Alagoas marcha para ter este ano um pleito majoritário de vingança
Em política a vingança é um prato que se come congelado. E esse prato está sendo desenhando com um colorido pintado por forças antagônicas na política alagoana que deverão surpreender muita gente nos próximos meses. Do outro lado dessas forças está uma figura enigmática – o senador Fernando Collor, que tem pressa em encontrar um parceiro na tentativa de se reeleger para mais oito anos de mandato. O parceiro ideal seria o presidente do Senado, Renan Calheiros, bem avaliado nas pesquisas, mas que mantém certa distância política com o senador petebista. Renan parece não ter engolido até hoje a trama que o levou a um uma estranha e inexplicável derrota que sofreu quando disputou o governo com o santanense Geraldo Bulhões. As pesquisas apontavam seu nome com favorito absoluto, mas as urnas foram pintadas de zebra e o vencedor foi GB. Desde o episódio dessa eleição – que nem mesmo o Ibope acreditou no resultado final, pois até a pesquisa de boca de urna que tinha feito no início da votação indicava vitória folgada para Renan –, a amizade dos hoje senadores pelo PMDB e PTB ficou estremecida e continua sendo uma espécie de Tom & Jerry na política alagoana. Não há confiança de nenhum lado. Renan foi um dos arquitetos para Collor chegar ao governo do Estado derrotando Guilherme Palmeira e depois, ao lado de PC Farias, Cleto Falcão e do jornalista Claudio Humberto Rosa e Silva, arquitetou um projeto na China que levou Collor à Presidência da República, vencendo celebridades da política nacional como o tucano Mário Covas, o petista barbudo Lula e o senhor das Diretas Já, peemedebista Ulysses Guimarães. Renan também não deve esquecer a derrota que sofreu para prefeito de Maceió na disputa com o pefelista Guilherme Palmeira, em uma das eleições mais acirradas da história de Maceió. Collor teria feito corpo mole para beneficiar Palmeira, que foi o mentor de sua entrada na política quando, na condição de governador, o nomeou prefeito de Maceió.
Outras surpresas
O democrata José Thomaz Nonô é outro que nunca engoliu Collor. Os dois não se toleravam no governo de Guilherme Palmeira. Collor prefeito biônico e Nonô secretário da Fazenda. Depois disputaram voto a voto para deputado federal, onde Collor saiu como o mais votado. Dos arqui-inimigos de Collor, Thomaz Nonô, em Alagoas, foi o último a conviver com ele. Há quase oito anos, a cicatriz voltou a abrir. Collor deu toda corda a Nonô para deixar a reeleição certa de deputado federal e disputar o Senado contra Ronaldo Lessa. E para surpresa de todos, 30 dias antes da eleição, o mesmo Collor lançou sua candidatura – surpreendendo a todos – e venceu a eleição, derrotando Lessa e Nonô. O tucano Teotônio Vilela não foi bem digerido por Collor. Em 1986, armou-se um esquema onde Teo apareceu como candidato a senador numa disputa de duas vagas. Collor queria eleger João Lyra e a outra vaga era tida como certa para o ex-governador Divaldo Suruagy. Como livre atirador apareceu ainda o irrequieto Mendonça Neto no palanque de Collor, embora sem contar com a simpatia do bloco colorido. Ele foi utilizado por força de seu slogan “A voz que não se cala”. Mas Teotonio comeu pelas beiradas e terminou ficando com a outra vaga. Teo, portanto, nunca foi o preferido de Collor, mas tinha simpatia e amizade com o deputado federal eleito Renan Calheiros. E até hoje Teo e Collor só sentam na mesma mesa por questões protocolares ou de civilização. Interiormente, porém, não existe interesse mútuo de um ajudar o outro numa eleição.
O grande embate
Como presidente da República na disputa de prefeito de Maceió entre Ronaldo Lessa, José Bernardes e Teotônio Vilela, Collor ficou com Bernardes, que foi para o segundo turno com Lessa. O então senador Teo foi para a berlinda. É assim a eterna briga dos dois, chegando em 2014 com a chance do embate político esperado, já que Collor perdeu uma disputa de governo justamente para Teo. Por fim, o tucano Rui Palmeira era garoto quando sentiu na pele a frustação do seu pai, pefelista Guilherme Palmeira, ao perder a eleição para Collor, que já tinha sido prefeito indicado por Palmeira quando foi governador biônico. O palanque que se desenha para 2014, portanto, é de uma eleição com cheiro de vingança em cima de Collor por quatro personagens de expressão na política alagoana: Renan, Teotônio, Nonô e Rui Palmeira. Os quatro podem estar juntos no mesmo palanque para sepultar a carreira de Collor. Dentro desses três meses muitas reuniões e articulações de bastidores irão acontecer. Collor tem pressa para arrematar e garantir mais oito anos de mandato. Para tanto, armou uma estrutura de comunicação bem forte com profissionais da melhor qualidade, tendo como timoneiro o jornalista Joaldo Cavalcanti, que já foi um incendiário na época em que era fiel escudeiro do socialista Ronaldo Lessa e hoje está a serviço do candidato colorido. Teremos em Alagoas, sem qualquer dúvida, uma eleição da vingança. É só aguardar pra ver.