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Ser Humano uma verdadeira incógnita

Desde a infância, sempre estive cercado por vasto ciclo de amizades, gente de todos os jeitos, com sonhos, medos e alegrias diferentes, que cruzaram meu caminho nos bancos escolares, calçadas da vizinhança, descobertas juvenis e vida profissional. Sempre os respeitei com sinceridade, valorizando cada um pelo que era. Mas, mesmo assim, mantive distância segura, não por frieza, mas por sabedoria.
Sabedoria, herdada de meu avô, homem de poucas palavras e muitos ensinamentos. Certa vez, sentado ao seu lado em uma tarde de silêncio, forte calor e pouco vento, com a serenidade de quem já vira o tempo passar, disse: “Meu filho, as pessoas, inclusive eu e você, são como carvão: apagado suja, aceso queima…
Naquele momento, ainda criança, talvez não tenha compreendido toda a profundidade da metáfora. Mais tarde entendi: o ser humano pode deixar marcas, mesmo sem intenção, nos contaminar com tristezas, rancores, invejas ou excessos, quando está “apagado”. E quando “aceso”, fere com suas paixões intensas, fúrias repentinas ou desejos desmedidos, fomentados por interesses pessoais.
Por isso, aprendi a me aproximar com cuidado, acolher sem absorver, conviver sem me perder, porque as poucas amizades verdadeiras não exigem fusão, mas respeito, vez que no fim das contas, até mesmo o carvão, seja apagado ou em brasa, tem seu valor, desde que saibamos onde e como.
Outro dia surgiu em minha caixa de mensagens, texto cujo teor bem poderia ser de minha lavra, não por maldade ou bondade, mas para evitar estresse, decepções e inimizades: “devemos aprender a separar quem é amigo, família, colega, quem é de conversar, é só para zoar e quem é só para cumprimentar”.
Nesse instante lembrei do conteúdo de “Sapiens, breve história da humanidade”, livro escrito por Yuval Noah Harari, recebido como presente em meu último aniversário, que embasa em quatro pilares: “fogo, agricultura, dinheiro, ciência a evolução do ser humano, explorando como este se tornou espécie dominante no planeta.
Essa é a nossa história: controlamos labaredas, cultivamos a terra, criamos o valor e explicamos o mundo. Mas talvez tenhamos esquecido de decifrar a nós mesmos, pois somos e sempre seremos, verdadeira incógnita.