Getúlio Vargas: 60 anos do suicídio do ex-presidente
Para quem vai ao Rio de Janeiro e gosta de política e história, não pode deixar de visitar o Palácio do Catete, hoje Museu da República. Localizado no bairro de mesmo nome, próximo a Praia do Flamengo, o museu abriga grande parte da história republicana do país, especialmente o período da República Velha, Estado Novo e do pós-guerra.
É ali que você encontra quadros pintados à óleo de artistas famosos, que retratam o Rio de Janeiro antigo e seus personagens. Lá está exposto também o uniforme de gala do Marechal Deodoro da Fonseca, o alagoano que proclamou a República e uniformes dos soldados da FEB que desbravaram a fúria nazifascista na segunda grande guerra nos campos italianos.
Nas imensas salas do Palácio, os móveis, lustres e pratarias que serviram a vários Presidentes da República permanecem intactos para a apreciação do público. As escadarias com tapetes de veludo vermelho mostram o requinte do lugar. Nas paredes afrescos variados complementam a beleza das estátuas que adornam os corredores.
Mas é no terceiro andar que está o mais emblemático dos cômodos do grande palácio carioca. Em um quarto de estilo espartano, que marca pela singeleza, uma pequena cama e defronte uma poltrona, com uma mesinha redonda e sobre ela um aparelho de telefone. Do lado um amplo banheiro de azulejos brancos, que se avizinha a uma janela que dá para a Rua Silveira Martins e parte dos jardins do Palácio.
Foi neste quarto, com um tiro no coração, que o ex-presidente Getúlio Vargas se suicidava há exatos 60 anos, no dia 24 de agosto de 1954. [gallery type="slideshow" ids="38483,38484,38485"]Nascido em São Borja, no Rio Grande do Sul em 19 de abril de 1882 Getúlio Dornelles Vargas foi um advogado e político brasileiro, líder civil da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, depondo o 13º presidente Washington Luís e impedindo a posse do presidente eleito em 1º de março de 1930, Júlio Prestes.
Foi presidente do Brasil em dois períodos. O primeiro de 15 anos ininterruptos, de 1930 até 1945, e que dividiu-se em 3 fases: de 1930 a 1934, como chefe do "Governo Provisório"; de 1934 até 1937 como presidente da república do Governo Constitucional, tendo sido eleito presidente da república pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934; e de 1937 a 1945, como presidente-ditador, enquanto durou o Estado Novo, implantado após um golpe de estado.
No segundo período, em que foi eleito por voto direto, Getúlio governou o Brasil como presidente da república, por três anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando se suicidou e entrou para a história como um mito. Getúlio era chamado pelos seus simpatizantes de "o pai dos pobres", título criado pelo seu Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP, enfatizando o fato de Getúlio ter criado muitas das leis sociais e trabalhistas brasileiras. A sua doutrina e seu estilo político foram denominados de "getulismo" ou "varguismo".
O mito e a polêmica Historiadores afirmam que Getúlio era um homem de muitas polêmicas e teve sua vida pessoal exposta por diversas vezes. Notícias sobre o seu alcoolismo e o envolvimento com suas supostas amantes eram comuns à época, em especial durante o segundo período no comando do país. Juremir Machado cita dois episódios relevantes envolvendo filhos do ex-presidente. Um deles morreu muito jovem, situação que supostamente fazia Vargas se sentir culpado por não ter lhe dedicado mais tempo e atenção; e uma filha era esquizofrênica e tida como “louca” por não ter recebido diagnóstico de forma precisa. Cansado e deprimido, Vargas cumpriu com algo que já sinalizava estar disposto a fazer em 3 de outubro de 1930, quando, na primeira nota de seu diário, escreveu que, se os seus planos para o País não dessem certo, pagaria com o preço da própria vida. “Getúlio deu sinais, pelo menos mais três vezes, de que poderia fazer isso. Hoje, se diria que ele tinha depressão. Era um homem isolado, de bom humor, muito afável, mas, ao mesmo tempo, uma ilha. Era muito sujeito às pressões e não se abria com ninguém”, define.Trecho da Carta-Testamento de Getúlio Vargas “Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia, não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.
Trecho da Carta-Despedida de Getúlio Vargas “Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte. Levo o pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia”.