O país que queremos
Ao que parece o país está mudando, mas só terei fé realmente nessa transformação quando findar a Operação Lava Jato e constatar que valeu à pena o povo ir às ruas clamar pelo fim da corrupção que mata literalmente a população mais carente, faz faltar merenda nas escolas, remédios em postos de saúde e rouba bilhões dos cofres públicos. O Brasil quer ver os poderosos da República na cadeia, pagando um preço justo por seus atos criminosos. Ai sim, o povo acreditará que há Justiça.
O juiz federal Sérgio Moro gostaria que a Lava Jato chegasse ao seu fim até dezembro. Ele tem dito a interlocutores que esta é a sua ‘expectativa’. Considera que a sequência de desdobramentos da grande investigação pode provocar um desgaste até mesmo na opinião pública que, hoje, presta apoio maciço à força-tarefa da Lava Jato.
“Terminar até dezembro a parte da primeira instância é uma expectativa ou um desejo”, disse Moro a uma pessoa próxima.
Apesar das declarações de solidariedade que têm recebido nas redes sociais e em eventos dos quais participa, o juiz da Lava Jato tem dito que ficou ‘consternado’ com o que chama de ‘manifestações de raiva e intolerância’ registradas em alguns setores da sociedade.
Tais manifestações ganharam força, sobretudo depois que a Lava Jato conduziu coercitivamente o ex-presidente Lula, no dia 4 de março, para depor nos autos da Operação Aletheia – fase da Lava Jato que investiga o sítio Santa Bárbara, de Atibaia, cuja propriedade é atribuída ao ex-presidente.
A condução coercitiva do petista foi decretada por Moro que, em sua decisão, destacou que não se tratava de uma antecipação de condenação, mas apenas de uma medida necessária para a investigação.
Moro também tem insistido na linha de que a Justiça sozinha não pode ser a solução para a crise política e ética que o País atravessa. Ele acredita que chegou a hora de outras instituições, e também a sociedade, se empenharem para alcançar mudanças importantes que possam levar a um combate mais eficaz à corrupção e à redução do quadro de impunidade.
A investigação, que inicialmente mirava em quatro grupos de doleiros, desvendou um esquema complexo de corrupção, propinas e cartel de empreiteiras com o envolvimento das mais poderosas cabeças da política nacional.
Sabemos que não podemos mudar o passado, mas podemos ver na prisão aqueles que se julgavam intocáveis e imunes à Justiça. Senadores, deputados, governadores e ministros estão em uma vala comum do crime organizado e quem sabe em um futuro próximo estarão pagando por suas condutas marginais?
O país queremos não é o que vivemos há anos, mas o que poderemos ter a partir de agora, com respeito à coisa pública, probidade e dignidade.