Nos EUA, Bolsonaro nega relação com milícias e morte de Marielle
(ANSA) - O presidente Jair Bolsonaro negou que tenha qualquer ligação com milícias e com os dois ex-policiais acusados pela morte da vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em março do ano passado. A declaração foi dada em entrevista à emissora americana Fox News. "Sou ex-capitão do Exército brasileiro e muitos policiais militares do Rio de Janeiro são bons amigos meus. Por coincidência um desses supostos assassinos de Marielle morava do lado oposto da minha rua", disse Bolsonaro, referindo-se ao sargento reformado Ronnie Lessa, preso na semana passada, e o qual vive no mesmo condomínio na Barra da Tijuca que o presidente. "Eu nunca vi aquele senhor no meu condomínio", disse. "Só descobri que ele morava lá depois que as notícias se tornaram públicas", afirmou Bolsonaro. No entanto, um dos filhos de Bolsonaro, Jair Renan, de 20 anos, já teria namorado uma filha de Lessa, além do próprio presidente aparecer em fotos ao lado de milicianos. Lessa foi denunciado junto com o ex-policial Élcio Queiroz pelo assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes. A polícia não trabalha com nenhuma linha de investigação que relacione Bolsonaro ao crime, mas o assunto tem sido discutido por eleitores brasileiros nas redes sociais. "A mídia, que sempre me criticou, tenta estabelecer uma conexão direta, mas nunca vi esse senhor no meu condomínio", defendeu-se Bolsonaro na entrevista. O presidente está em viagem oficial aos Estados Unidos e concedeu entrevista à Fox News na tarde de ontem (18), na Blair House, onde está hospedado em Washington. Durante a entrevista à jornalista Shannon Breen, Bolsonaro também falou sobre a crise na Venezuela, imigração e "fake news" no Brasil. Bolsonaro confessou que admira o presidente Donald Trump - o brasileiro chegou a ganhar o apelido de "Trump dos trópicos" - e contou que concorda com a construção de um muro na fronteira com o México. "A grande maioria dos potenciais imigrantes não tem boas intenções. Eles não pretendem fazer o melhor - ou fazer o bem ao povo dos EUA", alegou Bolsonaro à Fox News, considerada um veículo de tendência política conservadora. Sobre a crise política na Venezuela, Bolsonaro afirmou que, apesar dos EUA insistirem que "todas as opções estão na mesa", inclusive uma militar, "nós [no Brasil] não podemos falar em todas as possibilidades, mas apenas o que for possível de forma diplomática". "Hoje temos nova ideologia, e queremos que a Venezuela volte à democracia", afirmou. Questionado sobre a mídia brasileira, o presidente disse que "há muita fake news circulando" e acusou os jornais de usarem declarações suas "sem contexto", apenas para critica-lo. Bolsonaro também foi perguntado sobre o polêmico vídeo que postou no Twitter sobre o carnaval, com imagens obscenas. "Acredito nos princípios, tradições e costumes da família tradicional. Sou cristão e acredito que é preciso haver respeito aos nossos costumes, nossa cultura e nossa religião", afirmou. "Se eu fosse tudo isso (misógino, racista e homofóbico), não teria sido eleito presidente. Tem muita fake news no Brasil, a população aprendeu a usar as redes sociais e não acredita mais na mídia convencional, que é dominada por esquerdistas. Não sou contra homossexuais nem mulheres. Mas quero ter minha casa em ordem e a definição de família, para mim, é a da Bíblia", disse Bolsonaro durante a entrevista. Nesta terça-feira (19), Bolsonaro terá seu primeiro encontro oficial bilateral com Donald Trump. Os dois se falaram por telefone no ano passado, após as eleições. (ANSA)