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Fundamentalismo, ódio e fanatismo

01/06/2022
Fundamentalismo, ódio e fanatismo

O fundamentalismo surge do ódio, do fanatismo, da raiva, da ignorância, dos interesses econômicos. Gera frutos que brotam e se ramificam em sociedades degradadas, oprimidas, atrasadas, privadas de direitos sociais e civis, fechadas à novidade, à modernidade, à democracia e ao progresso.

O fundamentalismo tira sua seiva de sociedades enraizadas em regimes ditatoriais e despóticos, onde vigora a lei do chicote, da retaliação, da injustiça e do deus do dinheiro. O dinheiro sujo no Oriente é fruto da corrupção dos poderosos e está manchado com o sangue dos inocentes, dos fracos e dos submissos.

O fundamentalismo nos países árabes é cego e violento, representa a doença da sociedade moderna, a face sombria do Islã. As causas que deram origem ao fundamentalismo encontram-se nas condições sociais, econômicas e políticas da comunidade árabe.

Se olharmos para a situação no mundo muçulmano, percebemos que há algum tempo existe um sentimento generalizado de descontentamento entre os jovens, agravado pelas consequências de uma crise econômica global muito grave.

A sociedade árabe é composta por jovens, principalmente graduados universitários, desesperados por trabalho e moradia. Que futuro e que perspectivas os aguardam depois de tantos anos de estudo e sacrifícios por parte de suas famílias? Poderíamos responder com as palavras do Prêmio Nobel de Literatura, Nagib Mahfuz: “É natural que o homem, em momentos de crise econômica e social, retorne às suas antigas raízes em busca de refúgio, lembrando-se de uma verdade absoluta (religião) que não pode entrar em colapso com o passar do tempo como outras ideologias seculares, que agora caíram”. Nessa perspectiva, o retorno às raízes religiosas constitui um progresso, mas o lado doente desse fenômeno consiste no retorno à violência que gera o terrorismo. Devemos lembrar que este fenômeno representa uma reação à deterioração da situação política, econômica e social.

Alguns imãs, aproveitando-se da situação em que navegam jovens desesperados, semeiam em suas mentes ingênuas sentimentos de ódio e vingança contra os líderes de seus países que sucumbiram à sedução do Ocidente e se enriqueceram às custas do povo.

Esses pseudo-religiosos, em locais de oração, transmitem a crença de que o povo está destinado a apodrecer na lama e no desespero. Eles ensinam que é possível obter salvação e libertação apenas lutando contra os tiranos e contra aqueles que os ajudam econômica e militarmente. Jovens muçulmanos são instados a salvar o Islã da tirania ocidental que, após a Primeira Guerra Mundial, colonizou os países árabes, causando danos e devastação ao Oriente Médio.

Alguns muftis apontam que empresas europeias e ocidentais se apropriaram de recursos naturais, portos, assim como bancos, garantindo os filhos dos ricos em troca da educação no Ocidente. Criando assim “senhores feudais” que governavam para eles os países submetidos às suas hegemonias expansionistas.

Assim, espalha-se com veemência a ideia de que é preciso lançar “cruzadas” que atinjam americanos e europeus e os retirem do Oriente com violência. Aqueles que matam os “colonizadores” merecem o paraíso prometido por Deus no Alcorão e, no Além, terão direito a várias noivas, castelos cravejados de diamantes, servos e animais voadores, rios de leite e mel.

Alguns imãs fazem lavagem cerebral em jovens, transformando-os em bombas humanas, prontas para explodir e matar pessoas inocentes impiedosamente em mercados e metrôs, gritando: “Allah Wa Akbar, Allah Wa Akbar. Deus é Grande, Deus é Grande”. Partindo destas premissas, perguntamo-nos agora o que é preciso fazer para diminuir a expansão do fundamentalismo desacerbado?.

Mais uma vez cito as palavras do grande Nagib Mahfuz: “Nenhuma religião usa a violência e o terrorismo como ferramentas para difundir seus ditames. Não há religião que apunhale seus seguidores com uma faca para forçá-los a abraçá-la. E o Islã ocupa o primeiro lugar nesse sentido: Deus disse que não há compulsão na fé; quem quer acreditar acredita e quem não quer pode repudiar sua fé”.

Agora, mais do que nunca, os líderes árabes devem reagir com entusiasmo e determinação contra essas hordas bárbaras de assassinos sedentos de fama, que não hesitam em derramar sangue inocente.

Finalmente, não devemos cair no plano diabólico orquestrado pelos fundamentalistas, que visa criar medo, ódio, racismo e fanatismo religioso entre Oriente e Ocidente e que tende a minar os fundamentos da civilização e da democracia, bem como os princípios de convivência entre os povos. Cabe a todo o mundo e aos muçulmanos moderados reagir decisivamente contra os terroristas, para acabar com uma página negra na história da humanidade.

 

 

*Vanderlei Tenório é jornalista, bacharelando em geografia na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), membro do BrCidades e do grupo pesquisa Geografia Popular (IGDEMA/UFAL).