Então é Natal!
Nesses dias que antecedem o Natal, lembrei-me do saudoso tio Luiz Alberto de Barros, o ‘Tio Lula’ , ex-vereador em Palmeira dos Índios, promotor de justiça, falecido há alguns anos. Fã ardoroso das poesias matutas e do cordel, e eu como ele também - sempre nessa época me ligava de Maceió para recitar uma antiga poesia de Aldemar Paiva que sempre reproduzi na coluna Apartes por Favor no impresso TRIBUNA DO SERTÂO, o que faço também abaixo.
Nos dias de hoje em que o poder ou o ter vale mais do que a amizade ou o ser, a poesia do alagoano Aldemar Paiva é atualíssima.
Pensando bem e a propósito Cristo nasceu numa manjedoura, dentro de um estábulo e o que vemos hoje sendo praticado é totalmente contrário a mensagem dada por Jesus, onde o puro mercantilismo oriundo da hipocrisia e da ganância humana prevalece numa época em que deveríamos refletir mais pregando o bem...
E isso ocorre, infelizmente, em todas as áreas, em todos os sentidos. Como seres humanos devemos colocar em nossos corações a palavra “amor” em primeiro lugar.
“Não gosto de você papai Noel”
Não gosto de você, Papai Noel! Também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia. Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedras nessa fantasia!
Você talvez nem se recorde mais. Cresci depressa e me tornei rapaz, sem esquecer no entanto o que passou. Fiz-lhe bilhete pedindo um presente, a noite inteira eu esperei contente, chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai cansado trouxe um trenzinho velho, empoeirado, que me entregou com certa hesitação. Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você… Papai Noel mandou…” E se esquivou contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso, pensei que meu bilhete com atraso chegara às suas mãos no fim do mês. Limpei o trem, dei corda, ele partiu, deu muitas voltas, meu pai sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto só eu pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas com realidade. Meu pai chegou um dia e disse, a medo: “Onde é que está aquele seu brinquedo? Eu vou trocar por outro na cidade”.
Dei-lhe o trenzinho quase a soluçar, e como quem não quer abandonar um mimo que lhe deu quem lhe quer bem, disse medroso: “Eu só queria ele… Não quero outro brinquedo, quero aquele E por favor, não vá levar meu trem”.
Meu pai calou-se e pelo rosto veio descendo um pranto que eu ainda creio, tão puro e santo, só Jesus chorou. Bateu a porta com muito ruído, mamãe gritou, ele não deu ouvidos, saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou, Sem pai e sem brinquedos. Afinal, dos seus presentes, não há um que sobre para a riqueza do menino pobre que sonha o ano inteiro com o Natal!
Meu pobre pai doente, mal vestido, pra não me ver assim desiludido, comprou por qualquer preço uma ilusão: num gesto nobre, humano, decisivo, foi longe pra trazer-me um lenitivo, roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara. No entanto depois de grande, minha mãe, em pranto, contou que fora preso. E como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia. Foi definhando, até que Deus um dia entrou na cela e o libertou pro céu!