Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas: Um passeio pela memória viva do Estado

14/11/2020 09h09

O Instituto Histórico e Geográfico, fundado em 02 de dezembro de 1869, sob o epíteto de Instituto Archeologico e Geographico Alagoano é, no segmento, a terceira instituição mais avita do Brasil. Entre os fundadores encontram-se Delfino Augusto Cavalcanti de AlbuquerqueSilvério Fernandes de Araújo JorgeJoaquim José de AraújoRoberto Calheiros de Melo, assim como vários jornalistas, políticos, escritores, e religiosos. O instituto conta hoje com 60 sócios que contribuem com a administração do local. Por suas telas introduziu-se a mais alta nata da elite intelectual alagoana. No contexto das instituições que dispõe arquivos expressivos para o desenvolvimento da pesquisa sobre o Estado de origem, o IHGAL se revela como um dos mais importantes, no que se refere à quantidade e qualidade de acervo, acervo que foi recolhido e conservado, ao longo das últimas décadas.

No decorrer de quase 150 anos existência, reuniu um suntuoso e importante acervo distribuído em suas distintas seções. Nesse sentido, o acervo é composto por uma biblioteca especializada em história, com 15 mil volumes compreendidos entre obras gerais e autores alagoanos todos classificados pelo Sistema de Classificação Decimal de Dewey, além de possuir todo o acervo catalogado e separado por autor, título e assunto, uma hemeroteca que abrange 79 títulos de jornais da região, uma inestimável mapoteca com 228 mapas sobre Alagoas e o Brasil, arquivo de documentos que desfruta de 3.900 documentos históricos relativos à história de Alagoas e do país, uma fototeca com imagens de vários momentos da sociedade alagoana, uma pinacoteca com telas raras de vários pintores notáveis (Rosalvo Ribeiro, Domenico De Angelis, Virgílio Mauricio, Lourenço Peixoto, José Paulino, Zaluar Sant`Ana, Pierre Chalita entre outros) e o museu que possui um admirável acervo histórico, etnográfico e arqueológico referente a história regional. 

O acervo conserva objetos concernentes ao período da escravidão, ao movimento abolicionista e ao Quilombo dos Palmares, além de mobiliário e relíquias maçônicas do Primeiro reinado (1822-1831), objetos do cotidiano e outras peças de uso privado que pertenceram a pessoas notórias nascidas no estado, como Deodoro da Fonseca (1827-1892), primeiro presidente do Brasil (1889-1891), e Floriano Peixoto (1839-1895), segundo presidente do Brasil (1891-1894), cujo governo abrange a maior parte do período da  história brasileira  conhecido como República da Espada (1889-1894). Também possui um considerável conjunto de artefatos utilizados durante a sangrenta Guerra do Paraguai (1864-1870), além de armas do contraditório período dos bandeirantes, canhões holandeses, franceses e portugueses, abriga vestígios da pré-história regional, parte de peças dos antigos engenhos de açúcar e objetos religiosos usados em antigos cultos de religiões de matriz africana

No âmbito arqueológico, o maior destaque esta na coleção rara de cerâmicas marajoaras, contando com mais de 190 peças, as quais foram cedidas por Jonas Montenegro. Cabe destacar também a Coleção Mário Marroquim, com materiais líticos do território alagoano, que muito provavelmente foram produzidos pela cultura aratu. Já na seção de etnografia, há cerca de 500 artefatos de grupos indígenas que povoaram a região, destacando-se um núcleo dedicado a religiões afro-brasileiras. Merece também ênfase a atemporal Coleção Perseverança, a qual conta com documentos referindo-se ao Quebra do Xangô. Este que foi um ínfimo massacre deliberadamente organizado por uma milícia particular de Maceió, em 1912. De modo a acrescentar também a coleção especial do Ciclo do Cangaço, com pertences de Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião (1898-1938), e de sua companheira Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria de Déa e, após sua morte, Maria Bonita (1911-1938).

Em síntese, o Instituto abriga o mais expressivo acervo iconográfico e documental sobre a  história de Alagoas, além de conjuntos de interesse arqueológico e etnográfico, obras de arte, hemeroteca, fototeca, biblioteca e arquivo. Mantém o Museu do Instituto Histórico e Geográfico, onde grande parte do acervo se encontra exposto permanentemente. O IHGAL promove também colóquios, cursos e seminários, além de receber estudantes, pesquisadores e visitantes de inúmeros segmentos da sociedade, dissemina e fomenta inúmeras atividades culturais e científicas alusivas às questões históricas da região, do Estado de Alagoas e do Brasil, também abre suas portas para conferências e palestras ministradas por especialistas de várias áreas, e apoia exposições sobre grandes figuras de Alagoas.

Particularmente, duas seções do museu atiçaram meu fascínio, respectivamente, a seção onde se encontra a coleção rara de cerâmicas marajoaras, com suas mais de 190 peças, que foram doadas por Jonas Montenegro. E também fiquei totalmente apaixonado pela seção de etnografia, com seus cerca de 500 artefatos de grupos indígenas que povoaram a região. Afinal, entender o comportamento do homem me fascina. Na verdade, acho que o certo é dizer que gosto de conhecer o comportamento humano, pois entender de fato não é tão simples e na maioria das vezes não há lógica ou razões que expliquem nossas atitudes. O que mais me atrai nesse assunto é pensar o quanto nós criamos certezas e verdades absolutas para nossas vidas que podem não fazer o menor sentido em outra cultura. Aquilo em que acreditamos cegamente pode parecer tolo para outros povos. Não existe o óbvio, nem respostas únicas, nem certo ou errado, só existem diferentes maneiras de interpretar a vida.

Apesar de ser privado, a visitação ao IHGAL é aberta ao público, com a cobrança de uma pequena taxa de acesso para manutenção. A visitação ao acervo custa R$ 4, e a pesquisa na hemeroteca e na biblioteca custa R$ 3, podendo retornar mais uma vez gratuitamente. Já a visita para grupos de alunos de escolas públicas é gratuita, porém deve ser agendada previamente. O IHGAL fica localizado no Centro de Maceió, na Rua do Sol e funciona de segunda a sexta-feira, sempre das 8h às 12h. As visitas podem ser agendadas pelo telefone (82) 3223-7797.

Uma curiosidade, doações de peças históricas podem ser realizadas no museu que, inclusive, atualmente está montando um acervo especial em homenagem à família Paiva, notória família do município de Rio Largo.

Em suma, o protagonismo do IHGAL para o Estado de Alagoas e para o Brasil se dá pelo fato de ser uma instituição importante para preservação da identidade cultural, histórica e social de Alagoas, e tem também por objetivo o resgate, incentivo e estímulo ao engrandecimento da memória cultural do Estado Alagoano perante o país.