Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos, uma prosa atemporal

11/11/2020 14h02

No dia 30 de janeiro de 2020, realizei uma visita técnica a uma das instituições mais vetustas e importantes da cidade, a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos. A Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos está localizada na Praça Dom Pedro II, na região central de Maceió, que teve vários nomes no decorrer dos anos, como Praça do Pelourinho, Praça do Tesouro, Praça da Catedral, Praça da Assembleia. Ali se ergueu o busto do Imperador Dom Pedro II. A praça é rodeada de prédios, como a Assembleia Legislativa, o Ministério da Fazenda e a Catedral Metropolitana. Funciona de segunda-feira à sexta-feira, de 9h às 17hs. O atendimento para agendamento de visitas de grupos turísticos e turmas escolares, pode ser feito pelo número 3315-7877 (Ramal 210).

Na ocasião, participei de um tour guiado pela estagiária de biblioteconomia Carla e conheci as dependências do prédio. Inicialmente, o projeto de criação da atual Biblioteca Pública esteve sob a iniciativa do na época deputado provincial Tomaz do Bonfim Espíndola, que concretizou seu projeto precisamente no dia 26 de maio de 1865. O projeto vingou de fato em 26 de junho de 1865, quando o então presidente da Província de Alagoas, o Desembargador João Batista Gonçalves criou oficialmente a Biblioteca. Contudo, foi apenas no dia 26 de outubro de 1941, 76 anos depois que ela foi finalmente incorporada através do Decreto Lei Estadual Nº 2.702 ao Estado de Alagoas.

O palacete onde funciona a atual ‘‘Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos’’, pertenceu entre os anos de 1844 a 1849, a José Antonio de Mendonça, o notório e afamado ‘‘Barão de Jaraguá’’(título nobiliárquico concedido pessoalmente pelo imperador em março de 1860). O palacete tem em sua notável cronologia particular um fato histórico, essa distinta residência hospedou ninguém mais, ninguém menos que a Família Imperial Brasileira, sendo mais preciso o Magnânimo (alcunha atribuída a ele) Imperador D. Pedro II (1825-1891) e sua silente esposa Imperatriz Tereza Cristina (1822-1889), apelidada de "Mãe dos Brasileiros".

O Barão era curiosamente membro presidente da Comissão da Igreja da Catedral e resolveu hospedar em sua suntuosa residência o casal imperial, o motivo da visita do imperador foi a solene inauguração da Igreja da Catedral, em 31 de dezembro de 1859. Sua Majestade Imperial, o Imperador, permaneceu durante 11 dias na então Província de Alagoas, durante esse período o palacete do Barão recebeu o status de Paço Imperial.

Cabe destacar, em 18 de novembro de 2013, através do Decreto nº 29.175 de 15 de novembro de 2013, foi publicado no Diário Oficial do Estado de Alagoas a nova denominação da instituição, passando a ter como patrono o romancista, cronista, contista, jornalista, político, militante comunista e memorialista Graciliano Ramos (1892-1953). Sendo assim, a Biblioteca Pública passou a se chamar orgulhosamente, Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos.

O local abriga um inestimável acervo literário com mais de 70 mil títulos, entre obras raras, livros bicentenários e equipamentos que estendem o acesso da comunidade maceioense ao conhecimento literário e a amplamente discutida e fomentada inclusão digital. A Biblioteca Pública Estadual está cada vez mais ampliando e fortalecendo sua rede de construção do conhecimento, além de estar cada vez mais disponibilizando para os usuários todo tipo de informação de forma direta, clara e inteligente. Os serviços fornecidos pela Biblioteca Pública baseiam-se na igualdade de acesso para todos. Seu acervo também é composto de livros, folhetos, periódicos, manuscritos, CDs, dispositivos, CD-ROM, vídeos, jornais, fitas cassetes e livros em Braille.

Peco se não mencionar que a instituição conserva um invejável acervo de toda obra publicada por seu patrono, o alagoano Graciliano Ramos, o que inclui livros como: seu romance modernista e regionalista, Vidas Secas, visto como um clássico da literatura brasileira. Tais livros, entre muitos outros que também ali se encontram Caetés, São Bernardo, Angústia, A Terra dos Meninos Pelados, Brandão Entre o Mar e o Amor, Histórias de Alexandre, Dois dedos, Infância, Histórias Incompletas, Insônia, Memórias do Cárcere, Viagem, Linhas Tortas, Viventes das Alagoas, Alexandre e outros Heróis, Cartas, O Estribo de Prata, Cartas de amor à Heloísa e Garranchos. Notoriamente, a instituição celebra a memória de Ramos da melhor forma possível, é lindo ver que ela flui também como um memorial ao escritor. Os elementos que aludem ao alagoano seguem os cômodos do térreo de forma distinta e bela, de certa forma é uma carta de amor ao tempo. Digo isso, pois os elementos arquitetônicos e históricos versam a perenidade do instante. Ou seja, é singelo observar que o palacete e Graciliano surgem como um contraponto entre a história moderna e história contemporânea de Alagoas e juntos são como um catalizador da perenidade cultural de nossa cidade e de nossa gente.

Uma curiosidade, o prédio que abriga a Biblioteca esta passando por um árduo e cuidadoso projeto de restauração. O projeto de restauração tem como base um convênio acatado entre a Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e o Governo Estadual, através da nossa Secretaria de Estado da Cultura de Alagoas (SECULT), o foco principal dessa ação conjunta é apoiar, dinamizar e concretizar ações que estão sendo desenvolvidas pela Biblioteca. O objetivo final é sem dúvidas transforma-la em um centro cultural mais atuante, acessível, moderno e independente. Infelizmente, não consegui visitar a coleção de obras raras. Seção que abriga mais de 5 mil livros de autores nacionais e internacionais, sendo os exemplares mais antigos pertencentes à coleção “Da Ásia”, escrita pelo historiador português Diogo Couto em 1778.

Além de proporcionar um espaço de leitura, estudos e reflexões a biblioteca também se faz presente no aspecto de entretenimento. Para tanto, promove encontros de discussões literárias, biblio tour, contação de histórias, cinemateca, recreação, troca de livros, exposições de autores alagoanos, recitais de poesia, encontros de cordelistas, oficinas literárias, entre outras atividades.

Em suma, a Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos é um dos espaços culturais mais relevantes da cidade de Maceió e se faz presente no cotidiano não só dos maceioenses, mas, também dos turistas que a frequentam, ainda que esporadicamente.

Cabe um comentário final, é vital e pertinente difundir a cultura da leitura, e a democratização do acesso aos livros, bem como a ampliação do número de bibliotecas em nosso país. Tendo por objetivo multiplicar, debater e mostrar à população a importância de se criar, fomentar e implantar uma política de incentivo e acesso ao livro e a leitura. Afinal, esse é um direito básico que muitas vezes negado. Nessa jornada é fundamental a participação do Ministério da Educação nesse processo, uma vez que a política local precisa estar alinhada às diretrizes do Estado e nacional.