Assembleia dos ratos

17/11/2013 11h11
Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria duma casa velha que os sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome. Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembleia para o estudo da questão.  Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos mios pelo telhado, fazendo sonetos à lua. – Acho — disse um deles — que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia e pomo-nos ao fresco a tempo. Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia.  O projeto foi aprovado com delírio. Só votou contra, um rato casmurro, que pediu a palavra e disse — Está tudo muito direito.  Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro-Fino? Silêncio geral.  Um desculpou-se por não saber dar nó.  Outro, porque não era tolo.  Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação. -

Dizer é fácil; fazer é que são elas!

Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Ed. Brasiliense:1966, 20ª edição.