 anos, o príncipe Philip, consorte mais longevo da história da monarquia britânica (1952-2021), é um dos densos protagonistas da aclamada e premiada série da Netflix ‘‘The Crown’’. Desde 2016, a série dramática retrata os bastidores da família mais conhecida e dileta da Grã-Bretanha e Commonwealth.
No decorrer de quatro temporadas – com mais duas já confirmadas, a série abordou vários episódios que marcam a cronologia pessoal, política, histórica, civil e social da família real britânica. A série tem início com a morte do rei George VI (Jared Harris) e a sucessão ao trono da princesa Elizabeth, duquesa de Edimburgo (Claire Foy/Olivia Colman/Imenda Staunton), em 2 de junho de 1953.
Philip foi brilhantemente interpretado na primeira (2016) e segunda (2017) temporada por Matt Smith (antes conhecido por ter protagonizado a série britânica ‘Doctor Who’), por Tobias Menzies (famoso por ter feito parte do elenco de ‘Outlander’ e ‘Game of Thrones’) na terceira (2019) e quarta temporada (2020), e será interpretado pelo elogiado Jonathan Pryce (indicado ao Oscar de Melhor Ator pela atuação como Papa Francisco, em ‘Dois Papas’) na quinta (2022) e sexta temporada.
A seguir, veja o que é real e o que é ficção sobre a vida do duque de Edimburgo na aclamada da Netflix.
Ciúmes da rainha
Embora retratado na série, não há evidência nenhuma disso, conforme estudos. É fato que, na juventude, o príncipe Philip gostava de conversar, dançava bem e ostentava uma aparência atraente. Não à toa, a fidelidade dele ao casamento é um dos pontos centrais dos primeiros episódios da segunda temporada, quando o descontentamento de um Philip irritado com a falta de poder frente à esposa, resulta em uma breve separação do casal. O fato acontece quando ele embarca em uma viagem por países da Commonwealth.
Nesse deslocamento, Eileen Parker pediu para se divorciar de Michael Parker, amigo e secretário do duque, que estava lhe acompanhando na viagem. O estopim para o pedido foi à descoberta de várias cartas em que Michael relata as relações extraconjugais durante o tour real. A revelação de Eileen fez com que a imprensa especulasse sobre a fidelidade de Philip.
Contudo, diferentemente do que é apresentado na Série de Peter Morgan (‘‘A Rainha’’ (2006), ‘‘ Frost/Nixon’’ (2008) e ‘‘Rush’’ (2013)), a rainha nunca se importou, até para compensar muita coisa que foi tirada dele, segundo presumem. Para se ter uma ideia, um dos deveres do duque de Edimburgo foi sempre andar um ou dois passos atrás dela.
Relação com príncipe Charles
Na série, a relação entre o duque de Edimburgo e o príncipe Charles é quase sempre bastante tumultuada. Um dos episódios que mais deixa clara essa questão é o nono, da segunda temporada. Nele, o príncipe Philip chama o filho de “fraco demais”, parecendo ser frio e distante com ele.
Na vida real, contudo, pesquisadores apontam que não havia nada para apoiar essa versão do relacionamento entre os dois. Consta ainda que, na época da exibição do episódio, a família real teria ficado aborrecida com a retratação.
Conforme uma fonte do Palácio de Buckingham informou a uma revista britânica, a rainha ficou particularmente irritada com uma cena em que Philip não simpatiza com Charles. O duque está claramente chateado enquanto transporta o filho de avião. “Isso simplesmente não aconteceu”, disse ela.
Sobrenome
De fato, conforme mostrado na série, o duque de Edimburgo realmente queria que o príncipe Charles tivesse o seu sobrenome. Em um dos momentos do programa, ele confessa para alguns amigos: “Eu sou o único pai do país que não deu o sobrenome para o filho”, algo que também procede na história oficial.
Tal fato aconteceu porque, caso Charles levasse o sobrenome Mountbatten, a dinastia mudaria de nome quando ele virasse rei. Então, foi possível mudar o sobrenome para Mountbatten-Windsor, conservando a dinastia e mantendo o sobrenome de Philip. A questão é narrada na obra "Philip and Elizabeth: Portrait of a Royal Marriage", do biógrafo Gyles Brandreth.
Relação com o nazismo
Na primeira temporada da série, o ex-primeiro ministro Winston Churchill (1874-1965) comenta que as irmãs do príncipe Philip não estão no casamento real, alegando que "os maridos são nazistas”. Realmente, três delas eram associadas com o Partido Nazista e não compareceram à cerimônia.
Apenas a mãe de Philip, princesa Alice de Battenberg (1885-1969), esteve no casamento. De acordo com historiadores, ela era antinazista e abrigou famílias judias na Grécia durante a investida de Hitler no país.
Aulas de voo
O Príncipe Philip aprendeu mesmo a pilotar, porém não foi Peter Townsend (1914-1995), grande paixão da princesa Margaret (1930-2002), que o ensinou. Na verdade, o duque aprendeu as lições com o tenente Caryl Ramsay Gordon.
Ainda sobre esse tema, na série também é mostrado que Winston Churchill (1874-1965) se preocupava com o fato de Philip estar voando, uma vez que a irmã dele morreu em um acidente de avião. Não há evidências, contudo, dessa preocupação. Philip parou de voar em 1997.
Mãe do príncipe Philip
No quarto episódio da terceira temporada, a mãe do príncipe Philip (Matt Smith/Tobias Menzies/Jonathan Pryce) princesa Alice (Rosalind Knight/ Sophie Leigh Stone/ Jane Lapotaire), filma no Palácio de Buckingham com a família real para escapar da turbulência política da Grécia. Paralelamente a isso, um documentário sobre a realeza vai ao ar na BBC, retratando o estilo de vida privilegiado da coroa. Devido à reação inflamada do público com a produção, Alice concede uma entrevista ao The Guardian, ajudando a aliviar as tensões.
Para além da ficção, o documentário da BBC não representou um desastre tão grande quanto a série fez parecer. A entrevista de Alice com o The Guardian também nunca aconteceu, de acordo com pesquisas. Alice foi internada, e os estudiosos hesitam em especular sobre a verdade a respeito da saúde mental dela e do relacionamento com o duque de Edimburgo.
Relação com Diana
Dentre as tantas cenas da mais recente temporada de “The Crown” que incomodaram o príncipe Charles, segundo dados da imprensa britânica, é a que conta que o príncipe Philip ameaçou duramente a princesa Diana (Emma Corrin/Elizabeth Debicki) (1961-1997) quando esta deixou de falar com o esposo.
Conforme reportagem do El País, essa atitude, inclusive, alimenta a teoria de que o marido da rainha pôde estar por trás do acidente em Paris que custou a vida da princesa, algo que nunca ficou provado.
Também segundo o periódico, Philip participou do funeral de Diana, caminhando junto aos netos no cortejo fúnebre. Pouco tempo depois, Mohamed al Fayed, pai de Doddi (1955-1997) – namorado de Lady Di na época, também morto no acidente de Paris –, afirmou que o duque havia ordenado a morte da princesa, sublinhando também que o acidente foi armado. A investigação sobre a morte de Diana chegou ao fim em 2008, contudo sem provas de que houve conspiração.
* Com informações da redação do Diário do Nordeste